Guardas florestais são mortos em emboscada no Parque Virunga, conhecido santuário de vida selvagem no Congo


Todos os anos, guardas florestais do Parque Virunga, no Congo, são assassinados. No ano passado, foram três, em agosto. Esta semana, mais cinco, além do motorista que os acompanhava, todos vítimas de uma emboscada na área central da mesma reserva, onde se concentra a população mais rara de gorilas da montanha. Outro guarda ficou ferido, mas escapou.

Este foi o ataque com mais vítimas, nos últimos 20 anos, período em que 170 guardas foram mortos. Os autores? Grupos de rebeldes armados, bandidos locais e milícias “Mai Mai” de autodefesa e caçadores ilegais. Mas não só! A industria do carvão – para a qual as árvores do parque são matéria prima preciosa – também é uma grande ameaça.

Não é à toa que o programa de conservação dessa reserva – que protege uma das maiores populações do mundo de gorilas da montanha, em perigo de extinção, além de outras espécies raras – ganhou a reputação de ser o mais perigoso do mundo. São inúmeras as agências humanitárias que classificam o Congo como “à beira do abismo”.

Em nota, o diretor do parque, Emmanuel de Merode, lamentou as mortes: “Estamos profundamente tristes com a perda de nossos colegas. Virunga perdeu alguns patrulheiros extraordinariamente corajosos, que estavam profundamente comprometidos em trabalhar a serviço de suas comunidades. É inaceitável que os guardas-florestais do parque continuem pagando o preço mais alto em defesa de nossa herança comum”, reproduziu o jornal britânico The Guardian.

Quem mora ou trabalha por lá está apreensivo e relembra o período entre 1997 e 2003, no qual uma guerra civil causou a morte de 5 milhões de pessoas e registrou significativa perda de vida selvagem no Virunga, o parque mais antigo da África, fundado em 1925 por autoridades coloniais belgas. Quando o presidente extravagante e autoritário Mobutu Sese Seko assumiu o poder, em 1960, o parque foi beneficiado. Mas, após 31 anos de governo, Mobutu caiu e, com ele, a população de gorilas. Na época, os registros indicam apenas 300 indivíduos.

Em 2007, uma parceria com a Fundação Howard G. Buffet, e o apoio de doadores privados, a União Europeia e o serviço de vida selvagem do Congo, transformou a situação. Merode, que era aristocrata belga, assumiu a direção do parque e começou a fazer mudanças que incentivaram o treinamento de guardas florestais. Tudo porque, a partir dessa época, eles passaram a receber salário mensal de US$ 250, que, na região, é considerado um valor considerável. E a economia voltou a dar ares de recuperação, inclusive para a adoção de microempréstimos e projetos de energia hidrelétrica.

Em Virunga, a população atual é de mil gorilas. Outros animais – como os elefantes da floresta – também têm registrado aumentos significativos, e o turismo continua promissor. Ou, pelo menos, continuava. Até os assassinatos desta semana.

 Foto: Floschen/Flickr

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.