Greta Thunberg fala no parlamento francês, dribla os deputados conservadores e envia mensagem para jovens brasileiros

Podem protestar, podem negar, mas a jovem ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, se transformou rapidamente em um importante símbolo da luta contra as mudanças climáticas e uma voz que todos precisam ouvir. Por isso, tem discursado em encontros diferenciados e mobilizado muita gente.

Já discursou para a Comissão Europeia e obteve o compromisso de investimentos de US$ 1 trilhão para driblar o clima, esteve com o Papa Francisco, ganhou prêmio da Anistia Internacional (que doou para ONGs ambientalistas), foi eleita um dos dez jovens mais influentes do mundo (ao lado do carioca David Miranda) e esta semana (23/7) foi convidada por um grupo de políticos – entre eles membros de partidos como os verdes e o centrista En Marche, do presidente francês Emmanuel Macron – para falar na Assembléia Nacional Francesa, o parlamento daquele país. E ela não foi só como era costume nos primeiros dias em que cabulou aula e fez greve pelo clima para protestar em frente ao parlamento sueco contra a inação do governo e dos adultos, em 2018. Desde o final do ano passado, ela tem a companhia de milhões de jovens pelo mundo, culminando no movimento Fridays for Future (falamos sobre ele, aqui no site), que não está de brincadeira e já provocou a demissão da ministra do meio ambiente na Bélgica.

No encontro em Paris, na Assembleia, outros três jovens – entre 16 e 19 anos – dividiram o púlpito com ela.

Deputados conservadores – de direita e ultradireita – tentaram desqualificá-la e a seus companheiros, destacando que eles deveriam estar na escola. Se recusaram a ouvi-los e dispararam insultos. Pelas redes sociais, Greta foi duramente atacada por jornalistas e trolls (usuários que provocam pessoas envolvidas em uma discussão com comentários injustos e ignorantes).

O candidato à liderança dos republicanos, Guillaume Larrive, por exemplo, usou o Twitter para provocar seus colegas a boicotar o encontro na Assembleia. Escreveu: “Não precisamos de gurus do apocalipse“. Outros disseram que a adolescente ativista é uma “profetisa de shorts” ou a “Justin Bieber da ecologia”, e que deveria ganhar o “Prêmio Nobel do Medo” (numa alusão à sua indicação para o Prêmio Nobel da Paz). Na TV France 2, a deputada conservadora Jordan Bardella equiparou os esforços de campanha de Thunberg a uma “ditadura da emoção perpétua”.

Mas claro que nada disso intimidou os jovens, muito ao contrário. Com muita elegância e informação, eles responderam aos políticos que zombaram deles, reafirmando demandas por ações urgentes dos governos para reduzir as emissões de carbono.

Com base em estudos e dados científicoscomo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o órgão das Nações Unidas que avalia as alterações do clima e seus efeitos – Greta destacou a responsabilidade coletiva (de todos os atores sociais) e bradou: “Vocês não precisam nos ouvir, mas precisam ouvir a ciência” e convidou os legisladores franceses a se unirem contra as mudanças climáticas.

Os acordos de livre comércio entre países de diferentes continentes também foram criticados pelos jovens que os consideram nocivos para o clima. Ivy Fleur Boileau, de 17 anos, disse que esses acordos não podem estar acima das pessoas, nem do planeta. 

Às agressões, os jovens responderam que o clima não pode esperar e é urgente agir. Virgile Mouquet, de 18 anos, alfinetou os políticos usando metáforas do universo escolar

Greta ainda ressaltou que não adianta tentar transformar crianças como ela e seus amigos em “os vilões” por se atreverem a dizer “coisas desconfortáveis” sobre a mudança climática. “Apenas por citar ou agir sobre fatos científicos, recebemos quantidades inimagináveis ​​de mensagens de ódio e ameaças. Estamos sendo ridicularizados e desmentidos por parlamentares e jornalistas”. Em discurso na Conferência do Clima, na Polônia, no final do ano passado, ela já comentou sobre esse desconforto: “Políticos não vencem eleições se falarem a verdade sobre as mudanças climáticas”.

Pouco antes de finalizar seu discurso em Paris, Greta mencionou o Brasil e enviou uma mensagem para os jovens: “Há muitas coisas incríveis que podem ser feitas. Muitos jovens e crianças estão se mobilizando no Brasil. Minha mensagem para esses jovens é que precisamos nos conscientizar sobre o que está realmente acontecendo agora e quais podem ser as consequências ao manter o sistema atual. Porque apenas quando entendermos profundamente que nosso futuro está em perigo, é que todos vão reagir”.

Sim, em março deste ano, jovens brasileiros aderiram ao movimento iniciado por Greta, mas ainda são muito poucos. É preciso fortalecer essa mobilização, ainda mais com um governo como o de Bolsonaro, que nega as mudanças climáticas e acredita na terra plana.

Ao final do encontro, Greta agradeceu a presença e a atenção de quem os ouviu, mas foi irônica e pediu ações em vez de congratulações.

Agora, assista a um trecho do discurso de Greta, publicado em seu Twitter:

Foto: Reprodução de vídeo

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.