Golfinho mais ameaçado do Atlântico Sul é avistado no litoral do RJ, em área de proteção que Bolsonaro queria transformar em “nova Cancun”

Golfinho mais ameaçado do Atlântico Sul é avistado no litoral do RJ, em área de proteção que Bolsonaro queria transformar em "nova Cancun"

Há pouquíssimos dias falamos sobre as toninhas em outra matéria aqui no Conexão Planeta. Essa espécie, a Pontoporia blainvillei, é um golfinho pequeno, o menor da costa brasileira e também, o mais ameaçado de extinção no Atlântico Sul.

Coincidentemente, uma reportagem recente do jornal O Estadão revelou que uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Mamíferos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) fez um registro inédito de um grupo de toninhas nadando tranquilamente na região da Baía de Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, onde fica a Estação Ecológica de Tamoios (confira vídeo mais abaixo).

O vídeo registrado pelos pesquisadores revela que há uma população de toninhas naquela área que era até então desconhecida. E mais do que isso, é prova de que a Estação Ecológica de Tamoios, que é uma Unidade de Conservação (UC) de proteção integral, tem que ser mantida como tal, dada sua importância para a sobrevivência e preservação não apenas dessa espécie de golfinho, mas de tantas outras de vida marinha.

“Essa população é diferente. Quando a gente tem um golfinho ameaçado, uma espécie ameaçada, que tem uma população com algumas características genéticas diferentes, é mais um achado, é mais uma possibilidade de essa espécie não se extinguir”, explicou o oceanógrafo José Lailson, coordenador do Laboratório de Mamíferos, em entrevista ao Jornal Nacional.

Bolsonaro quer acabar com Estação Ecológica de Tamoios

Em maio do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que estava trabalhando pela exploração turística da região de Angra dos Reis. “O nosso estado merece ter uma Cancun. E nós poderemos tê-la. E estamos trabalhando para a região de Angra. Depende de um decreto presidencial. Porque a Estação Ecológica de Tamoios está demais. Não preserva absolutamente nada e faz de uma área rica, que pode trazer bilhões de reais, por ano, em turismo, que está parada por falta de uma visão mais objetiva, mais progressista nessa questão “, disse na época.

Localizada na Baía da Ilha Grande, nos municípios de Paraty e Angra dos Reis, ao sul do Estado do Rio de Janeiro, a Estação Ecológica de Tamoios é formada por 29 pontos geográficos, entre ilhas, ilhotas, lajes e rochedos.

Criada em 1990 para atender um dispositivo legal que determina que todas as usinas nucleares (no caso, a de Angra dos Reis) deverão ser localizadas em áreas delimitadas como estações ecológicas, graças à unidade de conservação e ao trabalho de biólogos na região, nas últimas três décadas, foi possível recuperar estoques pesqueiros na baía, em especial para espécies ameaçadas de extinção como o mero, a garoupa e o pepino-do-mar, este último alvo recente de redes internacionais de exploração e contrabando.

Além disso, a região é passagem para a migração de outros animais marinhos, como baleias, golfinhos e até, pinguins.

Estão proibidas na Estação Ecológica de Tamaios a pesca, o mergulho recreacional, a visitação pública e o fundeio (barcos ancorarem no local).

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela gestão da UC, sua efetividade pode ser comprovada pela “proteção da biodiversidade no acompanhamento dos processos de licenciamento de grandes empreendimentos, reduzindo a possibilidade de riscos de acidentes ambientais na baía da Ilha Grande; a fiscalização dos defesos e da pesca industrial, contribuindo para a gestão pesqueira na região e o monitoramento e controle de espécies exóticas invasoras, com destaque para o coral sol…

Laboratório vivo, foram realizadas mais de 80 pesquisas nos últimos 20 anos, envolvendo cerca de 30 instituições diferentes, 70 pesquisadores e centenas de estudantes, oferecendo apoio logístico como alojamento e transporte que viabiliza a produção científica”.

Todas as informações acimas foram coletadas no site do ICMBio, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Espécie em risco de extinção

A toninha habita águas costeiras, em profundidades de até 30 metros. Vive em pequenos grupos de dois a cinco indivíduos. Esses cetáceos se alimentam de peixes, cefalópodes e crustáceos.

Eles podem ser facilmente identificados pelo pequeno porte e o “focinho”, acentuadamente longo e fino, com mais de 200 dentes. Os olhos e a nadadeira dorsal são pequenos, e esta última, é retangular. O corpo tem coloração que pode variar entre tons de marrom, cinza e amarelo.

Justamente por viver perto da costa, esta espécie de golfinho fica mais ameaçada às atividades do homem, como a pesca.

Segundo a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de centenas de animais e plantas no planeta, a toninha é classificada como vulnerável e na Lista Nacional de Fauna Ameaçada, como criticamente em perigo.

*Fonte e reprodução de partes de textos do site do Instituto Biopesca

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Foto: reprodução vídeo Maqua e vídeo Estadão

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.