Quando escurece no Cerrado, ela logo dá as caras. Pequena e acinzentada é a raposa do campo, um dos sete canídeos menos estudados do mundo.
Das cinco espécies que ocorrem no Brasil é a única que só existe aqui. E mais importante: apenas no Cerrado.
As raposinhas pesam cerca de 3,5 kg. Alimentam-se basicamente de cupins, besouros, grilos, um pouco de frutos silvestres e exóticos, um roedor ou outro, serpentes, lagartos e aves.
Foi por causa dessa espécie que Frederico Gemésio Lemos se tornou biólogo. Filho dessas terras, hoje é professor da Universidade Federal de Catalão e Coordenador do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado.
“Nossa ideia é entender como a fauna de mamíferos do Cerrado está sobrevivendo nesse ambiente tão modificado. A raposa do campo está sobrevivendo em agroecossistemas, que são ecossistemas da atualidade. Uma área já agrícola, de agropecuária, mas que ainda é ocupada por fauna silvestre e flora silvestre também. E por essa fauna e flora estarem ali estão interagindo com a fauna de domésticos e conosco, que somos parte da fauna”, conta ele.
Frederico e a equipe passam dias e noites a monitorar as famílias de raposas que se distribuem pelo sul de Goiás.
Durante campanhas, alguns animais são capturados e recebem radio-colares com GPS para que os pesquisadores possam acompanhar seus hábitos e movimentos. Desde 2002 o projeto já monitorou mais de 50 raposas.
Por causa desse trabalho sabe-se que as raposinhas têm seus filhotes em pequenas tocas e não demora para que os bebês curiosos saiam para explorar os campos e as árvores retorcidas.
Animais tão ameaçados quanto sua casa. O Cerrado é um dos biomas que mais sofre risco de desaparecer no mundo.
Para ver a raposinha de perto é preciso abrir bem os olhos no cair do dia e se entregar às belezas da savana mais rica do planeta. Ela se adaptou à chegada das cidades, das lavouras. Se ainda vai sobreviver por muito tempo depende de todos nós.
“É parte do nosso patrimônio em termos de biodiversidade, está no nosso quintal, literalmente. Cuidar da vida ao nosso redor não é um dever do estado somente. É do país, do estado, do município e nosso, como humanos, apreciadores da vida“, ressalta Frederico.
“Precisamos entender o que nos cerca. Quanto mais pobre a biodiversidade à volta da gente, mais pobre é nossa vida também”.
Agora, assista ao vídeo produzido pelo fotógrafo Adriano Gambarini, com quem compartilho este blog, no qual Frederico conta sobre o projeto Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado na companhia de Fernanda Cavalcanti, também bióloga no projeto.
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Foto (destaque): Adriano Gambarini