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Fotógrafo brasileiro é selecionado para expor na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, em Portugal, que reflete sobre meio ambiente e clima

Fotógrafo brasileiro é selecionado para expor na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Portugal, que reflete sobre o meio ambiente

Texto atualizado em 18/8/2022 para incluir link de reportagem publicada em julho sobre o projeto Lanceiros Negros, que Marcio Pimenta tinha começado a fotografar quando o entrevistei
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No início deste mês, o fotógrafo Marcio Pimenta recebeu uma boa notícia vinda do outro lado do Atlântico: as duas imagens que inscreveu, no final do ano passado, no edital da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, em Portugal, foram selecionadas para a 22ª. edição do evento, que acontecerá de16 de julho a 31 de dezembro.

Este ano, o tema da mostra é We Must Take Action (Devemos agir!) e convida “os artistas a pensarem o mundo e suas emergências globais, refletindo sobre questões urgentes como o meio ambiente a sustentabilidade do planeta é o desafio que lançamos à comunidade artística e ao público em geral”, destaca seu site. 

A organização recebeu 1.164 trabalhos e apenas 74 foram escolhidos. Cada artista poderia inscrever duas obras e a análise se limitaria a elas, independente da autoria. 

As duas imagens enviadas por Marcio foram escolhidas pelo júri e ficarão expostas durante seis meses na mais antiga bienal de arte da Península Ibérica, que recebe visitantes do mundo todo. 

O timing do edital e o tema da mostra foram determinantes para que Marcio fizesse sua inscrição.

“Na verdade, a participação nesta exposição faz parte de um processo que iniciei por volta de 2020, quando comecei a abandonar o fotojornalismo em busca de uma outra linguagem. Eu queria melhorar minha fotografia e comecei a estudar o mercado de arte e a participar de alguns eventos”, conta.  “Queria dedicar mais tempo a cada trabalho, num ritmo mais lento, não imediatista”. 

O homem e a natureza

Marcio se dedica à fotografia de arte e conta histórias de impacto visual (e emocional) sobre questões humanas, socioculturais, identidade e clima, muito alinhadas com seu perfil de viajante e de explorador nato (vale destacar aqui que, no final do ano passado, ele se tornou membro do grupo mais importante de exploradores do mundo, o The Explorers Club; conto sobre isso mais adiante).

As imagens que escolheu para a Bienal fazem parte de um projeto que vem realizando desde 2018.

“Estou trabalhando em um projeto que chamei de O Homem e a Terra. Viajei por diversos países da América do Sul – Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Peru – para documentar como os seres humanos se relacionam com o meio ambiente para obter água, energia e alimentos.

“São imagens de paisagem que revelam como os humanos lidam com a terra para obter minério, fazer um pasto, produzir energia, se alimentar. Vou publicar um livro este ano com essa imagens”.

Faz parte desse projeto – e do livro – um dos registros mais tocantes para Marcio, que ele escolheu para enviar à bienal. Creio que é impossível não se emocionar diante dela.

“Foi feita com drone, no município de Sena Madureira, no Acre, durante os incêndios florestais, em 2020. E mostra uma árvore que acabara de ser cortada pelos madeireiros”. Que tristeza! Parece que foi esquartejada e agoniza.

Fotógrafo brasileiro é selecionado para expor na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Portugal, que reflete sobre o meio ambiente

Outro cenário que Marcio citou, entre os mais impactantes que presenciou durante suas expedições para esse projeto, foi a da seca no Chile. 

“A gente fala muito da seca no Brasil, sempre associada ao Nordeste, como se fosse um problema pontual, histórico, mas, na verdade, a desertificação está se tornando comum e atingindo outras partes do continente”. 

Mas não é uma foto dessa série, feita no Chile, que os visitantes vão ver na bienal de Cerveira. Marcio escolheu outra imagem, registrada em São Paulo, em 2021, que denuncia “o avanço da cidade sobre a natureza”. É impactante a violência com que as casas tomam o lugar da vegetação.

Fotógrafo brasileiro é selecionado para expor na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Portugal, que reflete sobre o meio ambiente

“Escolhi duas fotos com mensagens subjetivas, que não são óbvias, para provocar reflexão”, explica. “E este é um exemplo perfeito da diferença entre uma foto jornalística e uma foto de arte”. 

Mudanças e reflexão

Marcio pontua que passar do fotojornalismo para o mercado artístico é “uma tarefa árdua” e, por isso, a participação “na minha primeira Bienal é como uma mudança de chave, um passo muito importante na minha carreira”.

Ele conta que tem planejado mais os seus trabalhos e que, agora, realizar “dois projetos por ano é mais do que suficiente! Na verdade, eu não teria como fazer mais do que isso”. E essa dinâmica tem influenciado também seu estilo de vida. “Foi a melhor decisão que tomei!”.

Marcio também trocou suas câmeras. “Hoje, trabalho com a Leica que, como não tem foco automático nem outros recursos desnecessários, é perfeita para trabalhos mais pensados, mais pausados, mais lentos”. 

Ele sabe que essa decisão restringiu seu público, mas não se importa porque seu intuito é “convidar pessoas que queiram, de fato, debater os temas que abordo. E isso não tem a ver com nível financeiro ou cultural, mas com interesse. Quem estiver interessado vai dedicar mais tempo observando meu trabalho e refletindo, do que apenas curtir uma foto”. 

Expor na Bienal de Arte de Cerveira também tem relação estreita com esse pensamento porque leva seu trabalho para um público interessado em arte, pessoas que dedicam um tempo de seu dia para ver uma exposição, que se deixam tocar por uma imagem. Muito mais gratificante.

Esta não é a primeira vez que Marcio expõe suas fotografias, mas se reconhece ainda “engatinhando” nessa área. Em 2020, levou seu olhar para o Festival Arles Rencontres de La Photographie, na França, um dos mais renomados do mundo.

“Isso tem tudo a ver com meu perfil de explorador. Prefiro dedicar mais tempo a um projeto em campo, ficar mais em um lugar… Em geral, fico 15, 20, 30 dias. No segundo semestre vou voltar à Patagônia e ficar lá por três meses fotografando. Isso requer planejamento estratégico, apoio…”. 

Racismo, rota de Darwin e etnias indígenas 

Marcio é paulistano, mas se considera baiano porque mudou-se para Salvador com apenas dois anos e ficou lá até os 27. Tem sotaque. 

Mora em Porto Alegre, onde tem um espaço muito bem estruturado para abrigar seu trabalho: reúne estúdio – “sempre faço retratos” -, oficina de impressão e uma mini galeria de arte. 

Desde fevereiro (e até abril), Marcio desenvolve, na capital gaúcha, um projeto sobre racismo com um grupo chamado Lanceiros Negros, que resgata a Guerra dos Farrapos. O resultado renderá uma exposição e uma reportagem especial que será publicada na revista National Geographic (atualização: a reportagem foi publicada em junho e é um registro histórico importante). 

Mas, como seu principal campo de pesquisa é a Patagônia, no segundo semestre o fotógrafo volta à região para desenvolver dois projetos paralelos. “Vou refazer a rota de Charles Darwin – percorrida por ele durante três anos – e, à medida que for avançando por esse caminho, quero registrar as etnias indígenas que ainda existem por lá”. 

Alma de explorador

Marcio é um explorador nato. Antes de se tornar fotógrafo, quando ainda era economista, realizava viagens longas para pesquisar. “Passei quatro meses viajando pelo sertão da Bahia, de Sergipe e Alagoas pesquisando sobre o uso de energia solar”, conta. “E, com o tempo, a fotografia tornou-se uma ferramenta importante para que eu continuasse explorando”.

Fotógrafo brasileiro é selecionado para expor na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Portugal, que reflete sobre o meio ambiente
Foto:  Gero Hoffmann

Como comentei, acima, desde 2021 o fotógrafo faz parte de um grupo seleto de exploradores, o mais importante do mundo –The Explorers Club -, que se dedica ao avanço da pesquisa de campo, à exploração científica, à conservação dos recursos naturais e também a garantir a preservação do “instinto humano de explorar”. 

O grupo é pouco conhecido no Brasil, mas famoso nos Estados Unidos e na Europa, pois contribui muito com a ciência.

“Por isso, resolvi aplicar pra me tornar membro, passei por um processo longo e duro e, no final de novembro, fui aceito. Hoje sou o segundo membro brasileiro ativo; o primeiro é o documentarista Yuri Sanada. E minha rede já começou a aumentar na América Latina! No Chile há seis exploradores, na Argentina tem dois ou três, e a gente já está em comunicação pra trocar informações, também com cientistas”, conta Marcio, animado.

Ele foi o único latino-americano aprovado na última leva de inscrições analisadas pela organização, que inclui novos membros a cada semestre. Em abril, Marcio vai a Nova York para visitar a sede, quando terá uma ideia mais exata de sua dimensão. 

“Espero contribuir principalmente oferecendo informações sobre a Patagônia”, destaca. ”No ano passado, quando estive na região, escrevi artigo para a revista do clube. Trouxe fotos de objetos e artefatos de 10 mil anos, que poderão ser incorporadas ao acervo deles. Um pesquisador que esteja trabalhando na Patagônia vai encontrar esse material na biblioteca e aprofundar ainda mais sua pesquisa”. 

O intercâmbio de informações é uma das riquezas desse projeto, que anima qualquer explorador. Quando um membro viaja, avisa o grupo, que automaticamente o coloca em contato com outros membros que estejam na região. 

“Uma americana, que está em Ushuaia, já entrou em contato comigo porque soube que estarei na Patagônia em breve e quer tomar um café. É uma rede muito interessante. Eu gosto muito de trabalhar em cooperação”. E conta que sempre teve dificuldade com fotógrafos brasileiros, que não compartilham suas informações, ao contrário dos cientistas. 

No Brasil, em 2014, durante a grande seca, Marcio colaborou com pesquisadores liderados pelo professor Fernando Tangerino, na Ilha Solteira, em São Paulo. Em 2018, foi parceiro do Instituto Antártico Chileno: fotografou os cientistas coletando amostras para pesquisar os efeitos das mudanças climáticas

“Devo fazer uma viagem com eles à Antártida em 2023. E eles estão me ajudando na pesquisa sobre Charles Darwin. Alguns pesquisadores vão me levar aos lugares onde o naturalista esteve e também onde encontraram fósseis. Estou encantado!”.

Acompanhe Marcio em seu site e nas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter.
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Leia também:
A fúria do fogo na Amazônia: texto publicado no Dia da Amazônia de 2019, no qual destacamos imagens de quatro fotógrafos brasileiros – e suas impressões da floresta queimando -, entre eles, Marcio Pimenta;
Everyday Climate Change: as mudanças provocadas pela crise climática através das lentes de fotógrafos dos cinco continentes: Marcio Pimenta é um deles. Em julho de 2019, publicou uma imagem da floresta devastada no Acre no perfil Everyday Climate Change, no Instagram, que foi compartilhada pelo ator e ativista americano Leonardo DiCaprio. Em pouco tempo, ela teve mais de 327 mil curtidas e mais de 4 mil comentários.

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Fotos (destaque): montagem com retrato feito por  Gero Hoffmann e as fotos de Marcio Pimenta inscritas na Bienal de Arte de Cerveira

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