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Fóssil brasileiro da era dos dinossauros ajuda a esclarecer evolução da inteligência das aves

Um crânio fóssil excepcionalmente raro de uma nova espécie de ave da Era dos Dinossauros foi descoberto em região que, desde 1917, abriga a cidade de Presidente Prudente, no estado de São Paulo. Ele tem cerca de 80 milhões de anos e está sendo considerado como um ‘grande achado da paleontologia mundial‘ porque vem preencher uma grande lacuna do conhecimento sobre a evolução do cérebro das aves.

Por décadas, a falta de fósseis tridimensionais manteve obscurecidas as origens dos crânios e de cérebros distintos das aves modernas.

Descrito em 30 de outubro em artigo publicado na revista científica Nature – Cretaceous bird from Brazil informs the evolution of the avian skull and brain (Ave do Cretáceo do Brasil informa a evolução do crânio e do cérebro das aves) –, o crânio revela mudanças evolutivas que ocorreram entre o Archaeopteryx e as aves inteligentes e complexas de hoje, como corvos e papagaios.

Batizado de Navaornis hestia, este é o fóssil mais bem preservado já descoberto e, para o Museu de História Natural (MHN) do Condado de Los Angeles, se configura como o elo perdido que abre um novo capítulo na saga evolutiva dos cérebros e crânios de aves da Era dos Dinossauros. Na foto que abre este texto, o crânio de Navaornis, de 80 milhões de anos, comparado ao de uma ave moderna.

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As aves modernas são consideradas pelos estudiosos como dinossauros vivos, e, mesmo com o hiato preenchido agora por esta descoberta, pesquisas já demonstravam que milhões de anos de evolução moldaram e refinaram seus ossos para as estruturas precisas que conhecemos na atualidade.

Segundo o MHN, Navaornis revela que pelo menos uma linhagem de pássaros arcaicos alcançou crânio de formato moderno usando partes da idade dos dinossauros. E, “se o crânio da ave moderna, com suas características altamente adaptadas, já é uma maravilha da engenharia, o crânio do
Navaornis hestia alcançou o mesmo design com estruturas muito mais simples!”.

Luis Chiappe, coautor principal do estudo e sênior de pesquisa e coleções e curador do Instituto de Dinossauros do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles, explica que “a nova descoberta mostra que algumas das aves que voavam sobre as cabeças dos dinossauros já tinham uma geometria de crânio totalmente moderna há mais de 80 milhões de anos e, surpreendentemente, que conseguiram isso usando estruturas diferentes das suas contrapartes modernas”.

A espécie Navaornis hestia pertence às aves Enantiornithes – extintas e intermediárias entre o famoso Archaeopteryx e as aves modernas -, encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida.

No entanto, na maioria dos fósseis encontrados, os crânios quase nunca mantêm sua forma tridimensional. Como são pequenos e ocos, os ossos das aves precisam de condições muito especiais para fossilizar e preservar informações anatômicas importantes. 

A reconstrução do crânio e do cérebro

Para pesquisar por dentro do precioso crânio fóssil do Navaornis sem danificá-lo, a equipe internacional de pesquisadores usou tomografia computadorizada (TC). Foi assim que Guillermo Navalón, da Universidade de Cambridge, reconstruiu o crânio e o cérebro do fóssil digitalmente, num processo meticuloso que ele definiu como “quase tão demorado quanto a preparação de fósseis em laboratório”. 

“Reconstruir o crânio interno e ver como ele combinava características modernas e arcaicas com alguns traços únicos muito intrigantes que ainda não entendemos completamente foi mágico!”, declarou o pesquisador. 

“Estamos muito animados com as muitas perguntas que essa pesquisa abre”. E Navalón acredita que as respostas a tantas questões certamente virão de sítios fósseis raros, como o que produziu Navaornis, aqui, no Brasil.

Geometria moderna

Ismar de Souza Carvalho, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também coautor do estudo, conta que “os fósseis do Brasil revelam aspectos únicos da evolução da vida na Terra”. E destaca: “Navaornis fornece uma peça crítica de nova evidência de uma região geográfica que é significativamente menos amostrada (ou seja, forneceu menos amostras) do que os continentes do norte mais conhecidos”.

Escavações no Sítio Paleontológico ‘José Martin Suárez’, Presidente Prudente, Brasil
Foto: Luís Chiappe, Instituto dos Dinossauros, Museu de História Natural do Condado de Los Angeles

Para os cientistas desta pesquisa, Navaornis é apenas um entre centenas de espécimes de aves Enantiornithe preservadas tridimensionalmente e desenterradas de um leito ósseorelativamente pequeno, chamado de Pedreira de William, no sudeste do Brasil. 

Navaornis é uma homenagem ao paleontólogo amador, William Nava, que descobriu a localidade fóssil em 2004 e o crânio raro de Navaornis em 2015. Já hestiae se refere a Héstia, a deusa grega da arquitetura, escolhida para enfatizar a importância da geometria moderna do crânio arcaico da ave.

Ao Museu de História Natural, Nava declarou: “Estamos todos animados para ver como outros fósseis do local e da região maior ajudarão a preencher, ainda mais, a lacuna de conhecimento na longa evolução dos pássaros. O próximo capítulo está aí, esperando para ser escrito”.
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Foto: Stephanie Abramowicz / Dinosaur Institute / Museu de História Natural do Condado de Los Angeles

Com informações do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles

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