#ForaGarimpoForaCovid: campanha alerta para contaminação dos Yanomami por garimpeiros ilegais e pede a retirada deles de suas terras

Desde o início da pandemia de COVID-19 no Brasil, não faltam alertas médicos para o grande risco que correm os povos indígenas já que têm menos condições de adotar e manter o isolamento social. Por isso, estão entre os brasileiros mais vulneráveis aos impactos da doença e precisam de proteção e de assistência especiais. Caso contrário, farão parte de um genocídio com a chancela do governo brasileiro.

É bom lembrar que a história desse povo é marcada fortemente pela disseminação de doenças levadas por garimpeiros e outros invasores. Na época da ditadura, nos anos 70 e 80, foram abertas estradas na região e as “corridas por ouro” dizimaram 13% dos indígenas devido às doenças “dos brancos”: malária e sarampo. Muitos sao os velhos indígenas que ainda guardam a dor dessa tragédia na memória.

Garimpo do Rio Couto Magalhães, , na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020 – Foto: Chico Batata/Greenpeace

Agora, a história se repete. Os milhares de garimpeiros que nunca pararam de invadir seu extenso território, localizado nos estados de Roraima e Amazonas, são vetores de transmissão de um novo vírus, e podem causar novamente a contaminação e a morte em massa desse povo.

Garimpo do Rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020 – Foto: Chico Batata/Greenpeace

A proximidade das zonas de garimpo ilegal os coloca em alto risco todos os dias. É o que aponta estudo realizado pelo ISA – Instituto Socioambiental em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que contou com a revisão da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz.

A Terra Indígena Yanomami tem mais de 20 mil garimpeiros instalados. As invasões são históricas, mas, com a pandemia, se tornaram uma questão de saúde pública. Por isso, o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançou, hoje, uma campanha “para mobilizar a sociedade e pressionar o governo pela retirada urgente dos invasores ilegais do território“.

Garimpo do Rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020 – Foto: Chico Batata/Greenpeace

No entender dos povos Yanomami e Ye’kwana, neste momento tão delicado e grave, essa medida é imprescindível para que o povo Yanomami possa se isolar e evitar o contágio por coronavírus.

Dario Kopenawa: depois da COVID-19, mobilização e apoiadores para a campanha

“Estamos acompanhando a doença COVID-19 na nossa terra e muito tristes com as primeiras mortes dos Yanomami. Nossos xamãs estão trabalhando sem parar contra a xawara“, relata Dario Kopenawa Yanomami (foto acima), jovem liderança de seu povo e vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

Xawara” é a palavra Yanomami para as epidemias trazidas pelos brancos. “Vamos lutar e resistir. Para isso, precisamos do apoio do povo brasileiro e das pessoas do mundo todo”, completa Dario, filho de Davi Kopenawa, um dos mais conhecidos xamãs de toda a Amazônia.

Dario não está na aldeia, mas em Boa Vista, Roraima, longe de sua comunidade, para garantir a defesa de seu povo e do território. Ele contraiu COVID-19, mas já conseguiu se recuperar. Da aldeia, por meio de rituais de xamanismo, seu pai Davi e outros xamãs estão zelando por sua saúde e combatendo a xawara.

Agora, restabelecido, Dario quer “levar a voz e o pedido de socorro dos Yanomami para o mundo”. Com o intuito de aumentar o diálogo direto com as autoridades e formadores de opinião, criou um perfil no Twitter – que já tem 3.415 seguidores -, com o qual tem informado seus seguidores sobre o avanço da pandemia na Terra Yanomami e mobilizado apoiadores para a campanha. Se quiser ajudar? Faça contato com ele.

Pedido de socorro: petição, pressão e filme

Assim, a campanha #ForaGarimpoForaCovid é um pedido de socorro “contra um velho pesadelo – as invasões de garimpeiros – que, agora, está ainda mais mortífero”, como definem as lideranças desses povos, em seu manifesto. Eles exigem que o governo federal e outras autoridades mobilizem esforços para a desintrusão urgente dos garimpeiros da TIY. Caso isso não seja feito, entrarão para a História como responsáveis por milhares de mortes e pelo genocídio dos Yanomami.

E como contribuir?

Assinando a petição, cuja meta é 100 mil assinaturas e já reúne Já 74.378. Falta pouco! E também pressionando autoridades do Legislativo – como Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados e Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal -, como também Eduardo Fortunato Bim, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); Fernando Azevedo, ministro da Defesa e Forças Armadas; André Mendonça, ministro da Justiça e Segurança Pública; e o General Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

A campanha #ForaGarimpoForaCovid também leva o recado das lideranças para a sociedade por meio de um filme contundente e visceral, criado com imagens históricas das aldeias e dos Yanomami impactados por outras epidemias nos anos 70, 80 e 90. Imagens de dor e violência que se transportam para as notícias do futuro. Relatam o que poderá acontecer caso não façamos nada, já. Assista, abaixo, no final do post.

Saiba mais a respeito das invasões no território Yanomami na reportagem do ISA para o Programa Povos Indígenas do Brasil: Covid-19 pode contaminar 40% dos Yanomami cercados pelo garimpo ilegal.

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A campanha do Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana conta com o apoio da Articulação dos Povos Indigenas do Brasil (APIB), da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), do Instituto Socioambiental (ISA), da Survival International, do Greenpeace Brasil, da Conectas Direitos Humanos, da Anistia International, da Rede de Cooperação Amazônica (RCA), do Instituto Igarapé e da Fundação Rainforest Noruega.

Fotos: Reprodução do filme (destaque), Chico Batata/Greenpeace (invasões) e André Vilas-Bôas/ISA (Dario Kopenawa)

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.