Filme sobre Paul Singer é injeção de energia para nossa alma coletiva

Estamos bem no meio do festival de documentários É Tudo Verdade – que disponibiliza filmes gratuitamente de 8 a 18 de abril, e sobre o qual a Mônica Nunes, editora do Conexão Planeta, escreveu aqui por esses dias.

Nem preciso dizer que um dos filmes que aguardava ansiosamente era Paul Singer – uma utopia militante, do Ugo Giorgetti.

E ver que esse filme ficou pronto, depois de acompanhar o processo bastante colaborativo de viabilização – uma campanha de financiamento coletivo, bem do jeito que Singer apreciaria – dá um grande alento.

O trabalho é, na verdade, uma grande entrevista, espécie de autobiografia em que Paul Singer e seu pensamento dominam os espaços e nos fazem perceber um tipo de inteligência rara. Um misto de pensamento e realização, não necessariamente sempre nesta ordem.

Rever a autoanálise que ele faz de sua trajetória é muito rico. Principalmente neste momento que o Brasil atravessa. Faz bem às nossas inteligências, mas também à nossa alma coletiva.

Quem atua na área da economia solidária, ao assistir ao filme, tem uma espécie de injeção de energia. E quem não transita por essa área tem a oportunidade de conhecer esse pensador-realizador genial.

Em 2016, tive a oportunidade de estar com ele em sua casa, em São Paulo, para uma conversa um pouco difícil, dias depois que ele deixou a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) do governo federal.

Na época, um amigo querido que tínhamos em comum, Volf Steinbaum, fez os movimentos para que ele me recebesse. Mesmo abalado com a situação da saída da SENAES, Singer foi um bom anfitrião, apresentou publicações, um retrospecto da economia solidária no Brasil e também das batalhas seguintes, que incluíam a aprovação de legislações específicas.

Uma delas, na época o Projeto de Lei 4685/2021, e hoje PL 6606/2019, estabelece a Política Nacional de Economia Solidária e os empreendimentos econômicos solidários e cria o Sistema Nacional de Economia Solidária. E segue em tramitação, com emendas e substitutivos, até hoje!

Uma pequena parte dessa conversa com Singer veio parar aqui, no Conexão Planeta.

Utopia militante

A atuação de Singer na SENAES sinalizava um processo de construção de uma política pública de apoio à economia solidária. Quando nos encontramos naquela tarde, em 2016, mal tinha saído da Secretaria e já trazia consigo a avaliação que houve crescimento e fortalecimento da rede de economia solidária com toda aquela movimentação desde a criação da secretaria.

Ao mesmo tempo, contextualizava o setor no Brasil: “Mas a economia solidária já existia aqui no Brasil bem antes da criação da SENAES. Em função dos altos e baixos da economia e das idas e vidas da política, o fato é que foram criadas, em São Paulo e em diversas outras localidades do país, um bocado de cooperativas”, me disse ele.

O movimento surge no Brasil inicialmente para combater a miséria e o desemprego gerados pela crise do petróleo na década de 1970 e se estrutura em num modelo de desenvolvimento que promove inclusão social e é uma alternativa ao individualismo competitivo.

Quem me lê aqui no Conexão Planeta sabe que a economia solidária passa por altos e baixos em termos de apoio e incentivo por meio de políticas públicas no Brasil. Os últimos anos foram os piores.

Ao mesmo tempo, ela tem sido apontada como alternativa importante para superar a crise que se instalou com a pandemia da Covid-19, desde que conectada a um projeto político nacional.

A publicação Respostas das cooperativas e da economia solidária frente à crise social, econômica e sanitária da Covid-19 no Brasil, sobre a qual escrevi aqui recentemente, reúne casos de cooperativas e empreendimentos solidários de diversas regiões do país, destacando os caminhos encontrados para o enfrentamento da pandemia ao longo de 2020.

Minha sugestão: leia o livro – não só este que citei acima, disponível para download gratuito, mas procure os artigos e livros do Paul Singer – e veja o filme – disponível até o próximo dia 18 de abril nas plataformas parceiras do festival É tudo verdade.

Tudo isso nos faz imaginar um outro mundo possível, primeiro passo para a transformação. O que Singer fazia, uma utopia militante.

A seguir, compartilho também o vídeo com o debate sobre o filme, com Ugo Giorgetti e o diretor e fundador do É tudo verdade, Amir Labaki, realizado em 11/4:

Edição: Mônica Nunes

Foto: domínio público

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.