Em 2020, no Pantanal, muitas onças-pintadas sofreram queimaduras e passaram por vários procedimentos até ficarem curadas, como o Ousado, e outras nunca mais puderam voltar à natureza devido aos ferimentos, como Amanaci, mas os registros impactantes de animais mortos, queimados pelas labaredas intensas, não incluíram a espécie. Vimos jacarés, bugios, aves, mas onças, não.
Este ano, no entanto, fotos de carcaças dessa espécie tão poderosa já marcam o drama vivido pelo bioma e seus moradores neste ano, como é o caso dos filhotes da imagem que ilustra este post.
As duas oncinhas-pintadas morreram carbonizadas pelo fogo no Pantanal do Mato Grosso do Sul e a imagem viralizou na internet. É uma cena muito impactante e triste, mas que, infelizmente, não revela toda a verdade sobre o fato. É uma montagem!
Entre todos que circulam pela região e encontraram os dois animais sem vida, alguém resolveu tirar proveito da situação e adulterou a cena, retirando os animais do local onde morreram e colocando-os em uma árvore. E isso é, no mínimo, desprezível, uma falta de respeito com todos que ali vivem e com os animais, como destaca Gustavo Figueiroa, biólogo e diretor de comunicação do Instituto SOS Pantanal, que está trabalhando no combate ao fogo há alguns dias e conversou com moradores da região que viram as oncinhas no chão.
Foi dele o primeiro vídeo que assisti sobre esse acontecimento. O biólogo diz que acredita que os filhotes estavam com a mãe, que ela tentou salvá-los e talvez tenha conseguido salvar um de três e os dois ficaram pra trás e morreram.
“A gente imagina isso porque um funcionário aqui da base onde a gente está ficando, foi até o local e viu pegadas bem pequenininhas no chão, provavelmente do terceiro filhote. Isso realmente pode ter acontecido. Quando o fogo passou, a fêmea deve ter tentado tirar os filhotes do local e não conseguiu tirar todos a tempo”, explica.
Gustavo diz que conversou com pessoas que vivem nas fazendas onde ele e equipe estão sediados e contaram que viram as fotos originais, feitas exatamente no local onde as oncinhas foram encontradas, e confirma que elas estavam no chão, uma ao lado da outra. Repare que os troncos não estão carbonizados como as onças, outra evidência de que a situação foi manipulada.
“Quem tirou a foto, montou esse cenário: colocou as duas em cima da árvore pra foto ficar mais dramática. E isso é uma falta de respeito não só com os funcionários e os moradores da região que estão combatendo o fogo há semanas, incansavelmente, mas também com os próprios animais”, protesta.
“A busca doentia por cliques criou o ‘fotógrafo de natureza’ que não respeita a natureza”, define bem o biólogo, professor e consultor, José Sabino, da Natureza em Foco.
O fato de filhotes do maior felino das Américas, espécie topo da cadeia alimentar, terem morrido nessa condições já é muito grave. A foto original chamaria a atenção na internet e, certamente, viralizaria. Não era necessário criar e espalhar uma mentira em meio a uma tragédia tão grande.
Os incêndios no Pantanal já consumiram 1,3 milhão de hectares, desde o início do ano, de acordo com dados do LASA – Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em apenas 24 horas, o fogo devorou mais de 100 mil hectares, em Corumbá.
Assista ao vídeo gravado por Gustavo Figueiroa e publicado no Instagram:
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Foto (destaque): reprodução do Instagram
Isso se deve a negligência do judiciário, se os infratores são multados não pagam e tá tudo certo, enquanto tratarem o meio ambiente com esse descaso vai só piorar