Muito já falamos aqui no Conexão Planeta sobre o registro de animais albinos, uma mutação genética caracterizada pela falta total de pigmentos (melanina), que afeta a transferência e acumulação de pigmentos em algumas partes do corpo. Todavia, é a primeira vez que escrevemos sobre “semi-albinos“, como é o caso dos filhotes de baleias-francas registrados no litoral sul do país.
“Esta característica, semi-albinismo, ou albinismo parcial ou ainda, leucismo, não é uma mutação genética, mas sim uma característica genética, em que um gene recessivo que causa a coloração branca acaba predominando e fazendo com que as baleias, que normalmente são pretas, nasçam brancas, com ausência de melanina na maior parte do corpo. Não é um albinismo legítimo pois não tem os olhos vermelhos e não sofre os problemas comuns do albinismo. Baleias-francas semi-albinas geralmente são do sexo masculino (raramente pode ocorrer fêmeas)”, explica a bióloga Karina Groch, diretora de pesquisa do Projeto ProFranca/Instituto Australis*.
Ainda segundo a especialista, essa característica bastante rara tem uma chance de ocorrer em 25% dos filhote gerados pelas fêmeas que possuem esse gene recessivo.
Em 2022, o primeiro filhote semi-albino foi avistado no dia 31 de julho na praia de Itapirubá (Imbituba). E agora em setembro, um sobrevoo de monitoramento das baleias-francas foram observados outros filhotes com esta característica.
“Ainda não tive acesso à todas as fotos do sobrevoo para confirmar quantos foram, mas parece que pelo menos mais três outros filhotes semi-albinos foram avistados, sendo mais dois em Itapirubá e um na praia do Siriú, em Garopaba”, diz Karina.
Segundo a diretora do ProFranca, a média anual de semi-albinos é de um a dois indivíduos. Em 2021, dos 60 filhotes registrados no litoral de Santa Catarina, nenhum deles era branco.
“Uma questão interessante é que os filhotes recém-nascidos em geral não são possíveis de serem identificados por fotos – é preciso alguns meses de desenvolvimento para isso -, mas no caso dos semi-albinos conseguimos, justamente por causa da pigmentação preta (pontinhos e manchinhas pretas) que ocorre nestes animais, característicos desde o nascimento e que não mudam com o tempo. Isso possibilita a reavistagem posterior e por exemplo, podemos saber a idade destes filhotes se retornarem pra cá”, destaca a bióloga.
Nesta temporada de 2022, já foram vistas cerca de 230 baleias-francas no litoral catarinense. “É um número alto comparado a outros anos, na verdade é o segundo maior numero de baleias já registrado no estado – o recorde anterior havia sido em 2018, com 273. Nossa média é em torno de 100 a 120 baleias por ano”, revela.
Abaixo o vídeo feito por Ricardo Weg, na praia da Gamboa, onde aparece o mesmo filhote avistado na praia do Siriú no dia do sobrevoo:
A baleia-franca-austral no litoral brasileiro
A baleia-franca-austral pode ser encontrada em oceanos do Hemisfério Sul e durante o inverno e a primavera é avistada na costa do Brasil, especialmente em Santa Catarina. Em geral, são feitos registros de nascimentos e fêmeas cuidados de seus filhotes.
Esses cetáceos podem atingir mais de 17 metros de comprimento e 60 toneladas. As fêmeas costumam ser maiores do que os machos. O corpo é negro e arredondado, sem nadadeira dorsal e a cabeça ocupa quase um quarto do comprimento total. A boca possui uma grande curvatura, que abriga 250 pares de cerdas da barbatana.
Outra característica marcante da espécie é o som do seu borrifo, que pode ser ouvido a metros de distância e a água expelida por ela atingir até 8 metros de altura.
A temporada reprodutiva das baleias-franca vai de julho a novembro, sendo setembro o mês de maior ocorrência desses animais em águas catarinenses.
O filhote semi-albino nadando ao lado da mãe
*Criado em 2015, o Instituto Australis trabalha na manutenção das atividades de pesquisa e monitoramento das baleias-francas através do Projeto denominado ProFRANCA (Projeto Franca Austral), mantido financeiramente com patrocínio da Petrobras.
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Fotos: Talita Elbert