Estudante brasileiro conquista prêmio internacional com sistema que filtra microplásticos na água

Estudante brasileiro conquista prêmio internacional com sistema que filtra microplásticos na água

Em março deste ano, o jovem Gabriel Fernandes Mello Ferreira, de 17 anos, participou da 19ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) principal mostra nacional de projetos dessas áreas do ensino fundamental, médio e técnico no país – e foi destaque com seu projeto. Ele criou um sistema que filtra partículas de plástico da água, próprio para Estações de Tratamento de Água (ETA), sob orientação da professora Fernanda Poleza, do Colégio São José, em Itajaí, Santa Catarina.

O estado foi representado por nove projetos finalistas. Cinco conquistaram prêmios, entre eles, o de Gabriel: Desenvolvimento de um mecanismo de retenção de microplásticos em Estações de Tratamento de Água (ETAs).

Estudante brasileiro conquista prêmio internacional com sistema que filtra microplásticos na água
A professora Fernanda Poleza orientou o projeto de pesquisa de Gabriel

Foi um super reconhecimento já que a avaliação levou em conta duas características – rigor cientifico e criatividade – e também porque ele se destacou entre 345 projetos, desenvolvidos por 716 estudantes, orientados por 482 professores de 295 escolas de todos os estados e DF.

Em seguida, Gabriel inscreveu seu projeto em outra competição, criada em 1997 pelo Instituto Internacional de Águas de Estocolmo (SIWI – Stockholm International Water Institute): o Stockholm Junior Water Prize 2021 ou Jovem da Água de Estocolmo, reconhecido como uma das maiores premiações do saneamento básico do planeta, que reúne jovens inovadores entre 15 e 21 anos, de mais de 30 países.

E não é que Gabriel foi premiado novamente? O jovem concorreu com 32 estudantes de todo o mundo e  conquistou o Peoples Choice Award (votação popular) ao receber mais de 26 mil votos na categoria de melhor projeto de saneamento do mundo. Mais: é o primeiro brasileiro a ganhar esse prêmio internacional!

Seu nome e dos outros dois vencedores foi anunciado em 24 de agosto, durante transmissão ao vivo da premiação, que integrou a Semana Mundial da Água de Estocolmo. Gabriel assistiu à cerimônia online e vibrou com a premiação na companhia dos amigos da escola.

A pesquisa

Estudante brasileiro conquista prêmio internacional com sistema que filtra microplásticos na água
Gabriel na estação de tratamento de água onde testou sua invenção / Foto: Prefeitura de Itajaí

O estudante decidiu investigar os microplásticos quando escolheu sua área de atuação: o meio ambiente. Em suas pesquisas, levou um choque quando descobriu que uma pessoa pode ingerir até 121 mil partículas de microplástico por ano. À reportagem do G1 detalhou: “Em uma semana, a gente ingere a mesma quantidade de plástico usada para produzir um cartão de crédito. Em um mês, um bloquinho de Lego. Em um ano, um capacete de bombeiro”.

Ou seja, ingerimos muitos microplásticos, que causam grandes problemas de saúde, com mais um detalhe: essas pequenas partículas podem carregar metais pesados.

Com a ação do sol, do vento e da água, o plástico de qualquer origem – as malditas garrafinhas, por exemplo – vai se partindo, se fragmentando em milhares de partículas, que podem ser ingeridas por peixes e outros animais marinhos, e chegam até nós também pela água tratada.

O processo de tratamento convencional tem várias etapas que retiram as impurezas da água: decantação, filtragem, desinfecção e fluoretação. No entanto, nenhuma delas consegue reter os microplásticos.: “Diversos estudos mostram que as Estações de Tratamento de Água não conseguem reter microplásticos porque não possuem um mecanismo específico para isso”, Gabriel contou ao Ciclo Vivo.

Ao identificar esse problema, ele desenvolveu um mecanismo de retenção de microplásticos muito fácil de ser adotado por estações de tratamento porque não exige alterações estruturais. No entanto, a pandemia atravessou seu caminho: não poderia realizar os primeiros testes in loco, nas estações. Teve, então, que fazer adaptações para não interromper o desenvolvimento de sua invenção.

O estudante reduziu o tamanho do sistema para simular resultados em um aquário. A resposta não poderia ser melhor: o filtro se revelou eficiente e capturou as partículas plásticas quase que totalmente. A próxima etapa seria a instalação do filtro em uma ETA, o que foi feito em São Roque de Itajaí, na estação que atende 70% de Itajaí e de Navegantes, como comentei acima.

Sobre a eficácia do sistema, ele comentou: Os microplásticos são menos densos que a água e, por isso, o mecanismo de filtragem retém apenas a parte superficial da lâmina d’água. O filtro utiliza um skimmer que, através de canos, direciona a água para um cilindro plástico com fundo de malha de nylon de abertura de 300µ. Este copo coletor é o elemento filtrante, onde a água passa e o microplástico fica retido na malha”.

Inspiração

A prefeitura de Itajaí gostou tanto da eficiência do filtro de Gabriel, que vai adotá-lo em uma das estações de tratamento da cidade. Ao G1, o diretor de saneamento do Serviço Municipal de Água, Saneamento Básico e Infraestrutura (Semasa), Victo Silvestre, falou sobre as benesses do sistema inovador:

“Todo o material sólido que é retido numa estação de tratamento de água vira o que a gente chama de lodo. Então, reter esses materiais plásticos já no início do processo permite que a gente não tenha esse microplástico no lodo. E ele também vai permitir que a gente consiga mensurar a quantidade de microplástico que efetivamente está entrando na estação de tratamento de água”.

Muito engenhoso, o Gabriel. Sua invenção ainda vai ser patenteada – por isso ele não revela muitos detalhes de sua invenção – e deve ajudar a impulsionar o futuro do jovem cientista. A gente só pode parabeniza-lo e se orgulhar por representar tão bem o país numa premiação tão importante.

Para Fernanda Poleza, sua professora, ele é uma grande inspiração: “Com certeza, os jovens que viram o Gabriel agora, vão sentir despertar alguma coisinha, uma sementinha foi plantada neles também”. E completou: “Podemos sair um pouco do Tik tok, do Instagram e fazer coisas boas pelo mundo”.

Fotos: Álbum pessoal

Fontes: Febrace, SIWI, G1, Ciclo Vivo

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.