Espécie de crustáceo é descoberta nas profundezas do Oceano Pacífico e recebe nome ‘inspirado’ por plástico encontrado em seu corpo

Eurythenes plasticus. Este é o nome cientifico com o qual a nova espécie de antífode, encontrada a 6.900 metros de profundidade na Fossa das Marianas, foi batizada por pesquisadores da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, que fazem parte de uma missão de investigação na região. Essas fossas ficam a leste das Ilhas Marianas entre placas tectônicas, no Oceano Pacífico, e têm abismos profundos de até 11 mil metros.

O crustáceo recebeu esse nome sui generis como alerta dos cientistas para o mundo já que, dentro dele, foi encontrado resíduo de PET (polietileno tereftalato), substância compõem as garrafas de água e as fibras de muitos tecidos usados em roupas. “Decidimos nomeá-lo assim, pois queríamos destacar o fato de que precisamos tomar medidas imediatas para impedir o dilúvio de resíduos plásticos nos oceanos”, explicou Alan Jamieson, chefe da missão e da universidade britânica, em comunicado.

No mesmo texto, o WWF – World Wide Fund for Nature, que acompanha os cientistas nessa expedição, destacou que “como a maior parte do lixo plástico não pode ser reciclada, acaba por ser queimada ou despejada em aterros, chegando aos rios e oceanos. Espalha-se pelas águas e decompõe-se em microplásticos e nanoplásticos e, com estas dimensões minúsculas, torna-se facilmente ingerido pelos organismos marinhos”.

Não é a primeira vez que esse grupo de cientistas alerta para a presença de resíduos de toda espécie nessa região profunda.

Em fevereiro de 2017, eles denunciaram que crustáceos daquela fossa apresentavam altíssimos níveis de contaminação química. Em novembro do mesmo ano, contaram que 100% dos organismos vivos coletados ali tinham ingerido fibras artificiais e plástico, chamando a atenção para o fato de que, certamente, “não há mais nenhum ecossistema marinho que não esteja impactado por detritos produzidos pelo ser humano”. E, em abril de 2018, contaram que uma sacola plástica fora encontrada a 10.898 metros de profundidade.

Agora, voltamos à Fossa das Marianas para contar do batismo do novo crustáceo como forma de alerta, anunciado pela revista científica Zootaxa.

Partícula de plástico encontrada em exemplar da espécie Eurythenes plasticus

Com uma ressalva importante feita por Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP/WWF – Associação Natureza Portugal/World Wide Fund for Nature: nem todos os indivíduos da espécie Eurythenes plasticus foram encontrados com plástico. “Ainda há esperança de que muitos mais espécimes de E. plasticus estejam isentos de plástico. Mas que seu nome sirva apenas de lembrança da extensão da poluição marinha por plásticos no mundo”.

Complementando a narrativa de Grilo, o diretor do programa marinho do WWF alemão, Heike Vesper, diz que esta nova espécie nos chama a atenção para as consequências tão abrangentes da utilização excessiva e a fraca gestão dos plásticos. “Existem espécies que vivem nos lugares mais profundos e remotos da Terra que já ingeriram plástico antes mesmo de serem conhecidas pela humanidade”.

Uma delas é o E. plasticus, que tornou-se um dos símbolos da crise da poluição plástica nos oceanos.

Foto: Divulgação ANP/WWF

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.