– Filho, hora de desligar a luz para dormir!
– Mãe, só mais dez minutos, estou acabando o capítulo do livro.
– Filho, fecha a revistinha para a gente atravessar a rua!
– Mãe, já estou na página 32 do livro que estou escrevendo!
Os diálogos acima são constantes na minha vida. Tenho dois meninos em casa. Um tem 11 anos e outro está com 9. Nossas estantes estão abarrotadas com livros e revistinhas. Tive que dar brinquedos para ter mais espaço nas prateleiras para guardar tudo. Há três meses mudamos para uma nova cidade, e André Luiz, o mais novo, não sossegou enquanto não paramos na biblioteca pública para nos registramos e pegar o primeiro livro ali.
Sei que meus filhos vivem em um ambiente diferente de outras milhares de crianças brasileiras. Em nossa casa, a leitura foi estimulada desde que eles eram muito pequenos. Sou jornalista e meu marido adora ler. Sempre incentivamos os meninos a gostar de histórias. A saborear cada palavra, aguardar ansiosamente o próximo capítulo.
Como moramos no exterior durante quatro anos, João Eduardo, o mais velho, foi alfabetizado em inglês. Mas aprendeu a ler português com a Turma da Mônica, do Maurício de Souza. Sozinho. Falava a língua em casa, mas foi autodidata na leitura. Tinha seu personagem predileto: Cebolinha, lógico. Lembro dele rindo, se divertindo, nos contando sobre os planos infalíveis do menino contra sua inimiga número 1, a dentuça do vestido vermelho.
Saber que João e André estão viajando em meio ao mundo da imaginação nos deixa imensamente felizes. Muitas vezes, passo pela sala e vejo um deles, de ponta cabeça no sofá, com o livro na mão. Por vezes, na hora do jantar, tentam esconder o livro disfarçadamente ao lado do prato porque a ansiedade é grande demais para saber o que acontece na página seguinte.
A leitura é um convite para adentrar um universo único. Lugar este em que o autor nos conta uma história, mas nos deixa participar dela. Somos nós que damos forma, cores e sentimentos aos personagens. Imaginamos como são as montanhas, o cheiro do bolo e a sensação perante o desconhecido.
Se você gosta de ler, sabe do que estou falando. Quantas vezes após terminar a última página de um livro, você já não se pegou chorando? Ou com aquele sentimento de estar órfão porque a história acabou e você não poderá mais fazer parte dela?
Privilegiadas são as crianças que desde cedo têm a oportunidade de ter acesso a livros, histórias, contos e poesias. Que viajam por seus personagens e sem perceber, conhecem novos países, culturas e tradições. Que enriquecem seu vocabulário e ganham uma visão de mundo mais tolerante.
Hoje, 18 de abril, é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil, uma homenagem ao dia do nascimento de Monteiro Lobato, um dos maiores escritores da literatura infanto-juvenil do Brasil. São deles as fantásticas histórias do Sítio do Picapau Amarelo, onde viviam personagens memoráveis como Visconde de Sabugosa, Emília, Saci-Pererê, Cuca, Tia Anastácia e Dona Benta.
Além de Monteiro Lobato, outros diversos autores brasileiros têm obras divertidas e – educativas – para a garotada: Ana Clara Machado, Ziraldo, Ruth Rocha, Tatiana Belinky, entre muitos.
Por isso, que tal hoje – e todas as noites a partir de agora – reservar alguns minutinhos para ler com seu filho? Pode ser também um sobrinho, o afilhado, a criança na rua, no orfanato ou hospital. Junte-se a ela neste voo mágico, por outros reinos e mundos, por cores e aromas, por palavras que se ligam formando frases e histórias inesquecíveis, que este pequeno ser ao seu lado levará com ele para o resto da vida.
O início desta jornada é simples, pois bastam apenas três palavrinhas para começar: Era uma vez …
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