Os golfinhos rotadores são uma das principais atrações em Fernando de Noronha. Com seus saltos no ar, em que giram o corpo, encantam turistas. Mas há poucos dias um incidente acontecido na ilha foi compartilhado pela equipe do Projeto Golfinho Rotador e soa como mais um alerta sobre o modelo de turismo no local, que vale lembrar, é um Parque Nacional Marinho, criado justamente com a finalidade de preservar inúmeras espécies de animais.
No vídeo, que foi enviado de forma anônima para o time do projeto, aparecem três grupos de turistas em canoas havaianas remando e bem próximo a eles vários golfinhos. De repente, os animais começam a rodopiar no ar e um deles bate na canoa e em cima de uma pessoa, que cai na água. Rapidamente ela é socorrida e colocada de volta na embarcação.
Os biólogos acreditam que o golfinho deva ter ficado machucado. E explicam que o grupo de animais deve ter se sentido encurralado pelas canoas.
“O salto dos rotadores é uma das formas de se comunicarem, e as rotações intensas como esta estão associadas a chamar os demais golfinhos para saírem rápido da área. Como um alerta de perigo ou molestamento. Sim, eles não saltam para a gente ver ou porque estão alegres. Essa cena que recebemos anonimamente nos deixou muito triste. Ela mostra que já é real o que viemos alertando há anos. A forma do turismo em Fernando de Noronha precisa mudar”, escreveu o Projeto Golfinho Rotador.
Os especialistas ressaltam que não são contra o ecoturismo, mas regras precisam ser seguidas.
“Os golfinhos desenvolvem atividades fundamentais para sua vida na Baía de Santo Antônio, onde fica o porto e de onde saem todas as embarcações da ilha. Para que as atividades humanas e as dos animais não sejam afetadas, existem normas que precisam ser seguidas. A canoa havaiana é uma atividade turística com grande potencial de ajudar na sensibilização dos turistas, mas o crescimento descontrolado da quantidade delas em Fernando de Noronha foi demais”, denunciam.
De acordo com o Projeto Golfinho Rotador, recentemente foram estabelecidas normas de tráfego, dentre elas, que no máximo duas canoas se aproximem, por vez, a grupo de golfinhos. No vídeo aparecem três.
Pressão do governo federal para aumentar o turismo em Noronha
O modelo turístico adotado em Fernando de Noronha já vem sendo questionado há alguns anos. Apesar do plano de manejo da ilha prever a entrada de cerca de 89 mil turistas por ano, em 2019, estimativas apontaram que mais de 100 mil pessoas estiveram ali, um recorde (em 2020 houve uma queda devido à pandemia).
Mas desde que assumiu a presidência, o presidente Jair Bolsonaro tem expressado sua vontade de “incrementar” o turismo no local, assim como seus ministros.
Há pouco mais de dois anos, Bolsonaro falou que queria acabar com a taxa ambiental cobrada no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, a qual chamou de “um roubo” – o dinheiro é revertido em serviços prestados aos turistas e essenciais para a preservação da vida marinha existente no arquipélago.
Em 2020, o senador Flávio Bolsonaro, acompanhado do presidente da Embratur, Gilson Machado, afirmou que estava trabalhando para liberar, novamente, a operação de cruzeiros marítimos na região. Entretanto, logo após, o governo de Pernambuco disse que a proposta federal “não respeitava a natureza”. No mesmo ano, o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles anunciou a minuta de um “termo de compromisso” que liberava a pesca da sardinha em Noronha (leia mais aqui).
E não é apenas o governo que sonha com a “flexibilização” das normas de proteção ambiental na ilha. Vários empresários gostariam também de lucrar mais com o turismo local. Biólogos já questionaram, por várias vezes a realização de mega eventos, como festas de Reveillon, e seu impacto sobre a vida marinha.
Há poucos dias escrevi ainda sobre outra polêmica envolvendo Fernando de Noronha. Após o ataque de um tubarão na Praia de Sueste a uma menina de 8 anos, que infelizmente teve a perna amputada, o agora ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, acompanhado do presidente do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), Marcos Castro Simanovic, informaram que governo estuda a colocação de telas de contenção para evitar a aproximação de tubarões e assim, garantir a segurança dos banhistas.
Todavia, alguns biólogos ressaltam que o ideal seria fechar a praia definitivamente e priorizar a vida marinha, afinal Noronha é um parque marinho. Para saber a opinião de especialistas contra e a favor da solução, confira esta outra reportagem.
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Foto: reprodução vídeo
Humanos são perigosos para os animais, mesmo quando não usam rifles, arpoes ou flechas porque o fato de serem a espécie predadora no habitat de espécies pacíficas, já as incompatibiliza, desequilibra e desajusta a rotina delas e conseguem machucar, assustar, amedrontar e ferir, mesmo sorrindo.