Em Pernambuco, a ‘Acreditar’ ajuda pessoas a empreender e permanecer em suas comunidades

Banco comunitário é um mecanismo incrível para disponibilizar crédito aos moradores de um território, dinamizar a economia local e impulsionar a geração de renda. A Rede Brasileira de Bancos Comunitários conta hoje 113 instituições, localizadas em 20 estados: Pará, Acre, Amapá, Roraima, Amazonas, Bahia, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O primeiro deles, o Banco Palmas, nasceu em 1998, em Fortaleza/Ceará. E é lá que acontece, nos dias 4, 5 e 6 de setembro, o Encontro Global de Bancos Solidários de Desenvolvimento. E esta é uma oportunidade para troca de experiências e potencialização de iniciativas.

Embora a tecnologia social desses bancos seja semelhante e inspirada pelos mesmos princípios, as peculiaridades, visto que eles se espalham pelas cinco regiões do Brasil, são em grande número, e soluções de um território podem inspirar outro.

Se os bancos convencionais muitas vezes ignoram essas comunidades, ou mesmo os pequenos negócios das periferias, na hora de conceder empréstimos, com burocracias crescentes, o movimento oposto é o que guia os bancos comunitários.

Modelos diversificados de administração desses bancos se somam ao universo dos financiamentos comunitários, ampliando ainda mais as possibilidades. É o caso, por exemplo, da associação sem fins lucrativos Acreditar, que amplia mecanismos para que empreendedores locais gerem riqueza e permaneçam na região nordestina por meio de seus próprios negócios. Para isso, desenvolve os programas de Microcrédito Produtivo e Orientado e de Educação Empreendedora.

A Acreditar atua em sete municípios do Agreste e da Zona da Mata pernambucana: Feira Nova, Lagoa do Itaenga, Chã de Alegria, Glória do Goitá, Vitória de Santo Antão, Gravatá e Pombos. São três linhas de microcrédito: Fundo de Fortalecimento a Atividades Produtivas (voltada a empreendimentos de pessoas adultas, a partir de 32 anos, nos segmentos de comércio, serviço produção e agropecuária), Fundo Jovem Empreendedor (busca incentivar e fortalecer empreendimentos de jovens de até 32 anos, de baixa renda) e o fundo As Marias (linha de ação criada para atender mulheres com ideias de negócios ou com negócios já constituídos).

Além disso, a organização promove cursos em educação financeira visando estimular o uso responsável dos recursos e presta assessoria para formalização do microempreendedor e em microfinanças.

“Em 2001, com jovens, a gente descobriu o empreendedorismo, e que ele poderia mudar nossas vidas ao proporcionar que a gente ficasse lá [naquela região do Nordeste] e não tivesse que vir pra São Paulo. Então decidimos criar nosso banco. Havia um estigma muito grande de que quem não estuda tem que trabalhar com a agricultura, como se fosse algo ruim. Mas a gente acredita que a agricultura é o futuro, e queremos envolver os jovens nesse futuro, mudar essa visão. A gente trabalha hoje com linhas específicas de crédito para jovens, mulheres, temos um programa de educação financeira e já impactamos a vida de mais de nove mil pessoas”, diz Lilian Prado, diretora executiva e fundadora da Acreditar.

Em 2016, com apoio da Womanity Foundation, a organização iniciou um trabalho de avaliação de impacto, para ter a percepção dos resultados desses anos de trabalho. Das pessoas atendidas pela Acreditar, 69% representam o público feminino, 40% são jovens de 18 a 32 anos e 32% são novos negócios. As pessoas que acessam os programas aumentam sua renda em cerca de 40%.

“O microempreendedorismo tem essa coisa transformadora, que cria oportunidade de gerar trabalho localmente, descentralizar a renda e tornar os mercados locais mais dinâmicos, criativos e inclusivos. É um contexto que cria oportunidade para que as pessoas não deixem suas comunidades, promove empoderamento e engajamento, principalmente entre as mulheres”, aponta Lilian. “A gente tem que estimular um movimento de colaboração local. Hoje o empreendedor que trabalha com agricultura lá na região se organiza, se une a mais dez, para vender uma quantidade maior para uma rede grande. O meio rural parece que já está entendendo isso. Temos que trazer para o meio urbano”.

Hoje, a Acreditar funciona como mais do que um banco comunitário. Ela oferece cursos para ajudar na administração e gerenciamento dos recursos. Empreendedorismo e economia solidária eram duas expressões que mal se esbarravam até um tempo. Porque a primeira estava ligada a uma lógica muito individualista, enquanto a segunda a um modo de atuar mais coletivo, em redes. No entanto, cada vez mais esses universos se cruzam. Porque é possível empreender coletivamente, em rede, e potencializar os resultados.

Foto: Divulgação/Acreditar

Deixe uma resposta

Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.