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Em expedição, pesquisadores se deparam com espécies de peixes nunca antes registradas em Fernando de Noronha

Em expedição, pesquisadores se deparam com espécies de peixes nunca antes registradas em Fernando de Noronha

Fernando de Noronha é um dos mais belos e procurados destinos turísticos do Brasil. Composto por 21 ilhas e ilhotas, o arquipélago foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Por ser um local importantíssimo para a conservação marinha – diversas espécies ameaçadas de extinção vivem ali -, o arquipélago é protegido por duas Unidades de Conservação (UCs) Federais: o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha-Rocas-São Pedro e São Paulo.

Para conhecer mais sobre a vida marinha local, em 2019, um grupo de cerca de quinze pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), juntamente com cientistas da Academia de Ciência da Califórnia e outras instituições brasileiras, participaram de uma expedição nas águas mais profundas da região, muito pouco estudadas até então.

“Noronha era uma ilha onde conhecíamos ainda muito pouco sobre os peixes da zona mesofótica, que é aquela faixa de profundidade entre 30 e 150 metros”, conta o oceanógrafo Caio Pimentel, pesquisador da UFES, e um dos integrantes da expedição. “Nosso principal objetivo foi realizar um grande levantamento sobre a biodiversidade de peixes desses ecossistemas”.

Durante as duas semanas de mergulhos e pesquisas, que contaram também com o auxílio de vídeos subaquáticos remotos com isca e veículo operado remotamente, o grupo fez várias descobertas. Foram registradas 19 espécies de peixes até então nunca observadas no arquipélago. “Desse total, quatro delas são prováveis novas espécies, que ainda não foram descritas pela ciência, entre elas, o peixe-afrodite“, conta Pimentel.

Em expedição, pesquisadores se deparam com espécies de peixes nunca antes registradas em Fernando de Noronha

Venenosos, os peixes-pedra se camuflam em corais para se esconder e também, atacar suas presas

De acordo com o oceanógrafo, esse peixe-afrodite (Tosanoides sp.) só havia sido registrado antes no Oceano Atlântico no arquipélago de São Pedro e São Paulo. “Mas esse encontrado agora tem uma coloração diferente, o que sugere ser provavelmente uma espécie nova. Porém, só vamos conseguir bater esse martelo quando terminarmos de fazer todas as análises genéticas, morfológicas, ou seja, a descrição da espécie propriamente dita”.

As outras descobertas de possíveis novas espécies foram de um peixe gobídeo (Psilotris sp.), um peixe-pedra (Scorpaena sp.) e um peixe-lagarto (Synodus sp.). Em geral, o processo de descrição de uma nova espécie, que é bastante detalhado e trabalhoso, leva, no mínimo, um ano.

Todavia, três dessas possíveis novas espécies foram registradas apenas por fotografia, mas como elas não foram coletadas, só no futuro, em uma novo trabalho de campo, é que poderá se ter certeza então se são novas ou não, já para que se tenha a confirmação é preciso a análise genética desses indivíduos.

Em expedição, pesquisadores se deparam com espécies de peixes nunca antes registradas em Fernando de Noronha

O peixe-lagarto tem cerca de 15 cm de comprimento

Tecnologia a serviço da pesquisa

Uma das ferramentas utilizadas pelos pesquisadores da expedição foi o BRUV, sigla em inglês para Baited Remote Underwater Video, ou seja, vídeos remotos subaquáticos com iscas. Nesse sistema de filmagem, criado na Austrália, há uma gaiola com duas câmeras, e uma barra na frente em que se coloca uma isca para atrair os peixes, a cerca de 1 a 1,5 metro das lentes.

“Como o sistema tem duas câmeras, conseguimos sobrepor as duas imagens e assim tirar uma série de medidas tridimensionais dos peixes. É uma técnica relativamente nova no Brasil, mas que vem ganhando espaço em estudos de peixes e ambientes marinhos ao longo do mundo”, explica Caio Pimentel.

Ele destaca que o BRUV facilita o estudo em águas mais profundas porque além de permitir filmagens mais longas, atrai muito mais predadores para perto das câmeras.

Registro de um dos mergulhos feitos durante a expedição

A conservação de Fernando de Noronha

As descobertas da expedição reforçam ainda mais a necessidade de se conhecer melhor o ecossistema da Ilha de Fernando de Noronha e todo seu entorno, para assim, poder protegê-lo. Como a pesquisa acaba de demonstrar, ainda há muitas espécies desconhecidas na região.

“Mas infelizmente, nos deparamos com poluição também, como linhas de pesca e plástico”, alerta o oceanógrafo. “Às vezes já estamos até extinguindo alguma espécie que nem chegamos a conhecer”.

De acordo com ele, esses ambientes profundos, por exemplo, possuem formas de vida exclusivas e endêmicas, e que talvez não ocorram em nenhum outro lugar do mundo.

Um receio dos cientistas é sobre a possível ampliação do turismo em Noronha, algo que o atual governo federal vem fazendo pressão para que aconteça.

“Já há muita gente na ilha, muitas embarcações, muitas pessoas mergulhando o tempo inteiro e isso causa um impacto na fauna e na flora. O aumento ainda maior da circulação de turistas irá gerar um aumento também de despejo de esgoto, poluição de óleo das embarcações, da pesca… Isso tudo tem que ser levado em consideração na hora de se ampliar ou não o turismo por lá”, diz.

O grupo de pesquisadores pretende, inclusive, recomendar ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do ministério do Meio Ambiente que administra o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, a expansão da área de proteção para que essas espécies de ambientes mais profundos sejam preservadas.

O Chromis scotti é uma das 19 espécies observadas
pela primeira vez em Noronha

*As descobertas da expedição à Ilha de Fernando de Noronha foram divulgadas na revista científica Neotropical Ichthyology. Leia artigo completo aqui.

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Fotos: Luiz Rocha/Divulgação

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