Jovem é picado por naja, espécie exótica, que foi trazida ilegalmente para o Brasil

naja

*Texto atualizado em 15/07/20

Estudante de medicina veterinária, Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, de 22 anos, foi picado na terça (07/07) por uma serpente naja, espécie de cobra peçonhenta* e nativa da Ásia, que o jovem aparentemente criava.

Internado no Hospital Maria Auxiliadora, na cidade do Gama, no Distrito Federal, ele ficou em coma, em uma unidade de terapia intensiva (UTI). Segundo reportagem do jornal Correio Brasiliense, Pedro recebeu uma dose de soro antiofídico enviado pelo Instituto Butantan de São Paulo, mas “teria sofrido uma reação alérgica grave, e a administração do soro precisou ser interrompida. Só após um período de mais de seis horas em observação, a equipe médica continuou o procedimento. Ainda assim, o estudante precisou ser submetido a hemodiálise, com o intuito de remover substâncias tóxicas do sangue”. 

A naja está agora no Zoológico de Brasília

Depois da internação de Pedro, a principal preocupação das autoridades era encontrar a naja. Após buscas em diversos lugares, uma equipe do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) conseguiu achar o animal, que havia sido deixado por um amigo do estudante, dentro de uma caixa, próximo ao shopping Píer 21, no Setor de Clubes Sul da capital.

A naja foi levada para o Zoológico de Brasília e agora a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) abriram investigação para identificar a forma como a cobra chegou ao país, já que não existe nenhum registro de entrada do animal.

Em coma, jovem foi picado por naja, espécie exótica e que deve ter sido trazida ilegalmente para o Brasil

O estudante, em fotos nas redes sociais, em que compartilhava várias postagens sobre serpentes

Estoque limitado de soro no país

“A serpente encontrada com o estudante é da espécie Naja kaouthia. Ela tem como distribuição a região do sudeste asiático, em países como Índia, Bangladesh, Myanmar, Tailândia, Sul da China e Nepal. Tem em média 1,5 metro e se caracteriza pela marca em ‘O’ no pescoço. Se alimenta de anfíbios e roedores”, explica Bruno Miranda, doutorando em Ecologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em herpetologia (área que estuda répteis e anfíbios).

Segundo o biólogo, o veneno dessa espécie possui características neurotóxicas, tais como as corais-verdadeiras no Brasil, provocando inchaço e uma progressiva paralisia do sistema nervoso periférico, levando a paradas respiratórias e morte por asfixia.

“O grande problema de se criar uma espécie exótica peçonhenta desse tipo é a falta de soro antiofídico para lidar com acidentes. Não existe a produção do soro para essa espécie e é necessário importar o mesmo. Além disso, existe o risco de a espécie fugir, causar acidentes a outras pessoas, bem como escapar para a natureza. Apesar de pouco provável, se a espécie se estabelece no ambiente e consegue se reproduzir pode gerar um desequilíbrio ecológico”, alerta.

Segundo a polícia, uma serpente dessa espécie pode valer até R$ 20 mil no comércio ilegal de animais silvestres

Justamente por ser uma espécie que não existe no Brasil, o Instituto Butantan tinha um estoque limitado de soro antiofídico e de acordo com informações divulgadas pela impresa, a família teria importado mais ampolas do soro dos Estados Unidos.

Tráfico ilegal de animal silvestres

Nas redes sociais de Pedro Lehmkuhl havia diversas postagens sobre cobras, mas depois do acidente, elas foram apagadas.

“Não existe licença para a importação desses animais no Brasil”, diz a bióloga Juliana Machado Ferreira, diretora executiva da Freeland Brasil, organização que combate o tráfico de animais silvestres. “Infelizmente há hoje em dia uma moda entre alguns biólogos e médicos veterinários de achar que “é legal” ter esses animais e manipulá-los, o que estimula ainda mais uma rede ilícita de comércio”.

Juliana alerta também que a presença de animais exóticos pode ser um vetor para o aparecimento de novas zoonoses (doenças) na natureza.

Na tarde da quinta-feira (09/07), o Batalhão de Polícia Militar Ambiental divulgou que encontrou um criadouro ilegal de cobras, algumas de espécies exóticas, no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina. As dezesseis serpentes são provavelmente fruto de contrabando e podem ter ligação com a naja que picou o estudante de veterinária. Os animais serão entregues ao Ibama.

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O Ibama multou Pedro Lehmkuhl em R$ 2 mil por não ter autorização para criar serpente. A polícia suspeita que ele pode ser também o proprietário das demais cobras encontradas escondidas. Vários amigos do estudante já foram ouvidos pela polícia.

Acredita-que uma naja como a que picou o jovem pode custar até R$ 20 mil reais no comércio ilegal de animais silvestres.

Pedro já recebeu alta do hospital e deve ser ouvido em breve pela polícia.

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*Peçonhento é o animal que tem um aparelho inoculador de veneno, como serpentes, aranhas e escorpiões, ou seja, quando ele pica o veneno é injetado na presa. Venenoso é o ser que tem veneno, mas não inocula, como os sapos e cogumelos.

*Com informações adicionais do Jornal de Brasília e Metrópole

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Fotos: divulgação Zoológico de Brasília/Ivan Mattos (naja) internet (Pedro Krambeck)

3 comentários em “Jovem é picado por naja, espécie exótica, que foi trazida ilegalmente para o Brasil

  • 11 de julho de 2020 em 11:11 AM
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    Não bastassem todos os problemas que terraqueos estão sendo convocados a vencer ou ser vencidos por eles, este jovem ainda precisou de mais um, desnecessário e absolutamente dispensável para testar sua capacidade de lidar com desafios, ainda que arriscando a própria vida e de outros inocentes com a sua opção. Nada justifica manter um animal peçonhento em casa,
    em um país onde não existe soro específico para essa espécie, a não ser que, na condição de estudante de Medicina, estivesse empenhado em pesquisar o antídoto para a picada dele. Porém tomara saia dessa, sem sequelas, a fim de valorizar um pouco mais a sua vida e a dos outros e a cobra retorne em segurança ao seu Habitat de origem porque no Brasil já temos veneno além da conta , sem antídoto no momento até agora, haja Deus.

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  • 15 de julho de 2020 em 8:19 PM
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    Jovem sou eu, ele é um TRAFICANTE.

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  • 16 de julho de 2020 em 3:39 AM
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    Esse corno tem deixar ele preso e o outro q abandonou a cobra em um shopping center, se essa cobra foge e sai picando pessoas inocentes por aí ele tem q pagar e deixar esse idiota o resto da vida atrás das grades

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.