Em 75 países, cerca de 90% das pessoas tem preconceito contra as mulheres, revela estudo da ONU. No Brasil, também

O mundo está sexista. Foi o que revelou o estudo Combate às Normas Sociais – Um divisor de águas para as desigualdades de gênero realizado pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 75 países e territórios – ou seja, com 81% da população mundial – e divulgado ontem, 5/3.

Isso equivale a dizer que nove entre dez pessoas – não importa o sexo – têm ideias negativas a respeito da presença e da atuação da mulher na sociedade, da igualdade de gênero. E esses dados, segundo a agência, revelam “novas pistas sobre as barreiras invisíveis que as mulheres enfrentam para obter a igualdade”, mesmo depois de “décadas de progresso”, de desenvolvimento. 

Durante o lançamento do relatório, o diretor do PNUD, Achim Steiner, destacou que esse estudo “tem sido eficaz para garantir o fim das brechas na saúde ou na educação, mas agora deve evoluir para abordar algo muito mais desafiante: um viés profundamente arraigado, tanto em homens como em mulheres, contra a igualdade genuína”.

Entre os entrevistados, 88,35% disse ter, pelo menos, um tipo de preconceito em relação às mulheres, à igualdade de gênero. E isso ocorre em áreas diversas como política, educação, economia, violência doméstica e direitos reprodutivos.

Entre os homens, são 90,6%; entre as mulheres, 86,1%.

Cerca de 50% considera que os homens têm mais capacidade para serem líderes políticos e mais de 40% acredita que eles são melhores que as mulheres na direção de empresas. Pior: 28% (misturando homens e mulheres) aprova que as mulheres apanhem dos companheiros.

E há diferenças gritantes entre os países onde a análise foi realizada.

Na maioria dos africanos, latino-americanos e do Oriente Médio, o preconceito contra as mulheres é grande.

No topo da lista dos mais preconceituosos – com pelo menos um tipo – estão Paquistão (99,81%), Qatar e Nigéria (ambos com 99,73%).

Na Europa, Austrália, Canadá e Estados Unidos, o preconceito é menor.

França, Reino Unido e Estados Unidos registram 56%, 54,6% e 57,31%, respectivamente. Na Espanha, metade da população (50,5%) revela, pelo menos, um preconceito contra as mulheres. Os países com população menos sexista são Andorra (27,01%), Suécia (30,01%) e Holanda (39,75%).  

Brasil e América Latina

Por aqui, 89,5% dos entrevistados e entrevistadas identificam, ao menos, um tipo de intolerância contra mulheres, enquanto 52,39%, diz ter, pelo menos, dois tipos, levando-se em conta as áreas apontadas acima.

Brasileiros e brasileiras são mais preconceituosos em relação à integridade física da mulher, que inclui violência em casa e direitos reprodutivos: 77,95%. Para a maioria, os homens deveriam ter tratamento preferencial em mercados de trabalho competitivos. 

Por outro lado, são menos preconceituosos quando o assunto é educação. Veja este exemplo: apenas 9,32% concordam que “a universidade é mais importante para um homem do que para uma mulher”.

Equador é o país latino-americano mais sexista (93,34%), seguido por Colômbia (91,40%). O Brasil fica em terceiro lugar e, em seguida veem o Peru (87,96%) e o México (87,7%).

Argentina, Chile e Uruguai se situam entre 75,4% e 74,6%.,: apresentam percentuais parecidos com o Brasil no que tange a ter, pelo menos, um tipo de preconceito: 90%.

Na Argentina, no Chile e no Uruguai, esse percentual cai entre 75,4% e 74,6%. Não é muito animador, mas é menos pior.

Diante de dados tão desanimadores – que significam retrocessos imensuráveis –, o PNUD fez um apelo aos governos e instituições para que se esforcem em promover e incentivar a educação, com o objetivo de transformar e impedir que tanto preconceito e práticas discriminatórias continuem sendo legitimados. Ouviu, Bolsonaro? 

Fontes: ONU, estudo PNUD, DW, Agence Press

Foto: Gustave Deghilage/Flickr

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.