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Em 2017, emissões batem recorde e soterram esperança de que já havíamos atingido o “pico”. E agora?

Foi bom enquanto durou. Mas a esperança de que o mundo tivesse atingido o platô de emissões de dióxido de carbono acaba de ser ‘assassinada’. Seu algoz foi o GCP (Global Carbon Project), um grupo internacional de cientistas que monitora todos os anos quanto carbono a humanidade despeja no ar.

Nos últimos três anos – 2014, 2015 e 2016 – o GCP tem feito a publicação de seus dados nas conferências do clima, sempre com uma boa notícia: as emissões globais do setor de energia haviam aparentemente interrompido sua trajetória incansável de crescimento, mesmo com o crescimento da economia. Embora os cientistas do GCP sempre tenham tido cuidado em afirmar que não dava para dizer que isso era uma tendência, muitos formuladores de políticas públicas viam nos dados uma evidência de que a humanidade poderia ter atingido o pico de emissões – seguido de um inevitável declínio.

Só que não. Os dados preliminares de 2017, apresentados nesta segunda-feira (13/11), na COP23 (Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU), em Bonn, apontam para um crescimento de 2% nas emissões globais de CO2 até o fim do ano. Elas devem bater um novo recorde, atingindo 41 bilhões de toneladas.

O GCP não põe nessa conta outros gases de efeito estufa, como o metano. Somados, eles aumentariam as emissões globais por todos os setores significativamente. No ano passado, por exemplo, dados da ONU mostram que as emissões totais atingiram 51,9 bilhões de toneladas de CO2 equivalente.

“Isso mostra que não dá para sermos complacentes e acharmos que as emissões ficarão estáveis”, disse Glen Peters, pesquisador do CICERO, na Noruega, e um dos líderes científicos do GCP. Ele admitiu, no entanto, que os dados de 2014, 2015 e 2016 foram uma ilusão útil. “Isso trouxe um otimismo e uma esperança muito necessários à discussão climática, de acreditar que poderíamos cumprir a meta de [estabilizar o aquecimento global em menos de] 2oC”, afirmou. Esse objetivo foi consagrado no Acordo de Paris, cujo manual de instruções está sendo negociado em Bonn até o final desta semana.

A lógica dos esperançosos se baseava num suposto “desacoplamento” entre crescimento econômico e emissões. Ganhos de eficiência energética, substituição do carvão mineral e avanço das energias renováveis, em especial nos quatro maiores emissores do mundo – China, EUA, União Europeia e Índia – haviam produzido o aparente milagre de manter as emissões estáveis mesmo com um crescimento médio de 3% do PIB mundial ao longo desse período.

E isso de fato aconteceu. Nos EUA, o carvão mineral deu lugar ao gás natural; na China, várias centenas de usinas a carvão vêm sendo desativadas ou tendo sua construção cancelada, devido ao barateamento dos fósseis; e na Europa, uma combinação entre eficiência e renováveis tem reduzido emissões.

No entanto, “esse equilíbrio é muito frágil”, disse Corinne LeQueré, diretora do Tyndall Centre, da Universidade de East Anglia (Reino Unido) e uma das investigadoras principais do GCP. Em 2017, uma retomada do consumo de carvão na China e um aumento no uso de petróleo, na esteira de um pacote de estímulo econômico baixado pelo governo no fim de 2016, além de um ano seco que reduziu a geração das hidrelétricas, causaram um aumento de 3,6% nas emissões chinesas.

Mesmo com uma desaceleração nas emissões indianas, que cresceram apenas 3% (metade dos últimos anos) em 2017 e o leve declínio visto na Europa (0,2%) e nos EUA (0,4%), a China mais uma vez puxou as emissões globais para cima.

“A tendência nos próximos anos é crítica para o nível de aquecimento que veremos nas próximas décadas e os riscos a ele associados”, afirmou LeQueré.

E deu um recado para países como o Brasil, que estão mergulhando de cabeça na economia do petróleo: “Precisamos de reduções em toda a economia, não apenas no carvão, mas também no óleo e gás.”

Os dados são um balde de cerveja fria para a COP de Fiji-Bonn, que começou sob ameaça de ressurgimento da rusga política entre países ricos e pobres que contaminou as negociações climáticas por 20 anos antes do Acordo de Paris. E sinalizam que a meta do acordo do clima, mais uma vez, está balançando.

“Quando você olha para as promessas nacionais, elas implicam emissões mais ou menos estagnadas pelos próximos anos. Não estamos nem de perto no rumo de 2oC”, disse Glen Peters. “Até mesmo para assegurar emissões estagnadas precisamos reforçar as políticas públicas, e não há muita coisa acontecendo em termos de políticas públicas”, continuou. “Nos últimos anos tivemos sorte de ter o crescimento econômico compensado pelo aumento da eficiência energética e das renováveis. Mas, no rumo de 4% ao ano de crescimento, para não ter aumento correspondente de emissões, teremos de ter políticas públicas fortes”.

*Texto publicado originalmente no site do Observatório do Clima, em 13/11/2017

Foto: Schubert Ciência/OC

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Parabens pela matéria, me agregou muito

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