Educadoras lançam curso de pós-graduação online sobre conexão com a natureza: filosofias e práticas

Em outubro do ano passado, depois de um encontro com Jon Cree, diretor da associação das Escolas da Floresta do Reino Unido, em São Paulo, as educadoras Rita Mendonça e Ana Carolina Thomé e a fotógrafa e professora de filosofia Renata Stort tomaram uma decisão.

“No caminho de volta pra casa, após um final de semana incrível com Jon, sentimos que havia chegado a hora de colocarmos os anos de estudos e experiências que vínhamos compartilhando há dez anos, sempre cercados de entusiasmo e força criativa, em um curso de pós graduação“, conta Rita.

Há mais de 40 anos, Rita busca identificar e disseminar formas possíveis de conexão com a natureza, tanto “na experiencia humana, como no repertório da educação infantil”. Quando conheceu Ana Carol – que foi sua aluna no curso de pós-graduação em Educação Lúdica, há dez anos -, encontrou uma pessoa cheia de “entusiasmo e competência” e, portanto, a parceira perfeita para o desenvolvimento de projetos no Instituto Romã, que dirigia.

Foi nesse instituto que Ana Carol criou o programa Ser Criança é Natural, que desenvolve desde então e dá nome a um blog muito especial, publicado, aqui, no Conexão Planeta. Não demorou muito para que o desejo de realizar algo maior começasse a brotar.

“O desejo de realizar este curso vinha crescendo há alguns anos e tornou-se possível graças ao encontro com A Casa Tombada“, conta Rita. Essa instituição cultural, localizada em São Paulo, se encaixou perfeitamente no projeto das duas educadoras visto que entende a oralidade e a escrita como “urgências e necessidades humanas”.

Mas a pandemia da Covid-19 alterou os planos de Rita e Ana Carol, e elas precisaram dedicar mais tempo para adaptá-lo às exigências de isolamento social e às medidas de controle do contágio da doença.

O curso – que ganhou o nome de A Natureza que Somos: filosofias e práticas para uma atuação genuína no mundo (as informações para inscrição – que vai até 10/9 – estão todas neste link) – tornou-se digital, mas também inclui duas imersões presenciais (facultativas) de cinco dias, em uma área natural localizada em São Paulo, com data e local a definir.

As aulas começam em 22 de setembro e vão até março de 2022, todas as terças feiras, das 19h às 21h. E o fato de ser online torna possível uma maior diversificação do público, pois reúne pessoas de diferentes partes do país.

Em entrevista para o Conexão Planeta, Rita contou detalhes sobre o novo projeto e destacou que o objetivo dela e de Ana Carol não é o de propor um curso de especialização, mas um curso de amplificação. “Por este motivo é aberto a todas as pessoas que desejam fazer este percurso”. Dá muita vontade de estar com elas!

Rita Mendonça e Ana Carol Thomé gravando vídeo para um de seus cursos online
Foto: Palmira Petrocelli de Barros

Como se deu a aproximação com A Casa Tombada?

A Casa Tombada era um lugar que eu vinha frequentando como aluna e como professora em cursos de pós-graduação, e com muita vontade de me aproximar. E nos sentimos completamente acolhidas e apoiadas pelo Giuliano Tierno quando comentamos com ele sobre a ideia de um curso de pós sobre natureza.

Rapidamente pusemos no papel não só todos os anos de estudos e práticas como também a alegria e a poesia que essa oportunidade nos trazia. O curso estava pronto no início de janeiro, e o plano era lançá-lo em março. Mas, chegou a pandemia e desaceleramos.

Vocês já têm uma experiência digital muito interessante, anterior à pandemia. Foi fácil adaptar o curso original para online?

Depois do período de susto – em que tudo ficou suspenso -, compartilhamos com Giuliano nossa experiência de cinco anos com cursos virtuais. Mostramos que tínhamos condições de reformular a nossa pós e formata-la em 100% online.

Isso pode parecer contraditório quando se leva em conta que toda nossa dedicação e experiência tem base nas vivências e experiências diretas e concretas com a natureza.

No entanto, ao longo destes anos, desenvolvemos um jeito de trabalhar virtualmente que é muito presencial. São convites à presença, por meio dos quais propomos aos participantes que desenvolvam atividades práticas em seus locais e nos contem sobre o que consideraram importante, como foi a experiência… E seguimos, assim, com esse diálogo, até o curso acabar.

O que pretendem provocar com essa pós-graduação?

Durante os anos de convivência e de formatar aulas, dar aulas junto, desenvolvemos um jeito próprio de comunicação, em que nossas melhores qualidades podem ser expressas para que o todo se forme, para que nossos aportes se complementem.

Tem sido uma experiência extremamente rica e que será ampliada com essa rede complexa de pessoas convidadas a participar como professores, tais como lideranças indígenas, filósofos, cientistas, historiadores, artistas, escritores e psicólogos.

Com o curso, queremos criar “um tecido” em que esses saberes e práticas se manifestem de forma não linear, interpenetrando-se no decorrer do percurso.

Neste ano, temos vivido experiências extremamente dramáticas com uma pandemia que assusta a todos devido ao enorme número de mortos e à falta de assistência e de políticas que dêem um mínimo de segurança à população. Isso somado a agressões ambientais de dimensões inimagináveis com perdas incalculáveis.

Tudo é urgente, muito urgente, não resta dúvida. Tudo isso nos faz pensar como foi que chegamos a uma situação dessas! Creio que podemos provocar respostas e soluções com este curso.

Qual a importância da conexão com a natureza nesse cenário?

A proposta de um curso de filosofias e práticas de conexão com a natureza, neste momento, vem justamente oferecer algo relacionado ao que é essencial, entendendo a urgência do essencial para pensarmos num mundo possível com os pés bem enraizados no chão.

Precisamos todos saber que chão é esse em que pisamos, que ar é esse que respiramos, que água é essa que bebemos, que força viva é essa que nos forma.

Precisamos cuidar das florestas, dos povos da floresta, mas precisamos também cuidar dos nossos jardins internos, precisamos ter certeza de que nossa ação no mundo está de acordo com o fluxo vivo que dá forma a todos os seres. Isso não pode ser menos importante do que as urgências todas de que temos que dar conta.

Saber o que é natureza, o que cada um de nós entende por natureza, construir um jeito de ser e de estar que seja coerente com o que pensamos, saber como a ideia de natureza tem influenciado o fazer humano sobre a Terra desde a nossa chegada, saber qual a relação entre o que chamamos de natureza e nossa psique, saber como nos relacionamos com todo o cosmos de que fazemos parte.

Junto com nosso aprendizado e nossas práticas vamos nos entrelaçar com nossos povos originários e entrar em contato com a forma em que diferentes etnias pensaram essas questões. E da mesma forma, como os povos transatlânticos que vieram do continente africano pensavam e ainda pensam o mundo natural.

A arte sempre permeia os trabalhos que vocês desenvolvem. Isso se dará neste projeto também?

Sim, ainda vamos tocar na questão da arte e como ela se relaciona com a natureza. Como pensar e vivenciar tudo isso de forma integrada?

Cada aporte novo terá tempos/espaços para fazer sentido individualmente, em pequenos grupos e todos juntos. Nesse sentido, a escrita terá um papel fundamental para que as experiências internas possam se integrar aos aprendizados.

Os participantes serão convidados a escrever dois ensaios e uma dissertação, com orientações de diversos tipos, intra e extra grupo.

Os professores têm especialidades diversas – artes, astronomia, antropologia, física, psicologia, geografia -, como foram escolhidos?

São pessoas que conheço diretamente ou indiretamente e que se relacionam com os grandes temas que escolhi.

De uma maneira geral, procurei profissionais que, ao lado de suas especialidades, têm um olhar amoroso e poético sobre quem somos.

São eles: Adriana Friedmann, Amâncio Friaça, Ângela Castelo Branco, Bruno Folador, Edith Derdyk, Isabel Carvalho, José Augusto Pádua, Luiza Christov, Maria Cecília Wei de Brito, Marco Aurélio Bilibio e Roquinho (Roque Antonio Soares Júnior).

Vocês incluiram práticas ao vivo na programação, que não serão obrigatórias devido à pandemia. Explique

Essas práticas são as “sonhadas” imersões. Prevemos a realização de duas imersões de 5 dias cada, com professores muito especiais para as práticas em campo, mas que serão realizadas se e quando for possível, devido à imprevisibilidade relativa à atual pandemia.

Por esse motivo, as imersões serão convites muito especiais e não estão incluídas no valor do curso nem são obrigatórias. Mas ficamos na torcida para que possamos realizá-las em 2021 e 2022, pois elas são essenciais para a integração dos conteúdos do curso.

Como definem a contribuição de um curso como este para a atualidade?

Este é um curso que não propõe uma especialização, propõe uma amplificação. Por este motivo é aberto a todas as pessoas que desejam fazer este percurso.

Queremos dialogar com muitas áreas, com diversos contextos e vivenciar a diversidade em múltiplos sentidos. Queremos que ele possa ampliar nossos olhares a partir da natureza que somos e contribuir para nossa atuação no mundo.

Queremos que os alunos tenham uma atuação que reflita a percepção consciente de que somos Terra.

Informações e inscrições

A NATUREZA QUE SOMOS
FILOSOFIAS E PRÁTICAS PARA UMA ATUAÇÃO GENUÍNA NO MUNDO
Curso de pós-graduação online
Onde: site de A Casa Tombada
Período: 22/9/2020 a 3/2022
Dia e Horário: às terças, das 19h às 21h
Inscrições vão até 10/9 e podem ser feitas por:
– e-mail: pos@acasatombada.com
– whatsapp: (11) 96362-7762
– fone: (11) 3675-6661

Fotos: Angelica Del Nery/Divulgação (destaque) e Palmira Petrocelli de Barros (retrato)

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.