Eduardo, o meu amigo udu

Eduardo, o meu amigo udu

Quem acompanha este blog sabe que minha casa e o escritório anexo ficam em local privilegiado, na transição entre as zonas urbana e rural, onde a presença de animais silvestres é constante. Hoje vou falar sobre uma ave específica e o que ela está me ensinando sobre fotografia e admiração pela natureza em tempos de isolamento social. É o udu!

Nas últimas semanas, esse udu-de-coroa-azul tem aparecido no nosso quintal e está se tornando cada vez mais habituado com nossa presença.

Até então, eu sempre pensava nesta ave como muito discreta e arisca. Faz alguns anos que a registramos aqui pela primeira vez, mas geralmente só escutávamos seu canto na mata e demorou para conseguirmos observá-la. Agora, o udu tem vindo praticamente todos os dias em busca de frutas que colocamos para os bichos.

Comecei a observar seus padrões de comportamento e me propus um desafio fotográfico que ainda está em andamento. Quero aproveitar sua tolerância e tentar fazer algumas imagens diferentes, como fotos com as asas abertas, em voo e com lente grande angular.

Dia após dia tenho dedicado um tempo a interagir com esta ave, estudar técnicas e pensar em algumas gambiarras fotográficas que me permitam fazer as fotos que imaginei.

O que parecia fácil sempre revela alguns complicadores inesperados. Por exemplo, descobri que às vezes o udu abre as asas no ato de bicar o pedaço de mamão que está preso a um galho seco. Reparei que isto só acontece quando o fruto está um pouco distante de seu poleiro, então estou tendo este cuidado ao colocar a comida.

Porém, esta abertura de asas é muito rápida e acontece justamente quando a ave está com a cabeça quase enfiada dentro do pedaço de mamão. Eu quero fazer uma foto em que a fruta não apareça, o que gera outra complicação. Poderia facilmente removê-la depois em programa de edição de imagens, mas neste ponto acho que ainda sou meio tradicionalista e reluto em fazer tal tipo de manipulação (mesmo que assuma ter feito isto na foto).

Eduardo, o meu amigo udu

“Eduardo”, comendo mamão no quintal de casa

Outra questão é que o sol só incide no poleiro durante alguns minutos por dia (e, frequentemente, quando tudo está alinhado, chega uma ave maior que expulsa o udu pra roubar sua fruta!). Como preciso fotografar em altas velocidades, para congelar o movimento, é importante que o lugar esteja bem iluminado. No momento, os raios solares só estão atingindo o ponto certo pelo fato de que a árvore situada entre o sol e o poleiro está sem folhas, mas em breve elas crescerão novamente – e aí pode ser que acabem minhas oportunidades de fotografar este bichinho…

O legal é que, pela quase certeza de que o bicho estará por perto no dia seguinte, não sinto tanto aquela ansiedade e senso de urgência para aproveitar o que pode ser a “única oportunidade”. Isto tem me permitido relaxar e apreciar sua beleza em um ritmo mais suave.

Tenho percebido ainda que, ao menos uma vez por dia, o udu chega perto de onde estou (seja no escritório ou dentro da casa) e fica me esperando. Eu vou na cozinha, pego um pedacinho de mamão, tento imitar seu canto e deixo o lanchinho pra ele, que já foi até batizado por nós de “Eduardo”. A origem do nome é pra gente fazer trocadilho quando alguém pergunta “mas por que Eduardo?”, daí a gente responde “Eduardo, Udu!” ?

O udu-de-coroa-azul é uma ave florestal de rara beleza que, em 2011, foi oficializada por lei municipal como ave-símbolo de Bonito (MS). Nossa ideia, ao propor esta ação, foi estimular indiretamente a conservação das florestas da região, já que tal espécie depende delas para sua existência.

A partir daí, esta ave – que já era muito apreciada – adquiriu uma importância ainda mais especial por aqui, tendo inclusive dado origem ao Dia Municipal das Aves, celebrado em 3 de outubro, conforme previsto na mesma lei.

Eduardo, o meu amigo udu

O udu-de-coroa-azul, ave símbolo de Bonito

Leia também:
O quintal dos bichos sem bichos
Cor de besouro

Fotos: arquivo pessoal

3 comentários em “Eduardo, o meu amigo udu

  • 17 de julho de 2020 em 6:17 PM
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    Que sorte se amigo do Udu-de-coroa-azul! sonho fotografar essa ave! Já pensou colocar alguns galhos próximo às frutas? ele pode dar uma parada nesses galhos antes de chegar no galho mais perto da comida. Tem lives sobre comedouros que podem te ajudar bastante. Boa sorte!

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    • 17 de julho de 2020 em 8:00 PM
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      Oi Lena. Pois é, maior privilégio! Tem bastante galho e árvores nos arredores, então poleiro não falta pra ele. Só preciso treiná-lo um pouco mais, rsrsrs! Grato pelas dicas, vou dar uma pesquisada. Sempre ajuda :-)

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  • 20 de agosto de 2020 em 11:45 AM
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    Q fotos lindas! Parabéns! Seria possível você me ceder a terceira ou a primeira para que eu possa usar na tela de acesso a um computador batizado de “momota”? Ficaria feliz em indicar o blog e a autoria.

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora