Série ‘Aruanas’ celebra o ativismo no país onde mais se mata ativistas no mundo

Exercer o ativismo em favor de causas ambientais ou de direitos humanos no Brasil, hoje, pode significar uma sentença de morte. Somos o país que mais mata ativistas ambientais no mundo, segundo estudo feito pela organização Global Witness.

Falar sobre a importância do ativismo é, portanto, absolutamente urgente e necessário. Especialmente frente ao desmonte da legislação ambiental e aos crescentes ataques aos direitos individuais que estamos assistindo no país.

Trago esse assunto aqui para este blog a propósito do lançamento em 150 países da série Aruanas, um projeto desenvolvido em parceria pela Globo e pela Maria Farinha Filmes. Tive o privilégio de acompanhar parte do processo quando era Diretor de Engajamento do Greenpeace, que deu assessoria técnica à produção. 

Nesta primeira temporada – disponível na plataforma GloboPlay; hoje, a TV Globo vai exibir o primeiro episódio-, a série se passa ao redor da luta da ONG Aruanas para expor e evitar a contaminação de uma região da Amazônia por uma empresa de garimpo.  Mas, na verdade, o assunto central de série é o ativismo em si, e mais especificamente o ativismo feminino, poucas vezes abordado. 

Aruanas acompanha a trajetória de quatro mulheres ativistas, das quais três fundaram a organização e uma se juntou mais recentemente, como estagiária. Cada uma delas tem um perfil específico e histórias pessoais que se entrelaçam. 

A série procura acompanhar não apenas o desenrolar da trama relacionada ao crime ambiental, mas principalmente foca no aspecto humano, no peso e nas consequências para a vida de cada uma das protagonistas ao dedicar suas vidas à causa ambiental.

É esta abordagem que torna Aruanas tão especial. 

Na minha opinião, é absolutamente fundamental humanizar o tema do ativismo para quebrar um pouco a impressão que muitas pessoas têm de que o ativista é alguém fora do normal.  

A série mostra que, na verdade, ativistas são pessoas comuns, como eu e você, que decidiram empregar seu conhecimento e sua vontade em favor de um assunto que consideram importante para a coletividade.

Óbvio que ser ativista não significa automaticamente ser uma pessoa do bem. O ativismo, em si, pode ser usado para tentar avançar muitas agendas do mal. Não faltam pessoas defendendo a caça às baleias, o armamento da população, a exploração desenfreada da Amazônia e, até mesmo, a luta contra as vacinas

O que importa, portanto, é a intencionalidade, em favor do quê usamos nosso conhecimento e tempo.

Taís Araújo, uma das intérpretes de Aruanas, fala deste paradoxo em uma entrevista: “o ativista que é ameaçado de morte por defender uma causa ambiental está lutando pelo bem coletivo, inclusive daquele que o ameaça”. 


Mais do que tudo, acredito que é importante ter em conta que todos nós podemos e devemos ser ativistas no nosso cotidiano. Não precisamos criar nossa própria ONG. Podemos atuar no dia-a-dia  e ser “os outros dos outros”. Ou seja, influenciar nosso entorno pelo exemplo e pela dedicação

Basta lembrar de Greta Thunberg, a adolescente de 16 anos que, desde 2018, falta à escola toda sexta-feira para protestar em frente ao parlamento sueco, pedindo ações concretas e imediatas para frear as mudanças climáticas. Com sua ação simples ela tem inspirado milhões de pessoas mundo afora. 

A palavra aruana, que inspira a série, é de origem tupi e tem o sentido de sentinela. Sentinelas somos todos nós – do bem comum, da vida, da justiça, da natureza.

Que a série Aruanas inspire muitas outras e outros aruanas ao redor do Brasil e do mundo!

Fotos: Divulgação

Um comentário em “Série ‘Aruanas’ celebra o ativismo no país onde mais se mata ativistas no mundo

  • 4 de abril de 2022 em 2:49 PM
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    Assisti à série recentemente e a sensação é essa mesmo.. de ficar inspirada a fazer algo! Obrigada pelo texto <3

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Renato Guimarães

Jornalista, com mestrado em relações internacionais, é especialista em temas ligados à mobilização e engajamento em causas de impacto social. Morou oito anos no Peru, de onde conheceu bastante da América Latina. Trabalhou em organizações como Oxfam GB, Purpose, Instituto Akatu e IFC/Banco Mundial. Foi sócio de duas consultorias – Gestão Origami e Together – e Diretor de Engajamento do Greenpeace Brasil. Atualmente, é Assessor Sênior do Social Good Brasil e VP de Engajamento da Together, agência focada em processos de mobilização para causas de impacto