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A dor da destruição e a lembrança da primeira vez em que pisei na floresta


Semana passada fiquei – e ainda estou – bem desapontada com o andamento das políticas ambientais para a Amazônia. Durante uma madrugada, deputados permitiram a redução de unidades de conservação no Pará, o equivalente a cinco municípios de São Paulo. Consegue imaginar? Isso significa muito menos espaço para a vida: árvores centenárias, macacos, bichos preguiça, formigas, pássaros, todos morrerão. Suas mortes foram decretadas e aprovadas às pressas, por medida provisória, por ruralistas que se encontram no poder e que são os comandantes e donos da destruição em nome da desgraça que é o agronegócio.

Penso na dor da floresta.

Na falta de consciência desses caras, que não têm a menor noção e nem a menor das ideias do que “missão espiritual” ou “propósito de vida” signifiquem. Usam seus talentos para destruir em benefício próprio. Com suas leis, ternos e gravatas bem passados pela ambição desgovernada, comemoram a aceleração do processo de morte da maior floresta que este planeta já criou.

Lamento o desperdício de suas existências neste plano. São pobres de espírito e sua falta de visão não permite que conheçam a alma da floresta.

Lembro de minha primeira vez em solos amazônicos, em 2006. De cara, fui convidada a participar de uma viagem de barco por uma semana pelo Rio Negro, no Amazonas. Compreendi, ali, no avião que sobrevoa o Norte do país e que, antes de chegar a Manaus, já nos mostra a grandeza da floresta, que eu me mudava de São Paulo para os braços dela para embarcar em uma aventura que jamais teria fim em minha vida.

A Amazônia me pegou de jeito, no colo. Me ninou, me mostrou sua força e me disse que eu também poderia ser forte, como ela. A floresta me ensinou o beabá do meu próprio crescimento enquanto alma humana pela aventura nesta Terra.

Lembro como se fosse ontem das cenas que vivi há 11 anos: desde o navio, que cruzava o rio à noite, contemplei raios e trovoadas no horizonte, sinalizando o poder e a cura da tempestade. Lembro daquela vez na qual, em uma pequena lancha, uma chuva de fim de tarde nos brindou com gotas gigantes que nutriram meu corpo, pois abri a boca para beber suas bênçãos. Toda molhada e com um sorriso de ponta a ponta, lembro bem daquele mergulho não calculado, apenas sentido.

Desde a lancha para o Rio Negro, após a chuva que matou minha sede e energizou o meu ser, mergulhei com botos cor de rosa que se aproximavam de uma menina que, desde que nasceu, aprendeu a se comunicar com eles. Perguntei se poderia mergulhar, ela disse que sim e caiu naquelas águas escuras e quentinhas comigo. De repente éramos duas no rio e cercadas por seis botos, sendo que um deles tocou sua boca em meu rosto e o outro beijou minhas costas. Não há sensação mais indescritível do que essa, por mais que eu tente descrevê-la.

A floresta me chamou antes de minha chegada, me acolheu desta forma em minha primeira visita e, desde sempre, me amou profundamente.

Ela fala comigo e agora pede ajuda.

Me diz para falar aos humanos que a amem e que aproveitem o tempo que resta para aprender o que ela tem a ensinar, porque estão avançando rápido para cima dela.

Me pede que fale de amor e que diga que, apesar da dor e da violência que sofre, ela continua sorrindo compassivamente aos humanos, pois confia em nossa capacidade de amar e de evoluir.

Ela ama e compreende, apesar de chorar e lamentar por tamanha inconsciência contra seu corpo perfeito e sua energia profundamente curativa e transformadora.

Ela diz: “desperta…desperta!”.

Foto: Todd Southgate

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