Devastação na Amazônia atinge a maior taxa em 12 anos

Devastação na Amazônia atinge a maior taxa em 12 anos

Foram divulgados na segunda-feira (30) os aguardados dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento na Amazônia: a taxa oficial de 2020, dada pelo sistema Prodes, é de 11.088 km2, a maior desde 2008. A alta é de 9,5% em relação ao ano passado.

Levando-se em conta a média dos dez anos anteriores à posse de Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu 70%: de 2009 a 2018, a média apurada pelo Inpe foi de 6.500 km2 por ano.

A publicação da taxa oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a lei nacional que preconizava uma redução da taxa a um máximo de 3.925 km2 em 2020. O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição de desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris (a NDC) a partir do início do ano que vem.

Devido ao salto no desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia.

Nada disso é uma surpresa para quem acompanha o desmonte das políticas ambientais no Brasil desde janeiro de 2019. Os números do Prodes simplesmente mostram que o plano de Jair Bolsonaro deu certo. Eles refletem o resultado de um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazônia. É o preço da “passagem da boiada”.

Grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e assassinos de índios praticando crimes na ponta sabem interpretar os sinais que vêm do Palácio do Planalto e, de forma inédita, do Ministério do Meio Ambiente. O desmatamento, embora tenha causas complexas, é antes de tudo movido a expectativas. Quando o Presidente da República diz que vai “tirar o Estado do cangote” dos predadores da floresta, a bandidagem avança em cima do patrimônio dos brasileiros. Quando ele e seus auxiliares vão além do discurso e começam a tomar medidas nesse sentido, o crime festeja.

E haja medidas.

Paralisação da cobrança de multas pelo Ibama, congelamento do Fundo Amazônia sob desculpas falsas, aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente, mordaça no Ibama e no ICMBio, perseguição e exonerações de agentes ambientais por fazer seu trabalho, atropelo de pareceres técnicos pelo presidente do Ibama para satisfazer bandidos e liberar madeira ilegal, envio de propostas ao Congresso para abrir terras indígenas ao esbulho e legalizar a grilagem, tentativa de legalizar o roubo de terras indígenas não homologadas, omissão criminosa em não gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais, difamação a quem produz conhecimento técnico e científico e uma tentativa improvisada de militarizar a floresta. Tudo isso foi visto nos últimos 22 meses.

Esse conjunto de fatores determinou também o inédito fracasso em 2020 de uma cara e estabanada operação militar na Amazônia.

Recrutando mais de 3.400 militares, a Operação Verde Brasil 2 falhou em conter tanto o desmatamento quanto as queimadas, que até novembro eram 20% mais numerosas na Amazônia do que o já escandaloso índice de 2019 (Leia aqui análise do OC sobre o plano do Conselho da Amazônia para a região).

“Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que deu errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil. Estamos perdendo acordos comerciais, transformando nosso soft power literalmente em fumaça e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima”, prossegue. “Este governo funciona como uma máquina de produzir notícias vergonhosas para o país, especialmente na área ambiental. Bolsonaro é o maior sabotador da imagem do Brasil.”

*Texto publicado originalmente em 30/11/20 no site do Observatório do Clima

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Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real/Creative Commons/Flickr

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Observatório do Clima

Fundado em 2002, o OC é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil