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Desmond Tutu, arcebispo da África do Sul, incansável na luta contra o apartheid e Nobel da Paz, morre aos 90 anos

Desmond Tutu, arcebispo da África do Sul,  incansável na luta contra o apartheid e Nobel da Paz, morre aos 90 anos

“Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor”.

Você já deve ter lido e ouvido esta frase diversas vezes nos últimos anos, principalmente quando alguma situação de violência e desrespeito pelos direitos humanos se torna pública. Seu autor é o arcebispo da igreja anglicana na África do Sul, Desmond Mpilo Tutu que, hoje, 26 de dezembro, fez a passagem, aos 90 anos, na Cidade do Cabo.

Sua fé rompeu os limites da religião. Ele se aliou a todos que “compartilhavam sua paixão pela justiça e pelo amor”. Foi um ativista incansável contra o apartheid e usou sua voz contra todas as injustiças, não só na África, mas em qualquer lugar do planeta onde identificava violências contra os mais vulneráveis ​​e sem voz em suas sociedades.

A pedido de Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, Tutu ajudou o povo a lidar com o fim do apartheid por meio de audiências públicas: vítimas relataram suas dores e, ao obterem seu reconhecimento por parte de seus algozes, os perdoaram.

Por sua luta contra o apartheid, em 1984 Tutu recebeu o Prêmio Nobel da Paz e, quando chegou o tempo de se aposentar, se juntou a outros laureados com o mesmo prêmio, além de ex-estadistas conhecidos para formar a The Elders, organização independente de líderes globais comprometidos com a paz, a justiça e os direitos humanos.

O grupo foi fundado em 2007 por Mandela, que contou com a parceria do ex-presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, do ex-presidente americano Jimmy Carter e do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Anan, laureado com o mesmo Nobel (que morreu em 2018), entre outros.

E, assim, Desmond Tutu continuou a falar sobre questões éticas e morais como destacou, hoje, o site de sua fundação – a Desmond e Leah Tutu Legacy Foundation: “negócios ilegais de armas, xenofobia, pessoas oprimidas na Palestina, respeito pelo estado de direito, HIV / Aids, Tibete, China, muçulmanos Rohingya em Mianmar e direitos LGBTQI +”.

O arcebispo também participou de campanhas pelo clima do planeta: “por uma administração mais gentil da Terra e contra as devastações iminentes da mudança climática”, sendo “um exemplo muito real de como a sobrevivência humana depende de nossa capacidade de espírito ubuntu de cooperar e trabalhar juntos”.

Nos últimos anos, Tutu dedicou-se à oração e à contemplação ‘na casa que ele e sua esposa compartilhavam em Milnerton”. Deixa um grande legado de amor e compaixão composto por suas ações e uma série de mensagens inspiradoras que servem de alento e encorajamento para qualquer pessoa que, como ele, defenda a paz na Terra.

“A minha humanidade está ligada à tua, pois só podemos ser humanos juntos”, dizia. Ubuntu!

Repercussão

“O falecimento do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto na despedida da nossa nação a uma geração de notáveis sul-africanos que nos legou uma África do Sul libertada” – Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul.

“O arcebispo Desmond Tutu foi um mentor, um amigo e uma bússola moral para mim e para tantos outros. De espírito universal, o arcebispo Tutu estava enraizado na luta pela libertação e pela justiça em seu próprio país, mas também preocupado com a injustiça em todos os lugares”- Barack Obama, ex-presidente dos EUA.

“Nesta manhã depois do Natal, estamos com o coração partido ao saber do falecimento de um verdadeiro servo de Deus e do povo, o Arcebispo Desmond Tutu, da África do Sul. Fomos abençoados por passar algum tempo com ele em várias ocasiões nos últimos anos. Sua coragem e clareza moral ajudaram a inspirar nosso compromisso de mudar a política americana em relação ao regime repressivo do Apartheid na África do Sul. Sentimos seu calor e alegria quando o visitamos durante a Copa do Mundo de 2010, que celebrou a diversidade e a beleza de sua amada nação. E, há apenas alguns meses, nos juntamos ao mundo para comemorar seu 90º aniversário e refletir sobre o poder de sua mensagem de justiça, igualdade, verdade e reconciliação ao enfrentarmos o racismo e o extremismo em nosso tempo hoje” – Joe e Jill Biden, presidente dos EUA e primeira-dama.

“A morte de Desmond Tutu deixa um vácuo enorme num mundo que vive um déficit de líderes. Seu humor, sempre genial, era acompanhado por uma coragem impressionante”Jamil Chade, jornalista brasileiro que o entrevistou em 2008 sobre o Brasil.

“Os escritos de Desmond Tutu, me acompanharam na pandemia, ajudando nos períodos mais duros a respirar e buscar uma nova forma de ver tudo, sempre. Dono de uma esperança teimosa que partilhou com o mundo incansavelmente. Sua passagem, hoje, me faz sentir como se um grande amigo se fosse”Emicida, cantor e compositor brasileiro.

Por fim, reproduzo o comovente relato que o artista Vik Muniz compartilhou em seu Instagram, hoje, no qual conta sobre um momento bonito que viveu com Desmond Tutu, em Davos, em 2012, quando este falou sobre sua visão carinhosa do povo brasileiro:

“Uma das coisas mais incríveis que já me aconteceram foi pedir a um desconhecido se poderia sentar com ele em um café lotado no centro do WEF em Davos, em 2012, e depois do primeiro gole de café, constatar que estava sentado com Desmond Tutu. Olhei para ele e reclamei que o lugar estava tão lotado que era impossível se sentar com alguém que não tivesse recebido um prêmio Nobel. Ele deu uma forte gargalhada e me perguntou porquê eu não havia recebido um ainda. Eu disse a ele que eu era uma pessoa boa, mas que era muito preguiçoso.

No nosso curto e espontâneo interlóquio, o simpático arcebispo me disse que estava sentindo muito frio e tinha muito medo de escorregar no gelo, que amava o Brasil e a nossa gente e que éramos uma cultura de bondade e tolerância. Eu sempre acreditei nisso, mas foi um conforto enorme ouvir isso de uma pessoa tão bacana. Nos últimos anos, tenho visto um lado do brasileiro que talvez não quisesse ver, egoísta, cruel e preconceituoso e devo confessar uma enorme tristeza em relação à minha própria origem e cultura.

Quando soube de sua morte, hoje pela manhã, aqui em Salvador, me lembrei de suas palavras e do Brasil que eu amo. Me lembrei também de uma outra coisa que ele disse do brasileiro, já se levantando para ir embora: que tínhamos uma imensa capacidade de perdoar e que isso era um enorme poder que é facilmente confundido como uma fraqueza.

Tutu disse tudo e sua morte só veio me lembrar que não somos fracos, somos, na grande maioria, bons e tolerantes e isso é o que conta enquanto houver uma democracia. Vá com Deus, Reverendo Tutu, você me proporcionou o café mais rico que já tomei na vida”.

O relato de Muniz combina muito bem com uma das frases ditas por ele em suas declarações, disseminadas pelo mundo, e que sempre nos inspiram: “Não somos amados por sermos bons. Somos bons porque somos amados”. Sejamos!

Agora, veja a linda seleção de retratos que o site do movimento The Elders preparou para homenagear o arcebispo Desmond Tutu.

Com informações de G1, Folha SP, NYT, Desmond and Leah Tutu Legacy Foundation, The Elders

Foto: Joyrene Kramer/Divulgação, Desmond and Leah Tutu Legacy Foundation

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