Desmatamento e crise climática estão fazendo com que parte da Amazônia já emita mais CO2 do que absorva

Desmatamento e crise climática estão fazendo com que parte da Amazônia já emita mais CO2 do que absorva

A Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, sempre desempenhou um papel importantíssimo na regulação do clima global. Suas árvores eram responsáveis por absorver gás carbônico (CO2) da atmosfera e no caso do Brasil, em específico, seus chamados “rios voadores”, fenômeno formado pelo vapor d’água produzido pelas plantas, levavam chuva para o resto do país. Mas pela primeira vez cientistas afirmam que esse equilíbrio tão perfeito foi afetado e uma parte da Floresta Amazônica já libera mais CO2 do que absorve. Os responsáveis pela mudança?: o desmatamento e a crise climática.

Em um artigo científico publicado ontem (14/07) na revista Nature, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e de outras instituições internacionais revelam que as emissões totais de carbono são maiores na Amazônia oriental do que na parte ocidental, principalmente como resultado de diferenças espaciais nas emissões de fogo derivadas do monóxido de carbono. “O sudeste da Amazônia, em particular, atua como uma fonte líquida de carbono para a atmosfera”, explicam os cientistas no estudo, liderados por Luciana Gatti e que conta ainda com a participação do climatologista Carlos Nobre.

A análise aponta que as regiões mais afetadas estão localizadas entre o Pará e o Mato Grosso, o que parece evidente já que são os estados com os maiores índices de desmatamento mostrados pelo monitoramento do Inpe nos últimos meses.

“Nos últimos 40 anos, o leste da Amazônia foi sujeito a mais desmatamento, aquecimento e estresse de umidade do que a parte oeste, especialmente durante a estação seca, com o sudeste experimentando as tendências mais fortes”, ressaltam os cientistas.

Ainda segundo o artigo, a intensificação da estação seca e o aumento do destruição da floresta estão associados ao estresse nesse ecossistema, aumento na ocorrência de incêndios e maiores emissões de carbono na Amazônia oriental. “Isso está de acordo com estudos recentes que indicam um crescimento na mortalidade de árvores e uma redução na fotossíntese como resultado de mudanças climáticas em toda a Amazônia”, alertam.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Luciana Gatti diz que o estudo traz, infelizmente, duas e não apenas uma má notícia. “A primeira é que as queimadas da floresta fazem com que ela emita três vezes mais CO2 do que consegue absorver. A segunda é que os locais onde o desmatamento é de 30% maior ou mais apresentam emissões de carbono dez vezes maiores do que onde o desmatamento é inferior a 20%”.

O estudo indica que o que tal “limite irreversível” da Amazônia pode ter chegado antes do que se previa.

“Já havia alguns anos que o monitoramento das florestas indicava que o fluxo de carbono poderia estar se invertendo. O estudo publicado hoje mostra que o tipping point é agora. A Amazônia esta se tornando um bomba de emissão de carbono”, diz Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima. “Mas ainda é possível reverter esse quadro. É imperativo zerar o desmatamento, que é a principal fonte das queimadas na região que degradam a floresta e aumentam as emissões. Com o fim do desmatamento, a regeneração aumenta e podemos ter novamente a floresta absorvendo mais carbono do que emite.”

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Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real/Fotos Públicas

Um comentário em “Desmatamento e crise climática estão fazendo com que parte da Amazônia já emita mais CO2 do que absorva

  • 16 de julho de 2021 em 9:31 AM
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    Há anos pululam as denúncias apontando os motivos de crimes ambientais e contra os povos indigenas, os exemplares guardiões da floresta, sem que punições rigorosas sejam efetivadas, muito pelo contrário, geralmente com a complacência explícita dos órgãos responsáveis, incapazes de punir os criminosos, por motivos “cala-te boca”, “melhor deixar quieto”, “já fui”. É isso aí.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.