Hoje, em Davos, na Suíça, começou o 64º.Fórum Econômico Mundial, que reúne chefes de Estado, banqueiros, presidentes de grandes corporações e bilionários, durante cinco dias, para debater grandes questões – tecnologias inovadoras, mudanças demográficas e transformações políticas – que interferem no desenvolvimento econômico e social do planeta. Compartilharão ideias e inovações para buscar soluções. Afinal, sua missão é “melhorar o estado do mundo”. Isso é o que está escrito em seu site, mas a desigualdade só aumenta, vergonhosamente.
Nenhum outro encontro internacional consegue mobilizar tanta gente tão poderosa. Por isso, organizações da sociedade civil e celebridades engajadas aproveitam a ocasião fazer barulho e falar sobre temas urgentes como as mudanças climáticas – Leonardo Di Caprio já confirmou que estará presente ao evento por essa causa – ou o crescimento da desigualdade no mundo, como destacou a ONG britânica Oxfam International, esta semana, com a divulgação do seu relatório anual, Uma economia a serviço de 1%.
Na verdade, a organização atualizou o relatório divulgado em janeiro de 2015 – também às vésperas do Fórum, com o intuito de cobrar ações para reduzir a desigualdade -, que previa que, este ano, 1% dos seres humanos acumulariam mais riqueza do que os 99% ‘restantes’. Entre 2009 e 2014, esse grupo abastado havia aumentado em 4% seus recursos e a organização indicava que, caso o ritmo de crescimento se mantivesse, poderia superar os 50% em um ano. Só que a previsão errou e chegamos a esse patamar já no ano passado, ou seja, um ano antes do previsto. Pois é… o sociólogo brasileiro Antonio David Cattani – que escolheu estudar os ricos em vez de focar nos pobres (já que tem tanta gente fazendo isso) e se tornou um dos poucos especialistas do mundo nessa minoria – diz que “a fortuna de super ricos é incontrolável”.
De acordo com o novo relatório, “desde o início do século 21, a metade mais pobre da humanidade se beneficia de menos de 1% do aumento total da riqueza mundial, enquanto 1% dos mais ricos partilham metade do mesmo aumento”.
Assim, as 62 pessoas mais ricas do mundo – e não mais as 388 de cinco anos atrás – acumulam a mesma quantia de dinheiro que metade da população mais pobre, ou 3,5 bilhões de pessoas. É o mesmo que dizer que a riqueza dos mais ricos aumentou 44% desde 2010 e a riqueza dos mais pobres caiu 41%. Em resumo: nos últimos cinco anos, ricos ficaram mais ricos e pobres ficaram mais pobres.
Entre os mais ricos, metade vive nos Estados Unidos, 17 na Europa e o restante no Japão, Arábia Saudita, Brasil, México e China.
Os dados são do banco Credit Suisse e se referem a outubro de 2015. O cálculo foi feito com base no patrimônio líquido, ou seja, considerando os ativos menos as dívidas. Mas diversos economistas fazem ressalvas a respeito deles. O próprio banco reconhece ser dificílimo obter informações precisas sobre os bens acumulados pelos muito ricos e que os números divulgados podem até estar subestimados. Por outro lado, há países que não têm esses dados ou não os divulgam.
Entre as reivindicações da Oxfam aos governos estão:
– impor restrições ao lobby já que essa prática influencia decisões políticas que interessam somente às empresas;
– criar medidas que impeçam a manutenção de paraísos fiscais. A organização destaca que nove entre cada dez empresas sócias do Fórum estão presentes em, pelo menos, um paraíso fiscal;
– cobrar impostos pela riqueza em vez de impostos pelo consumo;
– reduzir a diferença entre o pagamento de trabalhadores que recebem salário mínimo e o que é pago a executivos;
– acabar com a diferença de salários pagos a homens e mulheres;
– promover direitos iguais a heranças e à posse de terra para as mulheres; e
– reduzir o preço de medicamentos.
Winnie Byanyima, diretora-geral da Oxfam, está em Davos para divulgar ainda mais detalhes do relatório e cobrar empenho real na luta para combater o crescimento da desigualdade no mundo. Tomara que números tão vergonhosos sensibilizem os participantes desse encontro. Um pouco de empatia e altruísmo ajudaria um bocado.
O Fórum acontece num momento delicado da economia, em meio a ameaças de uma nova crise global e também o temor de ameaças terroristas e a falta de soluções ideais para a crise dos refugiados.
Foto: WJGomes/Pixabay