Ontem, uma nuvem de fumaça, vinda dos incêndios florestais na Austrália, percorreu mais de 12 mil quilômetros, cruzando o Pacífico (tal a quantidade de material particulado!), e chegou à América do Sul: primeiro no Chile e, em seguida, na Argentina.
O Departamento Metereológico de Santiago garantiu que a nuvem não oferece riscos à saúde já que se manteve a seis quilômetros de altura e não havia fenômenos meteorológicos que pudessem fazer a fumaça chegar à superfície.
No Twitter, o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (SMNA) mostrou imagens de satélite que registravam a fumaça sendo transportada por ventos que se deslocavam do oeste para o leste do país. No final da tarde, grande parte do centro do país estava tomado pela fumaça, que se manteve entre 5 e 10 mil quilômetros de altura.
Os dois serviços trataram de tranquilizar chilenos e argentinos sobre consequências do fenômeno: garantiram que teriam apenas um entardecer e um sol avermelhados (foto abaixo, divulgada pelo SMNA). Mas disseram também que o céu poderia ficar um pouco acinzentado. Apesar do denso material particulado, esta fumaça é muito menos intensa do que a dos incêndios na Amazônia, que rapidamente transformou o dia em noite em São Paulo, em agosto.
As previsões alertavam para a chegada da nuvem no Uruguai e no Rio Grande do Sul somente hoje, mas imagens de satélite revelaram que ela ingressou no Uruguai no final da noite de ontem, e foi vista em Santana do Livramento, na fronteira do Brasil com esse país.
De acordo com a MetSul Meteorologia, a nuvem só atingiu o estado gaúcho hoje (foto da Nasa, que abre este post), no início da tarde, podendo alterar a cor a paisagem, como na Argentina. A meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, explicou à reportagem do site Terra que “um sistema de baixa pressão impulsionou a fumaça do centro da Argentina até o Rio Grande do Sul”.
O próximo estado brasileiro a ser atingido pela nuvem de fumaça deve ser Santa Catarina. E outras regiões do país não estão descartadas.
Governo australiano libera verba e cria órgão para coordenar reconstrução
A Austrália segue ardendo. “Os incêndios ainda estão queimando e vão queimar por meses”, salientou o primeiro-ministro Scott Morrison, durante entrevista coletiva ontem. “Vai ser feito o que for preciso, custe o que custar”, revelando a liberação de 2 milhões de dólares australianos (cerca de 5,6 bilhões de reais) para atender emergências nas regiões atingidas pelos incêndios, que resultaram na morte de 25 pessoas e meio milhão de animais, além da destruição de casas e edifícios, numa extensão territorial equivalente a da Holanda: mais de 70 mil km2 ou pouco mais de 7 milhões de hectares.
O premiê nega as mudanças climáticas. Integra o grupo de negacionistas do clima, que inclui os governos de Trump e de Bolsonaro. As performances do Brasil e da Austrália, durante a conferência do clima da ONU, na Espanha, no final do ano passado, foram vergonhosas, tanto que ambos – na companhia do Japão, receberam Prêmio Fóssil do Dia, concedido, com humor e crítica por uma ONG climática.
Mas parece que, agora, diante da dimensão da tragédia pela qual passa o país, Morrison percebeu que “brincou com fogo”. Durante a mesma entrevista coletiva, revelou que criou um órgão – Agência Nacional de Recuperação de Incêndios Florestais – para administrar o dinheiro liberado, que será usado para a reconstrução das regiões atingidas.
Pena que ele resolveu se mexer somente agora, depois de tanta destruição e morte. Mas, como diz o ditado, antes tarde do que mais tarde. Estamos acompanhando.
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Fontes: Nasa, Inpe, MetSul, Época, Terra
Foto: Nasa (abertura) e Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (sol)