Coronavírus: realidade, sem alarmismo

Atualizado em 13/3/2020, com novos dados sobre mortos e casos confirmados e o teste positivo do exame de Bolsonaro para o contágio do vírus, que há apenas três dias ele chamou de “uma pequena crise” e “fantasia da imprensa” pelo mundo”, em discurso em Miami.
_____________________

Ontem, 11/3, o diretor-executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que vivemos um cenário de pandemia do novo coronavírus, COVID-19. Ou seja, neste momento, a doença já está espalhada por diversos continentes com transmissão sustentada entre as pessoas, sem importar a região, o clima, a condição social…

É assustador? É, mas a pior atitude que podemos tomar é entrar em pânico e disseminá-lo. “A declaração de uma pandemia não é como a de uma emergência internacional – é apenas a caracterização ou descrição de uma situação, não é uma mudança nela”, frisou o diretor-executivo de emergências da OMS, Michael Ryan. 

“Não podemos deixar o medo viralizar!”

O secretário-geral da ONU – a qual pertence a OMS – Antonio Guterres, comentou a declaração da OMS. Disse que todos enfrentamos uma ameaça comum, o novo coronavírus – COVID 19, e que a declaração de pandemia não foi feita para causar medo, mas como um chamado à ação, de todos, em todos os lugares. “Também é um chamado à responsabilidade e à solidariedade — enquanto nações e populações unidas. Enquanto combatemos o vírus, não podemos deixar o medo viralizar”.

Guterres ressaltou que acredita que, juntos, podemos mudar o curso desta pandemia, mas que isso só será feito se enfrentarmos a inação. “A melhor Ciência nos diz que, se os países detectarem, testarem, tratarem, isolarem, rastrearem e mobilizarem suas populações, podemos percorrer um longo caminho para mitigar a transmissão”.

Ele conclamou todos os governos a ampliarem seus esforços neste momento. “Na medida em que esta é uma crise que afeta a todos, precisamos todos fazer nossa parte. Ao lamentarmos todos aqueles que perderam a vida e as muitas famílias que sofrem, devemos mostrar solidariedade aos mais vulneráveis — idosos, doentes, pessoas sem cuidados de saúde confiáveis e pessoas à beira da pobreza”. Estes são os grupos de risco. E convidou: “Vamos seguir em frente com determinação e sem estigma”.

Os números no mundo e no Brasil

Pouco sabemos sobre o vírus Sars-Cov2, mas já entendemos que ele é veloz. Hoje, mais de 100 países registram sua presença. Nas últimas duas semanas, o número de casos fora da China – onde tudo começou – aumentou 13 vezes e o número de países afetados triplicou.

Nos últimos dez dias, cerca de 50% dos países afetados apresentaram o primeiro caso da doença. Há mais de 139.929 mil casos confirmados ao redor do mundo e foram registradas mais de 5 mil mortes (de acordo com contagem mantida pela Universidade Johns Hopkins, atualizada em 13/3). Para ser mais precisa: 5.065 mortes. Até 13/3, a região com maior número de mortos é Hubei, na China, onde a doença Covid-19 surgiu pela primeira vez: lá morreram 3.062 pessoas. Na Itália, o país mais afetado da Europa, registra 1.016 mortes, em seguida o Irã com 514 mortes.

A projeção mundial dos números, até agora, indica que a quantidade de casos, mortes e países afetados pelo vírus vai aumentar geometricamente nos próximos dias e semanas. Mas a boa notícia é que 85% dos casos são leves, basta ficar em casa, evitar contato com muitas pessoas e se cuidar.

No Brasil, o primeiro caso foi de um homem que pegou o vírus na Itália. Na terça, 10/3, já havia 30 casos confirmados. Ontem, eram 52. Hoje, 12/3, são 77 – número atualizado às 16h20 desta tarde pelo Ministério da Saúde. E ainda há 1.422 suspeitas sob análise; outras 1.163 foram descartadas.

Em comparação com outros países, ainda estamos relativamente poupados. Mas todos os estados têm suspeitas. O estado de São Paulo é o que tem mais registros – 42 pacientes confirmados e 714 suspeitos -, seguido pelo Rio de Janeiro, com 16 confirmados e 76 suspeitos. Alagoas, Minas Gerais e Espírito Santo têm um caso confirmado; Bahia, Goiás e DF, dois; Santa Catarina, 3; e Rio Grande do Sul, 4. Hoje, Paraná (6) e Pernambuco (2) confirmaram seus primeiros casos.

EstadosSuspeitosConfirmadosDescartados 
Rondônia (RO)20
Acre (AC)30
Amazonas (AM)10
Pará (PA)5013 
Maranhão (MA)60
Piauí (PI)10
Ceará (CE)22042 
Rio Grande do Norte (RN)12015 
Paraíba (PB)100
Pernambuco (PE)18223 
Alagoas (AL)61
Sergipe (SE)20
Bahia (BA) 65236 
Minas Gerais (MG)117122 
Espírito Santo (ES)51121 
Rio de Janeiro (RJ)7616146 
São Paulo (SP) 71442465 
Paraná (PR)54629 
Santa Catarina (SC)67034 
Rio Grande do Sul (RS)824183 
Mato Grosso do Sul (MS)9015 
Mato Grosso (MT)60
Goiás (GO)16033 
Distrito Federal (DF)82244 
Brasil1.427771.156

Como agir e saber mais

Seguir as regrinhas básicas de higiene, que deveriam ser mantras em qualquer tempo ou situação, é urgente. Lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool em gel, evitar aglomerações, ficar mais em casa e só sair quando for essencial, evitar contatos desnecessários – beijos, abraços, apertos de mão – e, ao espirrar ou tossir, cobrir o rosto com as mãos para proteger quem estiver próximo, não compartilhar objetos pessoais…

E isto, não porque a doença seja tão grave: em 85% dos casos é leve. Se sua imunidade estiver em alta, mais ainda. Mas se cada um tiver em mente que precisa evitar ser uma fonte de contágio, com certeza a doença não se espalhará com tanta rapidez, nem durará tanto tempo. 

Não é à toa que Cingapura e Hong Kong são exemplos de sucesso na contenção da pandemia: os cidadãos resolveram se isolar por conta própria, com base na experiência adquirida com outras epidemias pelas quais passaram. Então, tentemos o mesmo aqui.

E claro que informação é imprescindível nesse processo. Também para podermos cuidar de crianças e bebês, apoiar pessoas idosas – que fazem parte do grupo de risco como diabéticos e pessoas pobres – e ainda orientar os jovens, que são os menos vulneráveis ao contágio, mas podem ser potenciais transmissores. 

O site do Ministério da Saúde é uma ótima ferramenta, pois tem dicas e dados sempre atualizados da situação. Mas, se você prefere ter as informações acessíveis no celular – inclusive para compartilhar com amigos e parentes -, o ideal é baixar o aplicativo Coronavírus – SUS, disponível nos sistemas operacionais iOS (para iPhone e iPad) Android

Para combater a proliferação de fakenews, o Ministério dedica um número de celular – (61) 99289-4640 – para checagem de mensagens (textos e imagens) recebidas por qualquer cidadão nas redes sociais. Ele entra em contato e pede que a mensagens seja avaliada pelo Ministério. A resposta chega com uma imagem: um selo indicando que Isto é fake news, não divulgue ou Esta notícia é verdadeira, compartilhe

Em caso de dúvida sobre qualquer tema relacionado ao coronavírus, o ideal é entrar em contato com o serviço de atendimento gratuito Disque Saúde 136, que funciona 24 horas, durante sete dias da semana.

O site G1 também criou um serviço de notícias e informações por Whatsapp. Você adiciona o número (11) 97090-3588, envia uma saudação para ser inscrito e passa a receber notificações e mensagens sobre o coronavírus.

Para cuidar de crianças e bebês – medidas de prevenção e orientação sobre como conversar com os pequenos -, indico o e-book especial criado pelo projeto MaterNews, em parceria com o Hospital Sabará, de São Paulo.

Para conter o vírus no mundo…

No início, na China, foi entendido como surto (aumento brusco de casos em determinada região), mas logo classificado de epidemia (o número de casos aumentou acima do esperado em várias localidades) porque invadiu a Ásia. E, agora, a OMS finalmente declara a pandemia, destacando que nada muda em relação às recomendações já feitas sobre como devem proceder os países para “detectar, proteger, tratar e reduzir a transmissão do vírus”.

O foco é na contenção de sua circulação e, por isso, é tão importante seguir as regras básicas de higiene. As autoridades têm obrigação de tomar providências para conter a pandemia de coronavírus no país, mas se cada um de nós colaborar, maiores as chances de conter a transmissão. Não é necessário pânico, mas assertividade

Se algum caso for identificado, principalmente em lugares onde se concentram muitas pessoas, como escolas, faculdades, centros de convenções etc, estes devem ser fechados, como tem acontecido pelo mundo.

Nos Estados Unidos, o Congresso anunciou que ficará fechado para o público até abril. Universidades de Berkeley, Columbia e Harvard fecharam total ou parcialmente, oferecendo aulas online. Escolas em Nova York também fecharam.

Na França, escolas e universidades fecham a partir de segunda, 16/3. Portugal tomou inúmeras providências: fechou escolas e discotecas e limitou a frequência de pessoas em centros comerciais, além da frequência da visitação em lares de idosos. Segundo o jornal britânico The Guardian, a Espanha deve declarar estado de emergência em resposta à epidemia de coronavírus, e tomar medidas drásticas de contenção: o número de casos confirmados no país passou de 4.200 e o número de mortos subiu para 120.

A temporada de escalada no Monte Everest foi cancelada. E o governo do Nepal suspendeu todas as licenças de montanhismo na quinta-feira e, como relatamos anteriormente, deixará de emitir vistos de turista à chegada, causando um golpe devastador na indústria do turismo no país (também com informações do The Guardian).

De acordo com o UOL, nos países mais afetados pela pandemia, depois da China – Coreia do Sul, India, Itália, Irã e Japão – os governos têm concedido férias aos estudantes.

A UNESCO estima que, em 5/3, havia quase 300 milhões de estudantes sem aulas em 22 países de três continentes, por causa do vírus, e o número só aumenta.

… e no Brasil

Em Brasília, o Bolsonaro está em isolamento no Palácio do Planalto, desde que voltou de viagem dos EUA, porque o secretário especial da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, que fez parte da comitiva, contraiu a doença nesse país. E, de acordo com notícia publicada pelo colunista Leandro Mazzini, no jornal O Dia, seu primeiro teste deu positivo para a presença do coronavírus. Se for isso mesmo, o presidente deve estar sentindo na própria pele que o que disse sobre o vírus – “uma fantasia da imprensa pelo mundo” – é mentira.

Todos que participaram da comitiva para os Estados Unidos estão em observação: ministros, embaixadores, senadores e deputados.

Parlamentares estão proibidos de viajar. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, esteve na Europa, recentemente, e também está evitando compromissos públicos, mas esta semana participou de reunião no plenário para discutir estratégias e acoes para conter o coronavírus. E foi confirmada a contaminação de um funcionário da Presidência da Câmara dos Deputados pelo coronavírus. Ainda não se sabe se o Congresso Nacional terá as atividades suspensas.

Os governos estaduais e municipais apostam na educação – semanas de prevenção – contra a doença, mantendo as aulas. Em São Paulo, foi identificado um caso de aluno contaminado no curso de Geografia da USP e suas aulas estão suspensas. Uma garota de 13 anos – estudante do Colégio Bandeirantes – também foi diagnosticada, apesar de não ter sintomas. Ela contraiu o vírus em viagem à Itália. Está em casa, isolada.

Imagem: OMS

Deixe uma resposta

Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.