Como cuidar das árvores de sua cidade: 7 dicas e uma história inspiradora

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Quando criança, ao mesmo tempo em que aprendi a amar e respeitar a natureza e as árvores – sua riqueza, diversidade, fluxos, interações, tempo e conexões –, vivenciei situações muito difíceis de compreender. Algumas dizem respeito à vida das árvores, ao momento em que eram consideradas como perigosas ou inúteis para um grupo de pessoas. Isso acontecia porque elas temiam que a árvore caísse ou que sujasse demais as calçadas ou os quintais com suas folhas, flores e frutos, entre outros motivos. Eu simplesmente não entendia como e porque – nestes casos em que estava claro que a árvore ainda era saudável -, as pessoas podiam optar por matá-las em vez de mantê-las vivas.

Me emociono profundamente com a perda de qualquer árvore, seja onde for: por sua sombra que não está mais lá, a falta das cores belas, da temperatura amena, do ar mais fresco e respirável na região, do chão “pintado” com o lindo derramar de folhas, flores, frutos e sementes, marcando sua presença ao longo dos anos.

Essa conexão não mudou, desde pequena, mesmo vivendo na cidade de São Paulo, onde a poda mal feita e a remoção de árvores acontecem com frequência surpreendente. Toda vez que escuto a serra elétrica próxima à minha casa, sempre no primeiro horário do dia, logo ao amanhecer, meu coração se parte. O mais triste é constatar, depois, que muitas dessas árvores nem doentes estavam para serem mortas ou decepadas.

E, mesmo numa situação de enfermidade ou risco de vida da árvore, melhor, mais respeitoso e saudável seria esgotar as possibilidades de salvamento, recuperação e reestabelecimento de sua saúde. Afinal, ela cresceu, viveu e doou tanto para a vida de tantos seres ao longo da sua própria existência, concorda?

Comentei com muitas pessoas e especialistas da área sobre essa prática mais respeitosa e cuidadosa com as árvores, que é comum mundo afora. Na Europa, na Oceania e na Ásia é muito raro se ver o contrário já que muitos dos países reconhecem que sua maior riqueza é “a própria natureza”.

Por meio das redes sociais, do seu site e de e-mails, o Instituto Árvores Vivas – que fundei em 2006 e dá nome a este blog – recebe denúncias do Brasil inteiro sobre remoções, cortes indiscriminados de raízes e galhos, podas drásticas que mutilam as árvores para proteger os fios elétricos, concretagem que sufoca raízes em calçadas, tentativas de envenenamento, anelamento, derrubada por depredação, árvores que são descascadas ou galhos arrancados à mão sem nenhum motivo palpável.

Para organizar essas denúncias e auxiliar no encaminhamento das mesmas, vamos lançar em breve uma página dedicada no site do instituto. Avisarei aqui no blog. Mas, enquanto isso não acontece, listo abaixo dicas para que você saiba agir ao flagrar uma ação de maus tratos ou considerar que remoções ou podas estão sendo feitas de forma duvidosa. Assim você será um guardião das árvores em sua cidade:

  1. Se você tem receio de agir sozinho, junte-se a grupos de mobilização ambiental na sua cidade. Eles são mais fortes para agir e combater essas práticas e podem criar formas eficazes de alerta quando um dos membros presencia uma ação contra árvores;
  2. Se optar por agir de forma independente, apresente-se com muito respeito e calma e solicite os termos legais que autorizam o procedimento na árvore. Muitas cidades autorizam oficialmente podas e remoções, e esses documentos são públicos. Leia, fotografe e verifique em que condição esse procedimento foi aprovado. Converse e registre tudo que você vê e que pode ser questionável;
  3. Se não há legislação municipal que preserve ou oriente ações de manutenção das árvores em sua cidade, entre em contato com a polícia ambiental estadual;
  4. Como existe legislação federal ambiental, você pode conversar com o órgão legislativo da sua cidade, que representa os interesses da população, e sugerir que sejam realizadas assembleias que tratem do tema na intenção de encaminhar projetos de lei que organizem e garantam os cuidados com as árvores da sua cidade;
  5. Denuncie diretamente para a Secretaria do Meio Ambiente da sua cidade ou, no caso de São Paulo, que é uma cidade gigante, vale falar com a Subprefeitura que é quem atualmente solicita e encaminha os procedimentos, seja qual for o assunto;
  6. Procure saber quais são os meios de contato por telefone e por e-mail mais eficazes e mobilize suas redes para solicitar informações e denunciar;
  7. Crie grupos de bairro, faça parte de associações de bairro e informe sobre o estado das árvores da sua região ou a falta delas. Mais pessoas unidas por um mesmo objetivo são mais fortes em suas solicitações ao poder público.

O dia em que eu e amigos salvamos uma Tipuana da motoserra

E se você ainda acredita que sua ação seria muito pequena e não faria diferença, vou contar uma história inspiradora, uma experiência muito bonita e positiva pela qual passei no último fim de semana.

Faço e sempre fiz parte de alguns grupos de pessoas que querem ajudar a salvar as árvores da cidade de São Paulo e tenho trabalhado de perto com um desses coletivos. Comentei sobre nossa atuação com uma amiga, a jornalista Mônica Nunes que é uma das editoras e cofundadoras do Conexão Planeta. Ela mais do que rapidamente se envolveu com o movimento.

No dia seguinte cedo, ao passar por uma rua movimentada do bairro onde moramos – entre Santa Cecília e Higienópolis -, ela viu grande movimentação e dois caminhões da prefeitura. Me avisou sobre a ação e comentou que, pelo tamanho da área cercada por eles, parecia que a ação seria grande e já havia grandes galhos repletos de folhas pelo chão. Com a mesma velocidade, avisei os participantes do coletivo e logo tivemos um retorno positivo. Sergio Saraiva, um dos membros do grupo, que mora no bairro, foi pessoalmente ao local e pediu para ver o laudo. Apesar de o documento autorizar o corte de uma Tipuana, também indicava que ela estava saudável. Pasme!

Com essa informação em mãos e dialogando com a equipe de trabalho da prefeitura, conseguimos impedir o corte imediato da árvore que estava sentenciada por total irresponsabilidade. Agora, juntos, vamos averiguar como todo esse processo aconteceu e procurar evitar que outras ações desse tipo aconteçam.

Esta é uma história motivadora que pode inspirar você, leitor, a observar mais as árvores perto da sua casa, da sua escola, do seu trabalho, em toda cidade, e trabalhar pela sua conservação. Este não é um dever, é um direito seu. É um direito que pode lhe garantir uma vida mais saudável e mais saúde emocional na companhia dos seres vivos que garantem equilíbrio da natureza.

Se você tem conhecimento sobre árvores, pode estar pensando: “Mas a Tipuana é uma árvore exótica de origem boliviana e argentina! E está entre as árvores mais antigas da cidade e entre as que mais caem durante as tempestades? Pra que tanta mobilização?”.

É verdade! Essa é uma espécie exótica e antiga e está entre as mais frágeis da cidade. Isso porque ela é uma das árvores que mais passou por podas drásticas de copa e de raiz, anos e anos seguidos – o que, por certo, prejudicou muito sua saúde. Mas, para mim, qualquer árvore, seja ela exótica ou não, deve ser cuidada, não só porque é um ser vivo, mas por todo benefício que nos oferece diariamente: microclima favorável, sombra, redução da poluição sonora e do ar… Só para citar o básico.

E, mesmo se houvesse um plano de remoção de exóticas na cidade – que não é o caso, já que, em São Paulo e boa parte das cidades brasileiras, as árvores exóticas predominam -, a questão é que esta Tipuana de Higienópolis está saudável e deve ser mantida viva honrando a sua existência. No caso de substituição, o melhor plano seria plantar uma árvore nativa ao seu lado e permitir o crescimento e conviência delas até que a jovem muda possa oferecer serviços equivalentes. Ao meu ver o melhor mesmo, seria cuidar dela para preservá-la, assim:
– criar um canteiro permeável, suficiente em tamanho para a saúde de suas raízes,
– colocar escoras para estabilizar seus troncos,
– adubar a terra para fortalecer sua imunidade,
– tratar de feridas e cortes em sua casca, entre outros cuidados.

Só dessa forma, podemos demonstrar respeito, amor e gratidão pelas árvores e por nós mesmos.

Abaixo, a Tipuana tipu (em imagem do Google Maps) salva no dia 12/2/2016, no bairro de Higienópolis, pelos guardiões das árvores de São Paulo. Em seguida, detalhes de árvores da mesma espécie.

tipuana-googlemaps

Tipuanas são berços de vida nas cidades: sua casca rugosa acolhe inúmeras espécies de epífitas
como diferentes espécies de samambaias, rhipsális, orquídeas e até bromélias.

Tipuana_tipu00

Tipuana saudável cortada: sua seiva oxida, fica vermelha e lembra sangue. Muito simbólico.

Fotos: Juliana Gatti (abre), Google Maps e Wickmedia Commons

9 comentários em “Como cuidar das árvores de sua cidade: 7 dicas e uma história inspiradora

  • 16 de fevereiro de 2016 em 3:00 PM
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    Que linda história de salvamento! realmente inspiradora….
    Parabéns! e gostei de saber mais da Tipuana. Vida longa e feliz!

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    • 17 de fevereiro de 2016 em 1:41 PM
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      Olá Ceci, agradeço a visita e leitura do post! Essa é a missão do portal Conexão Planeta, inspirar para a ação. Todos podem fazer movimentos que certamente são benéficos para toda sociedade. O importante é acreditar e agir! As tipuanas realmente são árvores muito especiais para a história da arborização da nossa cidade, tratar elas e todas as árvores e seres vivos com o respeito é o minimo que podemos fazer!

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  • 17 de fevereiro de 2016 em 9:13 AM
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    Parabéns….. você é alguem muitoooooo especial para nossa casa maior… nosso planeta…. faço pequenas açoes… mas gostaria de fazer coisas maiores como você.. vou começar a pesquisar sobre a legislação!

    Parabéns mesmo!!!!! VC É UM EXEMPLO DE SER HUMANO!

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    • 17 de fevereiro de 2016 em 1:38 PM
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      Olá Dayse, que bom saber que este post lhe inspirou a agir mais. Pequenas ou grandes, na verdade não se trata de medida, porque como você mesma leu: um aviso, um simples compartilhamento de informações, muitas pessoas unidas por uma intenção comum.. isso fez o pequeno ser gigante!

      O importante é agir, com inspiração, intenção, mais responsabilidade e consciência. Saber sobre legislação, parece para muitos algo dificil e distante… mas ok, isso pode ser mudado… É importante saber mais sobre leis, como podemos ser mais ativos junto ao governo, como podemos exigir nossos direitos, nos envolvendo e participando conseguiremos ter maior representatividade desses direitos através de nossos representantes. Temos que votar, acompanhar, participar e cobrar. Somente com participação poderemos tornar nossa democracia mais eficiente.

      Parabéns a você que realiza ações! Certamente os benefícios delas já fazem bem para muitos!

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  • 28 de abril de 2018 em 12:26 AM
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    Olá Juliana
    Parabéns pelo trabalho inspirador.
    Moro na Vila Andrade numa rua linda e cheia de árvores.
    Entretanto o terreno aonde ficam estas árvores são de propriedade da Camargo Corrêa.
    Hoje vi uma nova placa de edificação e algumas árvores já foram cortadas. Há algo que possa ser feito neste caso?
    Obrigado

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  • 2 de junho de 2019 em 3:57 PM
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    Oi sou de Belo Horizonte e aqui na calçada do meu prédio existem duas figueiras, sendo uma delas ê nativa do bairro uma gameleira adulta jovem de 12 anos repleta de figos o que atrai pássaros de toda sorte, porém a síndica do prédio implicou com estas árvores dizendo que figueiras é cafona e pode atrair morcegos frutíferos o que ela odeia, assim jurou as árvores de corte, e vai contratar empresa para derrubar.
    O que fazer para impedir esse crime, alguém conhece pessoas, grupo, ONGs aqui de Belo Horizonte para me orientar ou ajudar salvar essas lindas árvores?
    Para quem é de BH essa arvores ameaçadas estão na calçada do prédio da Rua Osvaldo Cruz esquina de Rua Duque de Caxias no bairro chamado Gameleira, devido a ocorrência natural dessas figueiras.
    Meu contato: rairaimondo28@hotmail.com . Aguardo contato ARNALDO.

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Juliana Gatti

Mestranda na área de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, sua pesquisa dedica-se a avaliar a influência da natureza na qualidade de vida de crianças e sociedade. Idealizou o Instituto Árvores Vivas em 2006, onde promove ações de conexão com a natureza por meio de apreciação, restauração e fomento da cultura ambiental.