*Por Rafael Cardoso
A Unidos do Viradouro é a campeã do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024. No ano em que a Marquês de Sapucaí comemora o 40ª aniversário, a escola de samba teve o melhor desempenho entre as doze que se apresentaram no Grupo Especial: 270 pontos. Foi o terceiro título da escola. O último havia sido em 2020.
Com um samba que homenageia o culto ao vodum serpente, que nasceu na Costa ocidental da África, a Viradouro foi a última escola a entrar na Sapucaí na segunda-feira (12/02), o segundo dia de desfiles.
Liderada pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, a escola de Niterói apresentou enredo com o título “Arroboboi, Dangbé”. O objetivo foi apresentar a força da mulher negra, por meio de um culto africano à cobra sagrada vodum. O samba teve composição de Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinícius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno.
A história do culto ao vodum serpente remonta ao século XVIII em Benin, na Costa ocidental da África – atuais – onde ele nasce durante uma batalha das guerreiras Mino, do reino Daomé. Elas foram iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé.
A Viradouro também contou como o culto chegou ao Brasil, em terreiros na Bahia, sob a liderança da sacerdotisa daomeana Ludovina Pessoa, que espalhou a fé nos voduns pelo território.
Comissão de frente da escola mostra as guerreiras Mino
(Foto: @scorzaphoto / Riotur)
As outras cinco melhores colocadas na apuração de hoje foram: Imperatriz Leopoldinense, Grande Rio, Salgueiro, Portela e Vila Isabel. Elas se juntam à Viradouro para o Desfile das Campeãs, que acontece no Sambódromo, no próximo sábado (17/02). Com 264,9 pontos, a Porto da Pedra foi rebaixada e vai disputar a Série Ouro em 2025.
Esse ano, havia uma tensão quanto ao resultado final, antes mesmo da divulgação das notas. No início da apuração, Jorge Perlingeiro, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), organizadora do Grupo Especial, disse que estava em análise recurso apresentado pela Grande Rio, Imperatriz, Mocidade e Beija-Flor contra a Viradouro.
Elas pediram para a escola ser punida com a perda de 0,5 ponto por uma irregularidade na comissão de frente. A alegação é que o limite de 15 integrantes visíveis durante a apresentação foi ultrapassado. Mas como a Viradouro ficou 0,7 ponto a frente da segunda colocada, nem o recurso, caso seja aprovado, tira o título da escola.
Evolução da porta-bandeira da Viradouro
(Foto: @scorzaphoto / Riotur)
Samba campeão da Viradouro
Eis o poder que rasteja na terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do vodun
Rastro que abençoa Agojiê
Reza pra renascer, toque de Adarrum
Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher
Um levante à liberdade, divindade em Daomé
Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar
Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar
Ergue a casa de Bogum, atabaque na Bahia
Ya é Gu rainha, herdeira do candomblé
Centenário fundamento da costa da Mina
Semente de uma legião de fé
Vive em mim
A lealdade das irmãs de cor
E a força que herdei de Hundé e da luta Minó
Vai serpenteando feito rio ao mar
Arco-íris que no céu vai clarear
Ayi! Que seu veneno seja meu poder
Bessen que corta o Ayin-agbè
Sagrado Gume-kujo
Vodunsis o respeitam, clamam Kolofée
Os tambores revelam seu afé
Ê Alafiou, ê Alafiá, é o ninho da serpente
Jamais tente afrontar
(preparado pra lutar)
Arroboboi meu pai, Arroboboi Dangbê
Destila seu axé na alma e no couro
Derrama nesse chão a sua proteção
Pra vitória da Viradouro
O desfile da escola campeã: o terceiro título da Viradouro
(Foto: @scorzaphoto / Riotur)
*Texto publicado originalmente em 14/02/24 no site da Agência Brasil
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Foto de abertura: @scorzaphoto / Riotur
