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Cientistas descobrem o segredo da incrível fertilidade do rato-toupeira-pelado

Cientistas descobrem o segredo da fertilidade do rato-toupeira-pelado

Nem dá pra dizer que ele é bonitinho. Difícil, não? O rato-toupeira-pelado (Heterocephalus glaber) é um animal que vive em tocas debaixo da terra, em países no leste da África, como Etiópia, Quênia e Somália. De pele rosada translúcida, praticamente sem pelos, ele tem dois dentes protuberantes e olhos minúsculos, o que o torna quase cego. Apesar de toda essa falta de “beleza”, por assim dizer, a espécie apresenta algumas características impressionantes, especialmente dentre roedores: ele pode viver até 30 anos e se reproduz até o final da vida.

Poucas fêmeas conseguem tal proeza. Entre os mamíferos, incluindo aí os seres humanos, com o passar dos anos a fertilidade vai diminuindo. E essa foi uma questão que sempre intrigou cientistas sobre o rato-toupeira-pelado.

Para descobrir qual seria o segredo dessa fertilidade infinita, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá estudou o processo reprodutivo desses animais em laboratório e os comparou com outras espécies de roedores.

“Os ratos-toupeiras-pelados são os mamíferos mais estranhos que existem. São os roedores que vivem mais tempo, quase nunca têm câncer, não sentem dor como outros mamíferos, vivem em colônias subterrâneas e apenas a rainha pode ter filhotes. Mas para mim, a coisa mais incrível é que eles nunca param de ter filhotes – eles não têm uma queda de fertilidade à medida que envelhecem. Queremos entender como eles fazem isso”, diz Miguel Brieño-Enríquez, professor assistente do Instituto de Pesquisa Magee-Womens e do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Ciências Reprodutivas da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh.

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O pesquisador é o autor principal de um artigo científico publicado ontem (21/02) na revista Nature Communications sobre o tema. Nele, Enríquez e seus colegas contam o que descobriram.

Outros mamíferos, como é o caso das mulheres, nascem com um um número finito de óvulos. À medida que se envelhece, eles vão diminuindo através do processo da ovulação e outros simplesmente morrem. Mas isso não acontece com a fêmea do rato-toupeira-pelado.

Ao comparar fêmeas da espécie com as de rato, descobriu-se que as primeiras nascem com um número muito maior de óvulos. Com oito dias de vida, elas já possuem cerca de 1,5 milhão de óvulos, 95% a mais do que uma rata da mesma idade. E quando completam cerca de nove meses, essas últimas já apresentam uma redução no volume de óvulos. O que não acontece com a rata-toupeira.

Outra descoberta que surpreendeu os pesquisadores foi que a oogênese (processo de formação, desenvolvimento e maturação do óvulo) ocorre logo após as fêmeas de ratos-toupeiras-pelados nascerem. As células precursoras de óvulos já se dividem ativamente em indivíduos de três meses de idade, assim como nos de dez anos, sugerindo que ela possa acontecer ao longo de toda a vida.

“Essa descoberta é extraordinária. Ele desafia o dogma que foi estabelecido há quase 70 anos, que afirmava que as fêmeas de mamíferos são dotadas de um número limitado de óvulos antes ou logo após o nascimento, sem que nenhuma adição seja feita à reserva ovariana”, ressalta Ned Place, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Cornell e autor-sênior do estudo.

“Isso é importante porque, se pudermos descobrir como elas são capazes de fazer isso, poderemos desenvolver novas metas ou técnicas de medicamentos para ajudar a saúde humana”, destaca Enríquez. “Embora os humanos estejam vivendo mais, a menopausa ainda acontece na mesma idade. Esperamos usar o que estamos aprendendo com o rato-de-toupeira-pelada para proteger a função dos ovários mais tarde na vida e prolongar a fertilidade”.

Cientistas descobrem o segredo da fertilidade do rato-toupeira-pelado

Um rato-toupeira-pelado pesa entre 30 e 40 gramas, mas a rainha da colônia pode ter até 70 gramas
(Foto: divulgação UPMC)

O curioso modo de vida do rato-toupeira-pelado

Miguel Brieño-Enríquez tem realmente razão quando diz que essa espécie de roedor é muito estranha. Além de sua aparência “exótica”, o rato-toupeira-pelado tem um modo de vida que se assemelha mais às abelhas do que outros mamíferos.

Em suas tocas, esses animais vivem em grupos que podem variar entre 70 até 300 indivíduos. Há apenas uma fêmea reprodutora e todos os demais passam a vida trabalhando.

A gestação da rainha dura aproximadamente 70 dias. Ela pode ter uma ninhada a cada dois meses e meio e o número de filhotes é variável. A média é de 12, mas pode chegar a 30.

A fêmea amamenta os recém-nascidos por um mês. Após esse período eles já ingerem comidas sólidas, entre elas, fezes. O coco não apenas fornece nutrientes necessários, como inocula seu sistema digestivo com fauna intestinal benéfica.

Além disso, eles não conseguem regular uma temperatura corpórea estável, sendo afetados por condições externas. Por isso, têm o sangue frio. Mas ao se agrupar, eles diminuem a taxa de perda de calor.

*Com informações e entrevistas do site da Universidade de Pittsburgh (UPMC) e do Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute

Foto de abertura: Meghan Murphy, Smithsonian’s National Zoo/Creative Commons/Flickr

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