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‘Carta de Bonito’: documento reivindica proteção do patrimônio natural da região que é referência de ecoturismo no país

'Carta de Bonito': uma declaração de amor e de proteção do patrimônio natural da região que é referência do ecoturismo no país

Ontem, 22/10, um grupo de organizações não governamentais realizou um encontro especial em Bonito, Mato Grosso do Sul, para debater a conservação do patrimônio natural da região e os impactos negativos da depredação na economia local.

Isso, na mesma semana em que a pressão popular (dessas organizações, inclusive) mostrou sua força e legitimidade ao derrubar projeto de lei – incluído na pauta da Câmara dos Vereadores para votação às pressas na última segunda-feira, 18/10 – que propunha a realização de um estudo que viabilizasse a captação das águas cristalinas dos rios da cidade, como o Formoso, para abastecimento. Águas límpidas como as que o biólogo e doutor em ecologia, José Sabino, registrou nas imagens que ilustram este post. Foi emblemático. Contamos aqui.

'Carta de Bonito': uma declaração de amor e de proteção do patrimônio natural da região que é referência do ecoturismo no país
Foto: José Sabino/Natureza em Foco

O grupo composto pelo Instituto Raquel Machado, SOS Pantanal, Fundação Neutrópica Brasil, Observatório de Justiça e Conservação e o coletivo Unidos Serra da Bodoquena criou um movimento ao qual deram o nome de Bonito por Natureza, lançado hoje, oficialmente, e que produziu um documento muito importante: a Carta de Bonito alinha tudo que pode e deve ser feito para a proteção de Bonito (leia na íntegra, mais abaixo).

Para a realização de seu 1º Encontro de Turismo e Conservação de Bonito (que pode ser assistido aqui) contaram com o apoio de outras instituições: Onçafari, Fundação SOS Mata Atlântica, Rede Pró-UC, Instituto Homem Pantaneiro e Abrampa – Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente.

Com a presença da atriz Cristiana Oliveira – madrinha do movimento Bonito por Natureza – e da jornalista Sonia Bridi, que fez a mediação, o evento reuniu tomadores de decisão, representantes das ONGs citadas acima, dos setores públicos, como a secretária de turismo Juliane Salvatori, e empresários locais como Almira Dias Soares, responsável por passeios ao Abismo Anhumas, lago subterrâneo extenso com águas cristalinas e formações rochosas, e Henrique Ruas, proprietário da Pousada Olhos d’Água.

Também participaram o macroeconomista ambiental Cadu Young, autor do livro Quanto vale o verde: a importância econômica das unidades de conservação brasileiras, Marcos Rosa, diretor técnico do MapBiomas, que apresentou o Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil, e o jovem Gabriel Adami, do movimento Fridays for Future (iniciado naturalmente por Greta Thunberg, na Suécia), que contou como as crianças e a juventude esperam da conservação de Bonito, no futuro, um local próspero de natureza e biodiversidade.

'Carta de Bonito': uma declaração de amor e de proteção do patrimônio natural da região que é referência do ecoturismo no país
No Rio Sucuri / Foto: José Sabino/Natureza em Foco

“A gestão organizada de todos os recursos naturais é fundamental para a conservação da biodiversidade e a continuidade das atividades turísticas em Bonito. Esse encontro foi fundamental para discutir meios sustentáveis de gerir a economia da região que é totalmente ligada ao ecoturismo”, comenta Raquel Machado, do instituto que leva seu nome e atua na região.

Para Giem Guimarães, empresário e diretor executivo do Observatório de Justiça e Conservação, uma das realizadoras do encontro, “Bonito é um caso de sucesso turístico e ambiental, e precisamos conservar esse bioma para as próximas gerações. Devemos conservar a vegetação nativa, o solo, as águas cristalinas e tudo aquilo que corre o risco de desaparecer”.

Roberto Klabin, proprietário do Refúgio Ecológico Caiman, considerado um dos 20 melhores destinos de turismo do mundo, além de ser fundador da SOS Pantanal, uma das idealizadoras do encontro, destaca que ”Bonito é uma das últimas regiões do Brasil, entre as mais próximas de grandes centros populacionais, que ainda mantém uma condição muito peculiar com os rios limpos, transparentes, e isso gera uma cadeia de oportunidades para o município, que passa, principalmente, pelo turismo e por meio da conservação desses recursos”.

Uma carta para Bonito

'Carta de Bonito': uma declaração de amor e de proteção do patrimônio natural da região que é referência do ecoturismo no país
No Rio Sucuri / Foto: José Sabino/Natureza em Foco

Do encontro, resultou um documento – a Carta de Bonito – que alinha tudo que propõe e deseja o movimento Bonito por Natureza, e que reproduzimos aqui:

O Município de Bonito(MS) é uma referência em ecoturismo no Brasil e vem há mais de trinta anos aprimorando a oferta de serviços turísticos de forma inovadora para visitantes de todo o mundo. Além de proporcionar uma experiência única ligada à natureza, o setor do turismo e suas atividades correlatas vêm beneficiando de diversas maneiras a sociedade em geral e, modo mais direto, os seus moradores. 

Em 2019, com uma população de 22.401 habitantes, Bonito recebeu cerca de 210 mil visitantes que realizaram mais de 700 mil passeios em suas atrações naturais. Mais da metade dos empregos formais no município (55% do total) estão atrelados ao setor de serviços diretamente relacionados ao turismo, tais como hotéis, pousadas, restaurantes, comércio e visitação dos seus atrativos.

As belezas únicas de Bonito e a sua fruição por meio das atividades turísticas geram riquezas para o Município e para o Estado do Mato Grosso do Sul, o que se reflete em uma vigorosa taxa de crescimento médio do PIB local em cerca de 14%, e uma clara superioridade histórica do comércio e serviços na sua composição, mesmo frente a soma dos setores da agropecuária e da indústria.

Essa contribuição também se evidencia no ISS municipal, sendo o turismo o seu principal fator gerador, tanto que representa aproximadamente ¼ de sua receita própria.

Contudo, a paisagem natural da região vem sofrendo impactos negativos de outros setores econômicos, o que ameaça a qualidade ambiental, o ecoturismo, a principal fonte de receitas do município e região e a sobrevivência de milhares de pessoas que vivem de atividades relacionadas ao turismo. 

Por essa razão, o grupo de instituições e pessoas com notável conhecimento em preservação ambiental e em atividades econômicas sustentáveis, reunidas na data de 22/10/2021, preocupados com o futuro de Bonito, declaram a necessidade e urgência de adoção de medidas concretas para a preservação e recuperação ambientais, a cessação de práticas em desconformidade com a lei e o fomento de atividades econômicas que assegurem a conservação do patrimônio natural e a sustentabilidade das comunidades locais ligadas ao ecoturismo, tais como:

  1. o estabelecimento de um zoneamento econômico-ecológico (ZEE), instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente capaz de delimitar a adequada proteção de recursos hídricos e remanescentes de vegetação nativa, especialmente da Mata Atlântica, para viabilizar um desenvolvimento que compatibilize a conservação do meio ambiente, a geração de empregos, o crescimento econômico e a valorização do patrimônio ambiental e cultural;
  2. a criação e implementação do Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), previsto no art. 38 da Lei Federal nº 11.428/06, para evitar a continuidade do desmatamento dos remanescentes de vegetação nativa desse bioma e possibilitar a captação de recursos financeiros para projetos de conservação;
  3. a proteção das Áreas Úmidas – que funcionam como verdadeiros filtros de água e protegem os recursos hídricos da bacia hidrográfica da região de Bonito, seja por meio da criação de Unidades de Conservação, seja através de declaração de espaços na condição de Área de Preservação Permanente;
  4. a indispensável adoção das melhores técnicas disponíveis para o uso e conservação do solo nas atividades agropecuárias, de modo a impedir processos erosivos e o carreamento de sedimentos;
  5. a fiscalização pelos órgãos competentes do integral cumprimento à Lei Estadual nº 1.871/98, que criou a Faixa de Proteção Especial de 150 metros para cada margem dos rios Prata, Formoso e seus afluentes, e disciplinou as atividades que podem ser desenvolvidas nessa área protegida;
  6. o estabelecimento e aperfeiçoamento de medidas para conservar, proteger e limitar o uso do solo cárstico;
  7. a utilização de instrumentos econômicos para a preservação do patrimônio natural de Bonito e região, a exemplo do Pagamento de Serviços Ambientais aos proprietários rurais que conferem proteção ao meio ambiente além do patamar mínimo exigido pela legislação; e
  8.  a priorização da destinação de verbas para projetos de recuperação e proteção dos recursos hídricos e de vegetação nativa de Bonito, seja das medidas compensatórias oriundas de termos de ajustamento de conduta e de licenciamentos ambientais, seja das verbas oriundas do ICMS Ecológico;

Bonito/MS, 22 de outubro de 2021

'Carta de Bonito': uma declaração de amor e de proteção do patrimônio natural da região que é referência do ecoturismo no país
No Rio Olho d’Água / Foto: José Sabino/Natureza em Foco

Foto (destaque): “Piraputangas sao os peixes mais emblemáticos da região de Bonito. Ocorrem em todos os rios da Bodoquena”, conta José Sabino/Natureza em Foco

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