Veículos automatizados poderão evitar o atropelamento de animais em rodovias

Muito se fala dos veículos automatizados, que estarão mais acessíveis na próxima década. As previsões chegam a dizer que, em 2040, a maioria dos carros que circularem pelas estradas de países desenvolvidos como Estados Unidos ou da Europa provavelmente será controlada por software. Isso significa tecnologia de ponta e inovação que poderá salvar vidas, não só humanas, mas também de inúmeros animais.

Foi o que destacaram os biólogos Amanda Niehaus e Robbie Wilson, da Universidade de Queensland, em seu artigo Integração da biologia da conservação no desenvolvimento da tecnologia de veículos automatizados para reduzir colisões de veículos com animais, publicado na revista Conservation Letters (publicação da Sociedade de Biologia para Conservação), recentemente. “Todos os anos, centenas de milhões de animais morrem em colisões com carros. Por isso, o surgimento de veículos automatizados proporcionará novas oportunidades para o uso de sistemas informatizados de alerta de animais“.

No Brasil, o atropelamento de animais nas estradas é um problema grave. Já falamos disso, aqui no Conexão Planeta, algumas vezes (veja alguns links ao longo deste post e no final dele).

De acordo com Niehaus e Wilson, já há várias medidas sendo tomadas para tornar as estradas mais seguras para a vida selvagem, incluindo cercas nas estradas e cruzamentos especializados. Mas eles ponderam que são métodos frequentemente caros e pouco eficazes. “Nós acreditamos que o melhor potencial para reduzir colisões de veículos com animais está por vir”, escreva Niehaus e Wilson.

Niehaus e Wilson contam que os fabricantes de carros automatizados têm desenvolvido sistemas com câmeras de radar ou infravermelho para detectar seres humanos ou grandes animais perto de estradas. Mas ele ainda precisa de aperfeiçoamento para identificar pequenos animais também.

Eles acreditam que, para o melhor desenvolvimento de sistemas de navegação ligados à Internet – que podem adotar limites de velocidade bastante variáveis, ​​que são automaticamente reduzidos quando animais são detectados ou quando são identificados pontos críticos de colisão -, é necessário o envolvimento de biólogos e pesquisadores da conservação, especializados no tema. Eles podem ajudar a enriquecer os dados sobre pontos críticos nas estradas – com detalhes sobre os animais atingidos com frequência -, a relação entre velocidade e colisão e também se envolver no design de veículos, por que não?

Sem a orientação de conservacionistas, os dois biólogos entendem que os fabricantes dos veículos certamente se preocuparão muito mais com as colisões que atingem os seres humanos. Mas não são apenas as pessoas que usam nossas estradas! Só que, como se viu, criaturas menores dificilmente serão consideradas. Com mais um detalhe: se essa parceria não acontecer, os veículos automáticos, na verdade, poderão aumentar o número de atropelamentos caso sejam permitidos limites de velocidade mais elevados do que o habitual. “É um risco não munir a indústria de informação para que considerem os efeitos dos atropelamentos sobre a vida selvagem”.

Os biólogos ainda lembram que há ferramentas como as desenvolvidas pela Ciência Cidadã que mapeiam as “estradas da morte” e que os dados obtidos a partir deles podem ser incorporados facilmente aos sistemas de navegação GPS.

“Embora muitos fabricantes revelem interesse em criar uma reputação verde, cabe aos biólogos da conservação garantir que os dados apropriados estejam disponíveis e sejam utilizados”, finalizam Niehaus e Wilson. E não são apenas cientistas que têm papel relevante a desempenhar nesse cenário: cidadãos e consumidores podem pressionar as empresas desse segmento para que considerem a segurança animal e humana em seus projetos.

Avanços das pesquisas no Brasil

Há iniciativas desenvolvidas no Brasil, que têm se apresentado como boas soluções para o problema dos atropelamentos nas estradas. No Cerrado brasileiro, por exemplo, desde 2015 antas recebem coleiras luminosas para evitar atropelamentos. O resultado registrado é muito promissor: as dez antas protegidas com a coleira continuam vivas.

Além disso, pesquisadoras de São Paulo se uniram para desenvolver sistema eletrônico de detecção de animais nas estradas brasileiras, sobre o qual já falamos aqui, no site, também. Como se vê, aqui no Brasil, independente da tecnologia dos veículos automotivos, há pesquisadores preocupados em reduzir os atropelamentos de animais nas estradas, tanto com o objetivo de conservar a biodiversidade como para salvar vidas humanas.

Com informações do artigo de Brandon Keim para a revista Antropocene

Para saber mais:
Sistema de radar detecta animais e avisa motoristas para evitar atropelamentos 
Antas ganham coleiras luminosas para evitar atropelamentos no Cerrado 
Pará ganha primeiro viaduto para travessia de animais do Brasil 

Ilustração: L-A / Flickr

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.