Caminhada pelo centro de São Paulo revela espaços de comércio justo e economia solidária

Caminhar é uma atividade que é parte da nossa vida diária. No meu caso, como boa mineira, percorrer trechos, que parecem relativamente longos aos olhos de outras pessoas, a pé, me traz descobertas, novos olhares sobre as cidades, os espaços, as pessoas. E, como disse Jean Jacques Rousseau, “só posso pensar quando ando”.

Nos últimos dias, por razões várias, caminhei bastante pelo centro da cidade de São Paulo, em especial na região da República. E em uma única rua me deparei com dois espaços/iniciativas que quero compartilhar com você.

Na rua Major Sertório, em uma mesma quadra, é possível comprar produtos da agricultura familiar vindos diretamente dos produtores e adquirir itens dentro da filosofia do ‘compro-de-quem-faz’. É ali, naquele miolinho bem próximo ao Copan, que se localizam o Instituto Feira Livre e o Galpão Jardim Secreto.

O Instituto Feira Livre é uma iniciativa já relativamente conhecida por quem tem entre seus hábitos comprar diretamente do produtor. E alimentos orgânicos! É uma feira-mercearia-café que funciona nos mesmos moldes do Instituto Chão (que fica na Vila Madalena), mas localizado bem no coração da cidade. O preço do custo do produtor está colocado nos itens, e as despesas do espaço e da manutenção da operação estão divulgados em local visível. Ao fim da compra, é sugerido um percentual do valor para cobrir essas despesas.

O resultado é que o preço de custo do produtor somado a esse percentual se traduz num valor bem menor do que aquele que é pago em grandes redes de supermercados na compra de produtos orgânicos. E o valor que retorna para o produtor é muito maior.

Costumo comprar os orgânicos por meio do sistema de cesta, com produtos oriundos da zona rural sul de São Paulo, produzidos na região de Parelheiros, entregues em casa semanalmente. Já conhecia a proposta do Feira Livre, mas como tenho ido pouco ao centro de São Paulo, essa caminhada me proporcionou conhecer o lugar, entrar, apalpar com carinho as verduras e hortaliças, sentir a energia do lugar e perceber o vai e vem de pessoas, que parecem já ter se habituado à presença do Instituto e à possibilidade de consumir alimentos mais saudáveis.

Além disso, produtos beneficiados por cooperativas, grupos diversos e pelo MST são também comercializados no local. Como a recém-lançada cerveja Terra Livre American Rice Beer, realizada em parceria com a Coopat – cooperativa que reúne famílias do MST assentadas no Rio Grande do Sul e é responsável pela maior produção de arroz orgânico na América Latina, o Terra Livre – e a cervejaria SteinHaus. Geleias, óleos, cafés e uma diversidade de itens vindos de diversas regiões do país, sempre com a pegada de modos alternativos de produção, inclusivos e na maioria das vezes envolvendo grupos produtivos e da economia solidária.

Alguns passos à frente, me deparei com o Galpão do Jardim Secreto. Já escrevi aqui, no Conexão Planeta, sobre a Feira Jardim Secreto, evento itinerante que reúne pequenos empreendedores e também produtos da economia solidária. A cada edição da Feira é possível conversar diretamente com os pequenos empreendedores, entender processos e cadeias produtivas e perceber que o consumo pode ter mais sentido.

Nos últimos tempos, a Feira tem sido realizada na Praça Dom Orione, na Bela Vista, e é também um convite a bater pernas por lá. Este ano, já aconteceram duas edições, reunindo centenas de pequenos produtores nas áreas de moda, acessórios, cosméticos, decoração, publicações, alimentação, orgânicos e, claro, itens de grupos de economia solidária.  

O Galpão na Major Sertório é novo, foi inaugurado em março. Nasceu da vontade de ampliar e seguir fomentando a economia criativa. Ele é uma extensão do Jardim Secreto, um lugar para mostrar outras possibilidades. Vai abrigar projetos parceiros que compartilharão o espaço para divulgar sua produção e suas histórias.

Nesse primeiro momento, lá estão o ateliê coletivo Transforma, a casa de chás e lancheteria Balcão Verde, a floricultura Blumenfee, além de lojas exclusivas da Fala e da Santa Nuvem e uma loja colaborativa que reúne as marcas Somos 55, WoodCoffee e Marina Tangerina – que produz bolsas e acessórios artesanais envolvendo grupos de economia solidária em sua cadeia.

Fica, aqui, o convite pra que, caso você que me lê esteja em São Paulo, dê uma volta ali pelo centro e conheça esses dois espaços. E possivelmente descubra muitos outros. E pra quem não está em São Paulo, a sugestão é a mesma: conheça e descubra sua cidade a pé. Você pode se surpreender.

Foto: Divulgação/Instituto Feira Livre

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.