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Cacique Raoni convoca grande encontro indígena no Xingu, que reunirá 450 representantes de 47 povos brasileiros

A partir de amanhã, 14 – e até 17 de janeiro -, a aldeia Piaraçu, às margens do rio Xingu, no Mato Grosso, receberá 450 representantes de 47 povos indígenas do Brasil, entre lideranças, guerreiros, pajés e outros. Eles foram convocados pelo cacique Raoni Metuktire, 89 anos – líder dos kayapó e um dos indigenas mais respeitados e reconhecidos no mundo – para debater sobre a situação trágica e perigosa em que todos os povos se encontram no país, provocada pela política anti-indigenista do governo Bolsonaro. E buscar soluções.

Será um grande encontro históricoo primeiro de 2020, e também o maior e mais diversificado, já realizado – que tem, por objetivo, identificar saídas para impedir que o governo continue avançando com seu plano devastador, que legitima invasões e a violência, e visa explorar as terras indigenas, a qualquer custo. Tanto que está finalizando projeto de lei que libera suas terras para exploração, que irá para votação no Congresso logo que o recesso acabar.

Liderados por Raoni, os 450 indigenas presentes pretendem elaborar um plano de ação para enfrentar e neutralizar as ações do governo. Também debaterão sobre o papel dos jovens – que muitas vezes são cooptados por criminosos (leia sobre o encontro dos Yanomami e Ye’kwana, antes de terminar o ano e da campanha contra o garimpo, realizada junto com o ISA), da mulher e do movimento indígena no país.

Indígenas, pela vida

No ano passado, por volta de setembro, o governo Bolsonaro contou que preparava projeto de lei para liberar a exploração de terras indigenas para a mineração. A declaração causou revolta pela ousadia, mas não surpreendeu já que o presidente nunca escondeu seu desejo de extrair a riqueza que existe no solo dessas terras e mostrava, a cada pronunciamento, que estava determinado. Mas, no último sábado, 11/1, o jornal O Globo divulgou que teve acesso à minuta do tal projeto e que a proposta é muito mais ampla, ou seja, se aprovado, terá muito mais impacto sobre as comunidades do que o imaginado até então.

O PL que a Casa Civil vai enviar ao plenário assim que os parlamentares voltarem das férias, não só libera a exploração desses territórios para a atividade mineradora, como também para a construção de hidrelétricas e a exploração de petróleo e gás, e permite “o exercício de atividades econômicas, pelos índios em suas terras, tais como agricultura, pecuária, extrativismo e turismo”. Com mais um detalhe: no que se refere à agricultura, também será permitido o cultivo de organismos geneticamente modificados, – ou transgênicos – exceto em unidades de conservação”.

O desmonte das politicas indigenistas, com o enfraquecimento da Funai (o governo tentou levar para a pasta da agricultura a responsabilidade pela demarcação de terras, por exemplo, e separou essa ação da Funai, que foi entregue à ministra Damares, lembra?), tem tornado esses povos cada vez mais vulneráveis a invasões e ataques de grileiros, madeireiros, garimpeiros e outros criminosos, e levado inúmeras lideranças à morte (leia Número de lideres indigenas mortos em 2019 é o maior da década). E isso não foi à toa, claro.

Como resposta a tanta violência e desrespeito, hoje, os indígenas estão muito mais organizados e liderando importantes movimentos e ações pelo país e no exterior. O ano de 2019 foi muito especial nesse sentido, como resposta à truculência de Bolsonaro e seus ministros, principalmente do meio ambiente e da agricultura. Abaixo, relato de forma bem resumida, alguns dos principais acontecimentos, indicando os links das reportagens que publicamos, para quem quiser se aprofundar.

Em maio, o cacique Raoni visitou à Europa – acompanhado de lideranças jovens – para pedir ajuda para a proteção do Xingu. Em agosto, o cacique kayapó entregou carta a Emmanuel Macron, presidente da França (com quem havia estado em maio), dirigida aos países do G7 para pedir ações para a proteção da Amazônia. Em setembro, lideranças indígenas participaram da Cúpula Climática e fizeram manifestação de repúdio ao discurso mentiroso de Bolsonaro, que chamou o líder kayapó de “massa de manobra de ONGs”, na Assembleia Geral da ONU. Os dois eventos aconteceram quase que simultaneamente.

Vale lembrar que, assim que chegou ao Brasil, depois desses encontros, Raoni recebeu o apoio de parlamentares na Câmara dos Deputados, em Brasília. Em setembro, ele foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz deste ano, mas houve um movimento para que disputasse já o prêmio do ano passado, em que figurava Greta Thunberg. Venceu o primeiro-ministro da Etiópia.

Em outubro, a Jornada Sangue Indígena foi à Europa para encontrar ativistas, governantes e empresários de 18 cidades em 12 países para pedir que boicotem produtos brasileiros que sejam fruto do desmatamento e da violência contra esses povos.

Em meados de novembro, em Altamira, no Pará, foi realizado o encontro Amazônia: Centro do Mundo, que reuniu ativistas brasileiros e estrangeiros, intelectuais de universidades e institutos de pesquisa, pensadores, representantes de movimentos sociais e de povos indígenas (Raoni estava lá, claro!) e comunidades ribeirinhas – todos defensores da preservação da Amazônia e dos direitos dos povos da floresta – para debater o cenário promovido pelo governo Bolsonaro com ataques ao bioma e a seus povos, e para redigir um manifesto.

Em dezembro, lideranças indígenas participaram da Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, em Madri, na Espanha.

Que o encontro histórico convocado e liderado por Raoni fortaleça a união desses povos e também inspire a sociedade a participar desse movimento pela vida. Sem os povos indígenas e seu talento natural para cuidar da natureza não há futuro possível para a humanidade.

Vamos acompanhar, mas não faremos cobertura in loco. Para quem quiser saber notícias dia a dia, sugerimos que siga a Apib – Articulacao dos Povos Indígenas Brasileiros e a Mídia Ninja no Instagram.

Foto: Fernando Frazão, Agência Brasil

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