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Brasileiros fazem registro, inédito no mundo, de louva-a-deus se alimentando de látex do mamão

Brasileiros fazem registro, inédito no mundo, de louva-a-deus se alimentando de látex do mamão

O flagrante foi por acaso. Era 2016 e a equipe do Projeto Mantis* estava numa viagem de Campo, em uma região de Mata Atlântica, no estado do Rio de Janeiro, coletando exemplares de louva-a-deus . Mas um dos protocolos seguidos pelos pesquisadores era retirar o mínimo de insetos da natureza e por isso, dos sete coletados, três foram liberados.

Todavia, o último deles foi solto em um mamoeiro. Como um dos integrantes da expedição tinha pego um mamão pouco antes para comer mais tarde, a planta começou liberar seu característico látex. Imediatamente o louva-a-deus começou a subir pelo tronco e parou em frente à fonte da substância branca e viscosa, abaixando-se. O inseto começou a se alimentar incessantemente.

E por que isso é tão surpreendente? Porque até então, acreditava-se que, em seu ambiente natural, o louva-a-deus era estritamente carnívoro, ou seja, só se alimentava de outros animais vivos. E o látex é um material vegetal.

“O louva-a-deus come principalmente outros insetos, como mariposas e borboletas, gafanhotos e grilos, moscas, baratas. Ele consegue capturar qualquer animal que seja um pouco menor que ele. Há alguns louva-a-deus com mais de 10cm, e existem anfíbios pequenos, com 3cm, 4cm. Até pássaros também, tem beija-flor de 4cm, que um louva-a-deus grande pode pegar”, ressalta Leonardo Lanna, fundador e diretor do Projeto Mantis.

Brasileiros fazem registro, inédito no mundo, de louva-a-deus se alimentando de látex do mamão

O látex do mamão é considerado tóxico

O registro, inédito no mundo, feito pelas lentes de Lanna, e a descoberta desse comportamento na vida selvagem, ganhou uma nota científica na publicação internacional Entomological Communications.

“É conhecido o fato de os louva-a-deus em cativeiro aceitarem fontes suplementares de alimento, como mel e até frutas. Porém, até agora, não havia nenhum registro de tal comportamento por uma espécie selvagem em seu ambiente natural”, revela João Felipe Herculano, biólogo do projeto.

Os pesquisadores brasileiros acreditam que a descoberta pode levar a estudos sobre novos medicamentos, por exemplo.

Os cientistas explicam que o látex do mamoeiro possui propriedades anti-herbívoria, uma defesa da planta contra lagartas e outros possíveis insetos. Ainda assim, o louva-a-deus alimentou-se dele até esgotar a fonte e, cerca de dez minutos depois, voou.

“Já existem estudos que indicam a capacidade desses insetos de digerir alimentos impalatáveis e até mesmo venenosos, absorvendo os nutrientes e eliminando todas as toxinas em suas fezes”, diz Lanna. “Se de alguma forma o organismo de um louva-a-deus é capaz de processar seu alimento sem contaminar-se com possíveis toxinas, o estudo pode levar a novos fármacos e técnicas para filtragem e digestão”.

Brasileiros fazem registro, inédito no mundo, de louva-a-deus se alimentando de látex do mamão

O louva-a-deus da espécie Stagmatoptera precaria

O incrível mundo do louva-a-deus

No começo do ano passado, contamos aqui sobre outra descoberta do Projeto Mantis, quando foi descrita uma nova espécie de louva-a-deus no no município de Valença (RJ). O nome científico para batizá-la – Vates phoenix -, foi uma homenagem ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, em referência à ave mitológica que renasce das cinzas. O museu tinha sido completamente destruído por um incêndio em 2018.

Há 2.500 espécies de louva-a-deus descritas pela ciência. O Brasil possui a maior diversidade delas, cerca de 250. “Temos 10% da diversidade mundial, a maior do planeta, então há muito ainda a se descobrir sobre eles”, acredita Lanna.

Brasileiros fazem registro, inédito no mundo, de louva-a-deus se alimentando de látex do mamão

Detalhe dos espinhos nas pernas, que ajudam a agarrar as presas

Um fato curioso é a maneira como eles dominam suas presas. O biólogo explica que, em geral os louva-a-deus as capturam usando as pernas dianteiras, que são como pinças cheias de espinhos. Eles as agarram e elas não conseguem mais sair.

“Eles têm mandíbulas super fortes, vão comendo a presa viva mesmo. Mas há muitas estratégias ainda a se descobrir. Como exemplo, ano passado saiu uma publicação de um louva-a-deus peruano, que tem uma espécie semelhante no Brasil, e ele caça usando essas pernas como um arpão, atravessando a presa. Uma estratégia nova que não se conhecia”, conta o pesquisador.

Um louva-a-deus comendo uma barata. Ele morde com a mandíbula e a prende com as pernas dianteiras

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*O Mantis é um projeto de pesquisa, conservação e documentação de vida selvagem em florestas tropicais, tendo o louva-a-deus como símbolo e animal de pesquisa.

Fotos: Leo Lanna/Projeto Mantis

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