Bolsonaro mentiu na ‘Cúpula das Américas’ sobre sua política ambiental, mas “a mentira mais cruel” foi sobre as buscas de Bruno Pereira e Dom Phillips

Bolsonaro mentiu na 'Cúpula das Américas' sobre sua política ambiental, mas "a mentira mais cruel" foi sobre as buscas de Bruno Pereira e Dom Phillips

Não há qualquer novidade em dizer que Bolsonaro mente. Ele faz isso todos os dias, sem nenhum constrangimento. Aqui e também fora do país, quando participa de encontros internacionais. Sua cara de pau não tem limite. Nem sua perversão. 

Foi assim nas assembleias da ONU (em 20192020 e 2021) e na Cúpula de Líderes pelo Clima, em 2020, só pra citar alguns episódios vergonhosos de sua trajetória como presidente. E também nesta semana, em seu discurso na Cúpula das Américas, em Los Angeles, onde chegou em 9 de junho.

Nesse dia, participou da agenda bilateral aberta e de uma reunião reservada com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, da qual saiu dizendo que estava “maravilhado com Biden” e que o encontro “foi muito melhor do que eu esperava”.

No dia seguinte, posou para a foto oficial do evento e deu uma esticada até  Orlando, na Flórida, dando continuidade à sua campanha eleitoral: encontrou evangélicos e liderou mais uma motociata.

Durante o tempo em que o presidente brasileiro esteve em Los Angeles, uma mobilização silenciosa e muito potente transitava pelas ruas da cidade: caminhonetes exibiam telões de LED com frases e imagens que denunciavam seu governo antidemocrático (foto que ilustra este texto: “Democracia ou Bolsonaro”) e o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips na Amazônia.

“O presidente descreveu um outro país e um outro governo”

“Bolsonaro usou um bom tempo de seu discurso fazendo o que melhor sabe fazer na área ambiental: mentir, contou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, que acompanhou a cúpula. Ele fez um ótimo resumo do discurso do presidente – destacando os trechos que causaram mais indignação -, que reproduzo aqui.

Bolsonaro mentiu na 'Cúpula das Américas' sobre sua política ambiental, mas "a mentira mais cruel" foi sobre as buscas de Bruno Pereira e Dom Phillips
Marcio Astrini, do Observatório do Clima / Foto: Divulgação

Bolsonaro disse que cuidava do meio ambiente, enquanto todos sabem que o desmatamento na Amazônia subiu 76% desde o início de seu mandato, assim como cresceram também a destruição do Cerrado, da Mata Atlântica e do Pantanal

Afirmou que 84% da Amazônia está preservada, o que é falso, visto que quase 20% da floresta foi perdida para o corte raso e praticamente o mesmo percentual para a degradação.

Bolsonaro também mentiu ao falar sobre o programa de lixões de seu governo, como já está esclarecido pelo levantamento do Observatório do Clima. E mentiu também quando disse que nenhum país possui lei ambiental tão rigorosa quanto a nossa e sobre defender democracia e liberdades

Ele não só não faz ou fez nada disso, como desmontou todas as estruturas de proteção ambiental, atacou jornalistas, as ONGs (às quais chamou de câncer), demitiu o presidente do INPE, entre inúmeros outros atos que atestam o que é realidade no Brasil desde o início de 2019.

mentira mais cruel que contou foi a de que, desde o primeiro momento, atuou nas buscas do jornalista Dom Phillips e Bruno Araújo. Em nota à imprensa, mais de 30 horas depois do desaparecimento, o Comando Militar da Amazônia declarou que aguardava “acionamento por parte do Escalão Superior”. 

Ninguém esquecerá que Bolsonaro não fez esforços para ampliar as buscas, como classificou de aventura a presença de Dom e Bruno na região. O despacho da Justiça do estado do Amazonas já reconheceu a omissão do governo em agir”.

“Bolsonaro também falou de energia limpa e terminou o discurso assumindo compromissos com petróleo e gás de países latino-americanos.

Em resumo, Bolsonaro fez o de sempre: mentiu

O presidente brasileiro descreveu um outro país e um outro governo, referindo-se à proteção da Amazônia e às buscas ao jornalista e ao indigenista desaparecidos na floresta. 

A impressão é de que o presidente brasileiro investe na estratégia de que, ao repetir uma mentira mil vezes, ela se tornará verdade”.

Foto (destaque): reprodução de vídeo

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.