Biólogo brasileiro recebe prêmio internacional por atuação extraordinária na proteção do tatu-canastra no Pantanal
Gabriel Massocato é apaixonado pela vida selvagem desde criança. Formou-se em biologia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em Dourados, Mato Grosso do Sul, em 2012. E logo se voluntariou no Projeto de Conservação do Tatu-Canastra lançado em 2010 pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).
Desde então, tem se dedicado de corpo e alma à proteção do maior tatu entre as espécies existentes no Brasil, o canastra. E sua dedicação acaba de lhe render um dos mais importantes e cobiçados prêmios Internacionais de conservação, o Future For Nature da Future for Nature Foundation, que apoia jovens conservacionistas comprometidos com a preservação de espécies animais e vegetais no planeta.
A cerimônia aconteceu em 14 de maio, na Holanda, com transmissão ao vivo pelo YouTube. Se você quiser ouvir a apresentação de Gabriel, que dura 13 minutos (em inglês), vá direto para o trecho de 19 minutos (logo a seguir ele é chamado ao palco).
De acordo com Masha Vorontsova, membro do Comitê de Seleção Internacional da FFN, “Gabriel Massocato não é apenas um pesquisador brilhante, mas assumiu um compromisso impressionante: fez um pacto com os tatus-canastra para dedicar sua vida à sua proteção. Aprecio essa dedicação e forte compromisso”.
Ampliação de ações de proteção
Nos últimos dez anos dedicados ao projeto de conservação do tatu-canastra – implantado em diversos biomas da América do Sul –, o biólogo ajudou a conduzir pesquisas de longo prazo no Pantanal, que tornaram possível identificar características e necessidades biológicas e ecológicas da espécie e, ainda, treinar mais de 80 voluntários conservacionistas.
Gabriel também participou da criação do Plano de Ação Nacional do tatu-canastra e da formação de uma brigada de incêndio comunitária, com o objetivo de proteger uma área de 1.500 km2, localizada no Pantanal da Nhecolândia.
Para ele, a premiação “vai possibilitar a ampliação dos nossos esforços para proteger o tatu-canastra, através da criação de Unidades de Conservação, cujo o fim de evitar a extinção iminente da espécie e organizar novas expedições de campo para estudar e monitorar esses animais e o seu habitat”.
E acrescenta: “É necessário continuar estabelecendo parcerias com pesquisadores, proprietários rurais, empresas, comunidades locais e governos em prol da conservação deste e de outros animais impactados direta ou indiretamente pela presença do tatu-canastra”.
Muito além do dinheiro
Desde 2007, anualmente três conservacionistas são contemplados com o prêmio da FFN e cada um recebe 50 mil euros, um troféu, além de treinamento e o acesso a uma plataforma para divulgação de suas histórias com o intuito de torná-los conhecidos de “conservacionistas, financiadores e um público amplo, permitindo que eles aumentem seu impacto e tenham mais acesso a fundos”, destaca a instituição em seu site.
Para Gabriel, além da premiação em dinheiro, a maior conquista com este reconhecimento é celebrar a ciência e a importância mundial concedida a um projeto brasileiro.
Orgulhoso, Arnauld Desbiez, presidente do ICAS e fundador do projeto do tatu-canastra, salienta que “ver alguém que iniciou como voluntário e que, hoje, ocupa a posição de coordenador do projeto no Pantanal é uma imensa alegria. Ele é uma pessoa persistente, que tem a mesma força e o mesmo entusiasmo do primeiro dia de trabalho como voluntário. É uma pessoa que não mede esforços. Tem real paixão e comprometimento com a espécie. Este é o projeto de vida dele. Gabriel se dedica de forma exclusiva a essa espécie maravilhosa”.
E completa: “Gabriel se tornou um grande amigo e um profissional essencial na execução de muitas outras atividades do ICAS e é muito querido e respeitado por toda a equipe. Nós não poderíamos estar mais contentes e honrados com esse merecido reconhecimento”.
Embaixador da biodiversidade
O tatu-canastra é o maior de todas as espécies de tatus e considerado o engenheiro do ecossistema devido as tocas que constrói e que servem de abrigo para muitos outros animais. Tem, portanto, um papel muito importante para o equilíbrio do meio ambiente.
No entanto, está ameaçado de extinção devido à perda de habitat e à fragmentação da natureza, provocadas por incêndios e desmatamento.
“Essa espécie ainda é pouco conhecida pela sociedade e, se nada for feito a curto e médio prazos, ela pode desaparecer das principais áreas naturais do país”, salienta Gabriel.
“Por isso, acredito que através das pesquisas, da conscientização e realizando um trabalho em conjunto com as comunidades locais, podemos unir esforços e buscar soluções inovadoras para a conservação, transformando o tatu-canastra no embaixador da biodiversidade”.
Inspiração
Na edição deste ano, que teve mais de 250 inscritos, além de Gabriel Massocato, duas jovens conservacionistas também foram agraciadas com o prêmio FFN: a britânica Rebecca Cliffe e a indiana Tiasa Adhya.
Tiasa está comprometida em proteger o gato-pescador e seu habitat em zonas úmidas na Ásia. Ela criou uma rede de voluntários e profissionais para ajudar a garantir o futuro dos animais e humanos dependentes desse ecossistema.
Já Rebecca se dedica à proteção das preguiças e seu habitat: uma floresta tropical na Costa Rica. Ela trabalha com as comunidades locais para “entender mais sobre as vidas indescritíveis dessas criaturas lentas e carismáticas”.
Em seus 15 anos de atuação, a organização holandesa FFN já premiou 45 conservacionistas (até 35 anos) de 30 países e distribuiu 2,25 milhões de euros ou R$ 11,8 milhões.
Os criadores do prêmio acreditam que “por meio de sua liderança, esses jovens inspiram e mobilizam comunidades, organizações, governos, investidores e o público em geral”.
Desbiez concorda: “Com este reconhecimento, Gabriel certamente vai inspirar outras pessoas a seguirem a carreira de biólogo de conservação, que não e fácil, mas é muito importante. É uma carreira multidisciplinar que precisa de talentos diferenciados. Espero que este reconhecimento inspire outras pessoas a seguirem o caminho da conservação”.
Vale destacar, ainda, que esta é a segunda vez que o Brasil ganha destaque no prêmio Future for Nature. Em 2019, a bióloga Fernanda Abra, especialista em Ecologia de Estradas, foi reconhecida por seu belo trabalho de proteção à fauna nas rodovias brasileiras (cntamos aqui).
Foto (destaque): Future For Nature/Divulgação
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Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.