Besouro de espécie invasora pode matar mais de 1 milhão de árvores nos Estados Unidos, alertam cientistas

Besouro de espécie invasora pode matar mais de 1 milhão de árvores nos Estados Unidos, alertam cientistas

Foi no começo dos anos 2000 que os primeiros besouros-verdes (Agrilus planipennis) foram registrados nos Estados Unidos e no Canadá. Comum no leste asiático, por lá o inseto não causa problemas. Mas na América do Norte, ele tornou-se uma praga. Já matou milhões de árvores. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a proliferação destes insetos em regiões distantes de seu habitat original se deve ao aquecimento global. Geralmente, eles morrem quando o inverno chega, mas como as temperaturas no Hemisfério Norte estão mais altas, eles conseguem sobreviver ao frio mais ameno.

Com pouco mais de um centímetro, o besouro-verde asiático se alimenta das folhas das árvores. Mas o principal problema está em suas larvas, extremamente tóxicas. Depois do acasalamento, a fêmea deposita seus ovos no tronco. Ao nascerem, as larvas o corroem, sugam todos os nutrientes e matam a planta.

Agora, uma nova análise feita por cientistas americanos e canadenses indica que espécies invasoras podem matar 1,4 milhão de árvores em centros urbanos até 2050. E 90% dessas mortes serão provocadas pelo besouro-verde asiático.

O alerta foi feito em um artigo científico publicado no Journal of Applied Ecology. Uma das principais vítimas dessa destruição em massa seriam os freixos, árvores da mesma família das oliveiras, que podem atingir até 25 metros, e são muito usadas em parques e áreas verdes nas maiores cidades americanas.

Ao juntar dados de 57 espécies de insetos invasores e a população de árvores no país, os pesquisadores estimaram também que os custos do prejuízo causados pelos besouros pode chegar a US$ 900 milhões para fazer a substituição das árvores mortas.

Besouro de espécie invasora pode matar mais de 1 milhão de árvores nos Estados Unidos, alertam cientistas

Nas florestas do Canadá e dos Estados Unidos, a espécie não tem predadores naturais

Os autores do estudo definiram uma zona de alto impacto abrangendo 902.500 km2, em grande parte no sul e centro dos Estados Unidos, dentro da qual prevemos a morte de 98,8% de todos os freixos. As cidades mais afetadas pela mortalidade incluem Milwaukee, Chicago e Nova York.

“Esperamos que esses resultados possam fornecer um alerta contra o plantio de uma única espécie de árvore em cidades inteiras, como foi feito com freixos na América do Norte. O aumento da diversidade de árvores urbanas fornece resiliência contra infestações de pragas. Embora saibamos isso mais intuitivamente para monoculturas, muitas cidades continuam a plantar o que são essencialmente florestas urbanas de monoculturas”, ressalta Emma Hudgins, pesquisadora da McGill University, no Canadá, e autora principal do artigo.

Besouro de espécie invasora pode matar mais de 1 milhão de árvores nos Estados Unidos, alertam cientistas

A larva do besouro-verde se alimentando da seiva da árvore

Besouro do pinho: outra praga que se fortalece com o aquecimento global

Com invernos mais brandos na América do Norte, outro besouro se alastrou pelas florestas de pinheiros das montanhas dos Estados Unidos e Canadá. Natural da região, o besouro do pinho (Dendroctonus ponderosae) é do tamanho de um grão de arroz. Seu ciclo de vida dura geralmente um ano. Quando o inverno rigoroso chegada, até então algo comum no Hemisfério Norte, os besouros morriam com o frio e era registrado o aparecimento de uma nova geração a cada dois anos. Com as mudanças climáticas e as consequentes temperaturas mais amenas, o besouro do pinho consegue sobreviver e até duas gerações têm nascido por ano.

Nas últimas décadas, o Dendroctonus ponderosae, que age como o besouro-verde asiático, matando as árvores por dentro, destruiu milhões de hectares de florestas na América do Norte. E os pinheiros mortos, que continuam de pé, se tornam um perigoso combustível para incêndios.

Outro efeito catastrófico da ação dos besouros é que com a derrubada das árvores, as florestas deixam-se de capturar toneladas de dióxido de carbono (o gás CO2, principal responsável pelo aquecimento global) da atmosfera, um dos mais importantes serviços ambientais prestados pelas árvores ao ser humano.

*Com informações da British Ecological Society

Leia também:
Pica-pau é novo aliado na luta contra besouro invasor no Canadá
“Se encontrar, mate!”, recomendam autoridades sobre nova espécie de inseto invasor nos Estados Unidos
Espécies invasoras causaram US$ 28,6 bilhões de prejuízos por ano no mundo, desde 1970
Encontrado e destruído um ninho da ‘vespa gigante assassina’, espécie invasora da Ásia que chegou aos Estados Unidos

Fotos: Sam Droege, Public domain, via Wikimedia Commons e Pennsylvania Department of Conservation and Natural Resource via Wikimedia Commons (larva)

Deixe uma resposta

Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.