Beija-flores conseguem enxergar um espectro de cores muito maior do que os seres humanos

Beija-flores conseguem enxergar um espectro de cores muito maior do que os seres humanos

Os beija-flores estão entre as aves que mais fascinam os seres humanos. Belíssimos, frágeis e muitíssimo ágeis, eles nos encantam há milênios. E agora, um novo estudo, acaba de revelar que esses pequenos voadores têm outra habilidade notável: conseguem enxergar um espectro de cores muito maior do que nós, os seres humanos.

Em artigo científico divulgado hoje, pesquisadores de cinco universidades e institutos dos Estados Unidos, entre eles, Princeton e Harvard, afirmam que estudos demonstraram que beija-flores selvagens de cauda-larga (Selasphorus platycercus) possuem quatro tipos de cones na retina sensíveis à cor, diferentemente do homem, que só tem três – vermelho, verde e azul.

“Os seres humanos são daltônicos em comparação com pássaros e muitos outros animais”, diz Mary Caswell Stoddard, professora assistente do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Princeton. “Não só o quarto tipo de cone estende a gama de cores visíveis dos pássaros até os UV, como também permite que eles percebam cores combinadas como ultravioleta + verde e ultravioleta + vermelho”, destaca.

Os cientistas estavam especialmente interessados por combinações de cores fora do espectro. No caso dos seres humanos, por exemplo, o roxo é o exemplo mais claro de uma cor desse tipo e a única percebida por nós. Tecnicamente, ela não está no arco-íris: surge quando nossos cones azuis (ondas curtas) e vermelhos (ondas longas) são estimulados, mas não os cones verdes (ondas médias).

O estudo foi realizado no estado do Colorado, sempre no verão, durante três anos. Os pesquisadores treinaram os beija-flores através de vários testes para comprovar que as aves conseguiam visualizar cores fora do espectro. Em um deles, foi colocado ao lado de um bebedouro com água com açúcar, um tubo LED, programado para exibir uma ampla gama de cores, como ultravioleta + verde. Próximo a ele, havia outro bebedouro, sem açúcar.

Com o passar do tempo, o local de ambos foi trocado, mas os pássaros descobriram que aquele com a luz fora do espectro era o com a água açucarada.

“Beija-flores são perfeitos para estudar a visão de cores na natureza. Como adoram açúcar, evoluíram para responder às cores das flores que anunciam uma recompensa pelo néctar”, afirma Stoddard.

“Foi incrível assistir. A luz ultravioleta + verde e a luz verde pareciam idênticas para nós, mas os beija-flores continuavam escolhendo corretamente a luz ultravioleta + verde associada à água açucarada. Nossas experiências nos permitiram dar uma espiada em como o mundo se parece para um beija-flor”, diz Harold Eyster, um dos co-autores do artigo.

Beija-flores conseguem enxergar um espectro de cores muito maior do que os seres humanos

A habilidade de distinguir entre muitas cores é muito importante para a sobrevivência dessas aves. Ela ajuda na busca por alimentos e parceiros e também, na fuga de predadores.

“A tetracromacia – ter quatro tipos de cores no cone ocular – evoluiu nos primeiros vertebrados”, explica Stoddard. “Esse sistema de visão de cores é a norma para pássaros, muitos peixes e répteis, e quase certamente existia em dinossauros. Acreditamos que a capacidade de perceber muitas cores não espectrais não é apenas uma façanha de beija-flores, mas uma característica generalizada da visão de cores dos animais”.

*Com informações da Princeton University

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Fotos: Noah Whiteman, University of California-Berkeley (abertura) e David Inouye, University of Maryland-College Park

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.