Há algum tempo escrevi aqui, no Conexão Planeta, sobre grupos de consumo de produtos orgânicos, pessoas que se unem para comprar direto dos produtores. Eu ainda não tinha experimentado esse sistema e comprava em feiras ou em mercados e sacolões.
As feiras proporcionam contato direto com o produtor, é fato. Mas os grupos de consumo, trazem um passo a mais na relação que eu gostaria de estabelecer com o alimento que como todos os dias: conhecer quem o produz e em que condições produz. Entender as dificuldades da lida no campo daqueles que cultivam 70% do que vai para a nossa mesa. E mais ainda, daqueles que, entre esse grupo, trabalham com produção orgânica.
Passei a integrar um desses grupos de consumo há três semanas, adquirindo alimentos produzidos na zona rural sul do município de São Paulo: o Balaio Orgânico. E essa é mais uma bandeira na qual acredito: comprar dos produtores locais, incentivar a agricultura familiar.
Existem hoje cerca de 312 unidades produtivas só no extremo sul de São Paulo, na abrangência das Áreas de Proteção Capivari-Monos e Bororé-Colônia. É muita gente produzindo, isso sem contar as zonas leste e norte, que também possuem cultivo agrícola. Segundo informações da Prefeitura de São Paulo, vivem na zona rural hoje cerca de 40 mil pessoas, e 84% das famílias recebem até dois salários mínimos.
Na zona rural sul, a escassez de oportunidades de trabalho incentiva a evasão. Embora a agricultura se coloque como uma alternativa sustentável, em especial a agroecológica, não gera recursos suficientes para garantir estabilidade ao produtor. É um grande desafio encontrar estratégias que deem conta desse quadro.
A zona rural do município de São Paulo havia sido extinta no Plano Diretor Estratégico (PDE) de 2002, e só voltou a existir legalmente no PDE de 2014, graças à mobilização de produtores rurais e movimentos em torno da agroecologia e da segurança alimentar. A área ocupa cerca de 25% do município, e era tida como reserva para expansão imobiliária. Em vez disso, com o PDE de 2014 passam a ser incentivados a produção de alimentos orgânicos em pequenas propriedades, ecoturismo e atividades de lazer sustentável.
A simplicidade do Balaio Orgânico
Esta é uma iniciativa do engenheiro ambiental Vinicius Ramos, juntamente com o Sítio Minha Fazenda, das agricultoras Valéria Macoratti e Vania Maria Ferreira, e a Cooperapas. Há quase seis meses as entregas semanais vêm acontecendo em diversas regiões da capital paulista, como Jardim Jabaquara, Moema, Santa Cruz, Vila Mariana, Paraíso, Pinheiros, Pompéia, Lapa.
O sistema é simples. A listagem dos itens disponíveis na semana, e o preço de cada um, é enviada por WhatsApp (11 95570-7183), e para encomendar a cesta da semana basta responder informando quais itens quer comprar. As entregas são feitas todas em um só dia, normalmente às terças-feiras, com os alimentos recém colhidos nas unidades produtivas. Tudo bem fresquinho.
“Trabalhando com orgânicos, precisamos vender para continuar na terra. Foi assim que tivemos a ideia. E está dando certo, estamos ampliando aos poucos as entregas”, diz Vinicius. A estratégia, para compensar o frete de entrega, é que cada um dos consumidores convide os vizinhos para aderirem ao Balaio Orgânico. Assim, o volume das entregas balanceia a conta.
A iniciativa não é a única na região. Há pelo menos outras duas similares que chegaram ao meu conhecimento, que atuam em regiões específicas da cidade – uma delas lá mesmo, na abrangência da zona rural sul, e outra no Brooklin.
O mais incrível desse processo é comprar alimentos produzidos dentro dos limites do município de São Paulo. A minha cesta sempre tem PANCs, as Plantas Alimentícias não Convencionais. As preferidas são peixinho, azedinha, ora pro nobis e shissô. Mas tem também abóbora, alho poro, couve, ervas, cogumelos, quiabo, feijão, dentre muitos outros itens oferecidos semanalmente. E gasto o mesmo, ou às vezes até um pouco menos, do que realizando compra similar em feiras e mercados.
A foto que ilustra essa matéria foi feita por mim, logo que recebi a cesta desta semana.