Ativistas lutam para que após 50 anos em aquário, orca Lolita volte à natureza, junto de sua mãe

Ativistas lutam para após 50 anos em aquário, orca Lolita volte à natureza, junto de sua mãe

Tokitae tinha aproximadamente quatro anos quando ao lado de outras cinco baleias foi arrancada da vida selvagem. A filhote fazia parte de um grupo de cerca de 80 orcas que vivia na região norte da costa dos Estados Unidos, perto do estado de Washington. Usando barcos, explosivos e redes, caçadores separaram os animais mais jovens dos adultos para serem vendidos para aquários. Em 1970 Tokitae chegou ao Miami Seaquarium, na Flórida, onde foi rebatizada com o nome de Lolita e passou os últimos 50 anos no cativeiro, nadando numa piscina minúscula e fazendo shows para turistas.

Daquelas seis baleias caçadas brutalmente no passado, Lolita é a única que sobreviveu. Ela é a segunda orca mais velha do mundo em cativeiro. E embora já tenha 57 anos, ativistas e organizações de proteção ambiental lutam para que ela possa ser devolvida à natureza e reencontre seu grupo novamente, talvez até, sua mãe.

Há várias décadas pesquisadores monitoram os grupos de orcas que vivem no litoral americano e as identificam através de letras e números. Acredita-se que “L25 Ocean Sun”, com aproximados 93 anos, seja a mãe de Lolita. Matriarca de seu grupo, ela ainda é observada na região da Ilha de Whidbey.

Este ano, após o Miami Seaquarium ter sido comprado pelo grupo Dolphin Company, foi anunciado que Lolita estava se aposentando e não faria mais shows. Em 2021, a baleia teria tido graves problemas de saúde e inspeções federais apontaram que seus cuidadores estavam sendo negligentes: a água de seu recinto era suja, não havia proteção contra a exposição ao sol e ela estava sendo alimentada com peixes podres.

Todavia, recentemente foi divulgado o resultado de uma análise realizada por especialistas independentes garantindo que ela estava bem.

Durante os exames da baleia estiveram presentes também representantes da organização Friends of Lolita, fundada em maio pelo empresário, ambientalista e filantropo Pritam Singh, ao lado de pesquisadores em vida marinha, exclusivamente para cuidar do bem-estar dessa famosa orca.

Ativistas lutam para que após 50 anos em aquário, orca Lolita volte à natureza, junto de sua mãe

Registro da captura de Lolita na década de 70
(Imagem: PETA)

A expectativa é que, como a Dolphin Company tem se mostrado mais aberta a “negociações” e afirmado que pretende dar um foco mais educativo ao aquário e em defesa da sustentabilidade nos oceanos, seja possível pensar numa possível volta da baleia à vida selvagem.

Mas sem dúvida nenhuma há muitas dúvidas e temores. O primeiro deles é se Lolita conseguirá sobreviver novamente na natureza após cinco décadas vivendo no cativeiro.

Uma das possibilidades seria levá-la para um santuário, sob a responsabilidade do Whale Sanctuary Project, na Nova Escócia.

“A esperança para muitos de nós é garantir que o bem-estar de Lolita esteja em primeiro lugar, para que possamos determinar com responsabilidade o que é melhor para ela agora e no futuro”, diz Charles Vinick, diretor executivo do projeto.

Ativistas lutam para que após 50 anos em aquário, orca Lolita volte à natureza, junto de sua mãe

Lolita durante um show antes de sua “aposentadoria”
(Foto: Miami Seaquarium)

A organização internacional PETA também faz campanha pela libertação da orca. Ela ressalta que desde 1980 a baleia não tem contato com nenhum outro animal. Naquele ano, seu companheiro de tanque, Hugo, morreu vítima de um aneurisma cerebral, depois de bater repetidamente com a cabeça nas paredes do tanque, um comportamento muitas vezes observado em indivíduos de vida selvagem que são presos.

Segundo o Whale Sanctuary Project ainda existem mais de 3 mil baleias e golfinhos em cativeiro em todo o mundo, incluindo 60 orcas e mais de 300 belugas em parques marinhos e aquários.

Neste link você pode assinar uma petição online pedindo a transferência de Lolita para o santuário:

Quem é a orca?

Entre os leigos, ela é mais conhecida como orca. Já para os biólogos, é a killer whale (baleia assassina, em inglês). A origem deste último nome é baseada na observação de cientistas, que notaram que o animal caça outras baleias.

Apesar de ser chamada de “baleia”, a orca (Orcinus orca) pertence à família dos golfinhos, sendo o maior deles. Como outros cetáceos, ela pode ser identificada individualmente pelas marcas naturais em seu corpo e diferenças no tamanho e formato das nadadeiras.

Os machos geralmente são maiores que as fêmeas. As orcas chegam a medir entre 5 a 9 metros de comprimento e podem pesar até 5.400 kg. Até hoje, o maior macho já achado media 9,8 metros e tinha mais de 9 kg.

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As orcas pertencem à família dos golfinhos
(Foto: domínio público/pixabay)

O ciclo de vida das orcas é muito similar ao dos humanos. As fêmeas atingem a maturidade por volta dos 15 anos (mas os pesquisadores do Center for Whale Research já registraram o nascimento de um filhote de orca de apenas 11 anos). O período de gestação dura entre 15 e 18 meses e em geral, nasce um filhote a cada cinco anos. O indíce de mortalidade é muito alto: entre 37% e 50% deles morrem antes de completar o primeiro ano de vida.

A longevidade das orcas fêmeas é de 50 anos, todavia, muitas delas chegam a viver até os 100, como é o caso da mãe de Lolita.

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Foto de abertura: divulgação Miami Seaquarium

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.