Hoje, Dia da Árvore, um jatobá de seis metros chegou à embaixada da Noruega, em Brasília, de caminhão, na companhia de indígenas. Foi pedir asilo.
Na porta da embaixada, a árvore encontrou em Sonia Guajajara, liderança e coordenadora executiva da APIB – Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros, a perfeita aliada para fazer um apelo contra a devastação da Amazônia.
Destacando que o país nórdico foi o único do mundo que proibiu o desmatamento em seu território, o jatobá e Sonia pediram para que os diplomatas a abrigassem em “seu território”. Eis o texto lido por Sonia:
“Vimos por meio desta clamar por ajuda. Mais do que isso, clamar por socorro. A Noruega foi o primeiro e o único país no mundo a se comprometer com o fim do desmatamento em seu território. 100% das suas florestas estão preservadas. O que, para muitos é utopia, para nós é inspiração. Inspiração para solicitar esse pedido. Um pedido referente a um habitante nascido na Amazônia. Hoje, a Amazônia se tornou uma zona de guerra: 90% do desmatamento é ilegal. Reparem, um número totalmente oposto ao da Noruega. Queremos que este habitante viva e não sobreviva. Este é um pedido de refúgio! Sim, a primeira árvore a realizar esse pedido na história. Mas não é só pra ela. É para cada árvore, é por toda a Amazônia”.
O protesto simbólico organizado pela APIB e pelo Grupo de Trabalho Infraestrutura e Justiça Social (GT-Infra) foi acolhido pela Noruega, que abriu suas portas para o jatobá e permitiu que ele fosse plantado no terreno da representação diplomática.
Sagrada e quase extinta
Originalmente, o jatobá (Hymenaea courbaril) é uma árvore nativa do Brasil, antes facilmente encontrada na Amazônia e, também na Mata Atlântica, no Pantanal e no Cerrado.
Faz tempo que a árvore considerada sagrada pelos indígenas – e que é fundamental para a sobrevivência dos animais e de outros espécies de arvores – está sob dupla ameaça de extinção: além de sofrer com a exploração de madeira durante muitos anos, aquelas que habitam áreas protegidas também sofrem com desmatamentos e queimadas constantes.
A ação, carregada de simbolismo, foi realizada ainda no dia em que Bolsonaro discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU e mentiu sobre tudo que disse – foram cerca de 25 mentiras em 12 minutos!* -, também sobre a Amazônia e os povos indígenas.
O presidente brasileiro defende a exploração econômica e predatória da floresta amazônica – pela mineração, o agronegócio, estradas, hidrelétricas – e não esconde suas intenções. Em Nova York chegou a dizer que esse é o desejo dos indígenas também. E indagou: “Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?” (leia o texto que publicamos sobre o discurso).
Para finalizar, destaco o slogan desta campanha linda: “A primeira árvore refugiada para não ser a última de sua espécie”.
Foto: Divulgação/APIB