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Ararinhas-azuis chegam ao Brasil para início do processo de reintrodução na natureza

Ararinhas-azuis chegam ao Brasil para início do processo de reintrodução na natureza

Finalmente, de volta ao lar: a caatinga baiana! De onde elas nunca deveriam ter sido levadas – roubadas, traficadas. Hoje pela manhã, 52 ararinhas-azuis, chegaram ao aeroporto de Petrolina, em Pernambuco, vindas de Berlim, e de lá seguiram para um centro de reintrodução, construído especialmente para elas, em Curaçá, dentro de uma Unidade de Conservação.

As ararinhas que estão agora na Bahia nasceram em cativeiro na Europa, parte de uma parceria entre o governo brasileiro e a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), na Alemanha, e também, a Pairi Daiza Foundation, na Bélgica.

A viagem de retorno foi longa. Depois de decolar do aeroporto alemão, foram onze horas de voo até aterrissar em solo brasileiro. Durante todo o trajeto, as ararinhas foram acompanhadas de perto por um veterinário. Após o desembarque em Petrolina, elas foram levadas, de carro, por cerca de 1h30, até Curaçá.

Ararinhas-azuis chegam ao Brasil para início do processo de reintrodução na natureza

O processo de soltura das aves na natureza ainda levará algum tempo. Durante as próximas semanas, elas ficarão em quarentena, para garantir que estão saudáveis e não ocorra nenhum risco de transmitirem doenças para as espécies locais, que já vivem na região.

Após essa primeira etapa, as ararinhas serão transferidas para um novo recinto, onde começaram a se adaptar ao clima da caatinga e à alimentação disponível na mata.

A previsão inicial é que só no ano que vem, os primeiros indivíduos sejam reintroduzidos na vida selvagem. Testes para solturas serão feitos, inicialmente, com outra espécie, o papagaio conhecido como Maracanã.

Todos os custos com o projeto de repatriação da ararinha-azul estão sendo pagos pela ACTP. Segundo Martin Guth, seu proprietário, valor da obra da construção do centro de Curaçá foi de US$ 1,4 milhão e anualmente, serão necessários cerca de US$ 180 mil para manter em operação o programa.

Cromwell Purchase, diretor científico e zoológico da associação alemão será o coordenador científico do projeto, juntamente com os biólogos do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade – ICMBio, órgão vinculado ao ministério do Meio Ambiente, responsável pelo Plano de Ação Nacional a Conservação da Ararinha-azul.

A extinção na natureza

Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi vítima do tráfico ilegal de aves e a cobiça de grandes colecionadores europeus. Fascinados pelo sua beleza e azul vibrante, eles não economizaram esforços (e muito dinheiro) para poder ter um exemplar da famosa arara brasileira.

Com isso, a ararinha-azul acabou sendo extinta de seu habitat natural. O último indivíduo voando livre, na natureza, foi observado por volta do ano 2000.

Ararinhas-azuis chegam ao Brasil para início do processo de reintrodução na natureza

Durante as últimas duas décadas, as únicas ararinhas-azuis existentes estavam em cativeiro. Em outubro do ano passado, o ICMBio declarou que eram 177 Cyanopsitta spixii no mundo – 22 em solo brasileiro e as demais na Alemanha (no site do Pairi Daiza Zoo, na Bélgica, há a informação que existem quatro ararinhas no local).

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*Nós, do Conexão Planeta, torcemos muito pelo sucesso de reintrodução da ararinha-azul no Brasil! Mas por uma questão de ética jornalística e coerência com nosso trabalho, não podemos deixar de mencionar que a volta da espécie ao país envolve diversas acusações ao proprietário da ACTP, Martin Guth.

Em 2018, uma denúncia do jornal britânico The Guardian levantou uma série de fatos sobre Guth e Association for the Conservation of Threatened Parrots. De acordo com a reportagem, o alemão, que ficou preso durante 5 anos por crimes de extorsão e sequestro, poderia ter envolvimento com tráfico ilegal de aves.

O Conexão Planeta repercutiu a denúncia no Brasil e fez várias matérias sobre o assunto. Descobriu que muitos biólogos e criadores no país já tinham ouvido falar sobre a má fama de Guth, mas todos relataram medo em denunciar o criador (leia mais aqui).

Há uma petição internacional, que já tem 55 mil assinaturas, que pede uma investigação ao governo alemão sobre o criador de aves ameaçadas. Mas segundo o Bundesamt für Naturschutz (BfN), Agência Federal para a Conservação da Natureza da Alemanha, não há indícios de ilegalidade no trabalho da associação.

Procurado pelo Conexão Planeta, o ministério do Meio Ambiente, ainda sob a gestão de Edson Duarte e atualmente sob o comando de Ricardo Salles, nunca se posicionou sobre as denúncias.

Recentemente, em entrevista por e-mail, Martin Guth disse que sua ficha criminal está limpa e prefere não envolver sua vida pessoal com o projeto das ararinhas.

Entretanto, entidades de conservação internacional, como a Rare Species Conservatory Foundation, dos Estados Unidos, alegam falta de evidências e cooperação científica, além de transparência no trabalho da ACTP, principalmente porque não se sabe a origem do dinheiro que o financia.

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Fotos: reprodução Facebook ACTP/ICMBio

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