Aquele fundo desfocado

aquele fundo desfocado

O ato de fotografar envolve domínio racional da técnica e também um componente emocional, que vem do olhar e das vivências do fotógrafo. A fotografia inclui conceitos matemáticos como abertura do diafragma e velocidade do obturador, somados a questões mais subjetivas, onde o autor da imagem decide como compor a cena para torná-la visualmente mais agradável ou impactante, por exemplo.

Um dos aspectos frequentemente negligenciados pelos iniciantes na arte fotográfica é o fundo da cena, ou seja, aquilo que está atrás do objeto principal que o autor quer mostrar. A emoção de estar diante de uma situação fascinante e efêmera, em ambiente natural, às vezes dificulta nosso raciocínio, não nos permitindo agir a tempo para compor a imagem que desejamos. Assim, frequentemente deixamos escapar algum detalhe, como um fundo que fica “disputando” nossa atenção com o elemento em primeiro plano.

Nesta foto, feita quatro anos antes da minha outra imagem da ariranha debaixo d’água que ficou mais conhecida, eu tive a felicidade e o preparo para conseguir juntar as coisas e fazer uma foto subaquática que foge do habitual.

Devido às características da água, como sua grande densidade quando comparada com o ar, na fotografia subaquática nunca se utiliza lentes tipo teleobjetiva (aqueles famosos “canhões” dos fotógrafos de esportes ou de vida silvestre). Geralmente usamos as chamadas grande angulares, conhecidas por manterem todos os planos da fotografia em foco. Ou seja, é muito difícil desfocar o fundo para destacar o objeto principal quando se usa uma lente deste tipo.

Neste meu encontro com a ariranha, imaginei uma foto que destacasse sua destreza e velocidade dentro do rio. Assim, ao perceber que a oportunidade se aproximava, ajustei a câmera para uma velocidade de obturador relativamente baixa (1/100s) e quando a ariranha nadou rapidamente na minha frente eu acompanhei seu movimento enquanto disparava – uma técnica conhecida como panning.

O resultado – além de mostrar a velocidade do bicho, como eu queria – foi um fundo borrado que o deixou com um aspecto desfocado, destacando a ariranha e conferindo uma característica pouco comum em fotografias deste tipo.

Esta postagem, que abre meu ano de colaborações aqui no Conexão Planeta, é também a primeira que faço após o recente falecimento de Haroldo Palo Jr., grande colega e amigo que muito me influenciou e apoiou a seguir pela carreira da fotografia de natureza. Então, decidi homenageá-lo falando um pouco sobre técnica fotográfica, assunto que não tardava em vir à tona durante nossos longos papos no Pantanal.

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora