Após criação de 11 Unidades de Conservação em Rondônia, Assembleia Legislativa anula decretos

Após criação de 11 Unidades de Conservação em Rondônia, Assembleia Legislativa anula decretos

*Atualizado em 10/07/2018

Absurdo total. O governo de Rondônia publicou no dia 20/03, no Diário Oficial da União, a criação de 11 Unidades de Conservação no estado. São mais de 500 mil hectares de Amazônia protegidos. As novas áreas são formadas por dois parques estaduais, duas estações ecológicas, uma floresta estadual, uma reserva de proteção ambiental e uma de fauna, além de quatro reservas do desenvolvimento sustentável.

As novas UCs são importantíssimas para a conservação da biodiversidade amazônica. Elas abrigam nascentes de rios e uma enorme diversidade de fauna e flora.

Pois a Assembleia Legislativa Estadual quer colocar tudo por água abaixo. Os deputados tentam agora anular os decretos de todas as unidades criadas. De forma unânime, eles votaram pela cassação dos projetos. Segundo os parlamentares, “houve ausência de consultas prévias, obrigatórias para a criação de Unidades de Conservação e foi desconsiderara a presença dos moradores nas novas áreas protegidas”.

De acordo com Denison Trindade, coordenador de Unidades de Conservação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental, em entrevista à publicação O Eco, a alegação dos deputados é falsa. “Nós fizemos todos os estudos e as consultas públicas necessárias. Inclusive, para nos resguardar da pressão contrária que sabíamos que viria, as consultas foram todas gravadas e as gravações estão inseridas no processo de criação de cada uma das UCs”, afirma.

O governador Confúcio Moura anunciou que na semana que vem entrará com uma liminar para suspender a decisão da Assembleia.

Revoltadas com a decisão da Assembleia Legislativa de Rondônia, diversas entidades ambientais do país fizeram uma carta aberta à sociedade. Confira o texto abaixo:

As organizações abaixo-assinadas se manifestam publicamente por meio desta carta contra a decisão inconstitucional da Assembleia Legislativa do estado de Rondônia, que aprovou no dia 27 de março, por unanimidade, 11 Projetos de Decreto Legislativo (PDL) que sustam os decretos do governador Confúcio Moura para criação de 11 Unidades de Conservação (UCs) no estado.

O governo estadual havia publicado os 11 decretos no Diário Oficial da União (DOU), no dia 20 de março, regulamentando a criação de parques e reservas ecológicas de várias categorias. As áreas totalizam cerca de 600 mil hectares em vários municípios rondonienses. Quatro delas receberam apoio do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), programa do governo federal.

As áreas estudadas foram consideradas de enorme interesse ambiental por se tratarem de berçários de rios importantes, grande diversidade de fauna e flora, e áreas com enorme pressão antrópica. As UCs estão em sintonia com o Zoneamento Socioeconômico e Ecológico do estado, aprovado no ano 2000, que desde então previa a vocação ambiental dessas áreas. Importante ressaltar que o estado de Rondônia não cria unidades de conservação há 25 anos.

Consideramos a decisão do legislativo arbitrária e inconstitucional. A desafetação de unidades de conservação depende de lei – e não de decreto legislativo –, elaborada por meio de processo aberto para a participação da sociedade civil e das entidades interessadas e precedida por estudos técnicos que a justifiquem. Nada disso foi observado pelos deputados estaduais de Rondônia. Além disso, a criação dessas UCs respeitou os requisitos legais exigidos, como a realização de consultas públicas, estudos socioambientais e caracterização do bioma e da fauna.

O poder público tem o dever de criar UCs para dar efetividade ao direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Ao extinguir as UCs recém-criadas, a Assembleia Legislativa não cumpriu com o seu dever e violou o direito de todos.

Além dos PDL, que atacam as recém-criadas UCs, a Assembleia Legislativa de Rondônia aprovou também uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que altera a constituição estadual, obrigando a criação de UCs por lei complementar. Com isso, o Poder Executivo Estadual perde a competência de instituir áreas protegidas. Tal fato viola o pacto federativo ao criar uma norma menos protetiva do que a norma que consta do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

 

11 Unidades de Conservação

▪ Área de Proteção Ambiental do Rio Pardo (Porto Velho e Buritis)

▪ Floresta Estadual do Rio Pardo (Porto Velho e Buritis)

▪ Estação Ecológica Umirizal (Porto Velho)

▪ Reserva de Fauna Pau D’óleo (São Francisco do Guaporé)

▪ Parque Estadual Abaitará (Pimenta Bueno)

▪ Parque Estadual Ilha das Flores (Alta Floresta D’Oeste)

▪ Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Machado (Porto Velho)

▪ Reserva de Desenvolvimento Sustentável Limoeiro (São Francisco do Guaporé)

▪ Reserva de Desenvolvimento Sustentável Serra Grande (São Francisco do Guaporé)

▪ Reserva de Desenvolvimento Sustentável Bom Jardim (Porto Velho)

▪ Estação Ecológica Soldado da Borracha (Porto Velho e Cujubim)

Instituições Signatárias

▪ Ação Ecológica Guaporé-Ecoporé

▪ Apremavi – Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida

▪ Coalizão Pró-UCs

▪ CI – Conservação Internacional

▪ Fundação Grupo Boticario de Proteção à Natureza

▪ FVA – Fundação Vitória Amazônica

▪ Greenpeace

▪ Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental

▪ IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil

▪ Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola

▪ IDSM – Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

▪ ISA – Instituto Sociambiental

▪ IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

▪ PSA – Projeto Saúde e Alegria

▪ Rede GTA – Grupo de Trabalho Amazônico

▪ Rede Pró-UC

▪ SOS Amazônia

▪ SOS Mata Atlântica

▪ SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental

▪ TNC – The Nature Conservancy

▪ Uma Gota No Oceano

▪ WWF-Brasil

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*O Tribunal de Justiça de Rondônia derrubou na segunda-feira (09/07) os decretos da Assembleia Legislativa de Rondônia que suspendiam a criação de 11 Unidades de Conservação.

Foto: Flavio Forner/divulgação CI Brasil

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.