
As imagens obtidas por meio de armadilhas fotográficas deixaram biólogos atônitos. Em quatro ocasiões diferentes, jaguatiricas (Leopardus pardalis) e gambás-comuns (Didelphis marsupialis) foram filmados explorando a floresta, lado a lado, na Amazônia peruana. Essa é a primeira vez que se faz um registro da interação entre as duas espécies – sendo que a segunda pode ser uma presa fácil para o felino. Mas nas gravações e fotos, os marsupiais não parecem estar nada estressados ou temerosos dos felinos (confira um desses vídeos ao final da reportagem).
“Essa associação, desconhecida até agora, foi capturada em quatro eventos independentes, por meio de vídeos e fotografias de armadilhas fotográficas tiradas em diferentes momentos e locais, sugerindo um padrão consistente entre diferentes indivíduos”, ressaltam os biólogos que relataram a descoberta em um artigo científico publicado há poucos dias no jornal Ecosphere.
Eles explicam que tanto a jaguatirica quanto o gambá-comum são espécies noturnas e solitárias que compartilham territórios e podem sobrepor dietas; no entanto, as jaguatiricas também podem se alimentar de gambás. “Essa associação intrigante pode surgir porque ambas as espécies podem se beneficiar da presença uma da outra, potencialmente melhorando a eficiência ou a segurança do forrageamento”, afirmam.
Para os autores do artigo, essas associações entre espécies distintas podem reduzir o risco de predação, por exemplo, ou ainda, garantir o compartilhamento de informações ou a aquisição de alimentos. “Estudar essas associações é fundamental para compreender os impulsionadores e mecanismos subjacentes à cooperação não aparentada”, acrescentam.
Entre as possibilidades levantadas no caso dos gambás e das jaguatiricas nas florestas tropicais do Peru estão a camuflagem olfativa ou a melhor eficiência de forrageamento. No primeiro caso – não é necessário lembrar do cheiro horrível dos gambás -, o felino poderia se beneficiar do olfato de seu companheiro para enganar suas presas e caçar e confundir seus predadores. Já o amigo menor, pode aproveitar os restos deixados pelo maior para se satisfazer.
“Nossas observações destacam o quão pouco conhecimento ainda temos sobre o mundo das espécies das florestas tropicais”, destaca Ettore Camerlenghi, pesquisador da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, e principal autor do estudo.
Na natureza, há documentação de relações semelhantes. Coiotes (Canis latrans) e texugos (Taxidea taxus) são conhecidos por caçar cooperativamente.
—————————
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular
Leia também:
Jaguatiricas brasileiras se juntam a primeiro programa de reintrodução da espécie no mundo
Registro raro mostra ataque de jaguatirica a preguiça… Quem terá sido a vencedora?
Fotos de abertura: Fortunato Rayan





Meus gatos também são assim, nem dão bola para os gambás que vem desfrutar da ração.
Trabalho em equipe.
Vingadores da Amazônia.