Amazônia tem aumento de mais de 40% no desmatamento em abril

Amazônia tem aumento de mais de 40% no desmatamento em abril

Semanas após o presidente Jair Bolsonaro afirmar ao mundo, durante a Cúpula do Clima, seu compromisso de “eliminar o desmatamento ilegal” e de dizer que o Brasil precisa de “justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta”, os números vêm comprovar, mais uma vez, a falta de esforços do governo em combater crimes ambientais. Segundo os dados dos alertas de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em abril houve um aumento de 42% no desmatamento da Amazônia, quando comparado ao mesmo mês do ano passado.

Foram registrados 581 km2 de destruição da Floresta Amazônica até o dia 29 de abril, contra 407 km2 em relação ao mesmo período de 2020. O número é um recorde da série histórica do sistema Deter-B do Inpe para este mês.

Os especialistas do instituto ressaltam ainda que 26% da Amazônia estava coberta por nuvens, portanto invisível ao satélite. Por isso, a área de devastação pode ser ainda maior.

A região passa agora pela estação das chuvas, mas logo se iniciará a época da seca, quando a vegetação fica mais suscetível aos incêndios, geralmente provocados por ação humana.

Março deste ano já tinha apresentado também um salto no desmatamento, como noticiamos nesta outra reportagem. A alta de 12,5% observada há dois meses foi a maior taxa para o período desde 2015.

“A Amazônia virou um open bar para grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Esses criminosos não têm nenhum incentivo hoje para reduzir o ritmo da devastação. Estão sentindo que esta é a hora deles. E estão ganhando de presente do governo e do Congresso várias tentativas de eliminar a proteção legal às florestas, como a anistia à grilagem e agora o projeto de lei de licenciamento”.

Astrini se refere, entre outras coisas, à “PL da Grilagem”, um projeto de lei em tramitação no Congresso. Inicialmente uma medida provisória, a então ‘MP da Grilagem’, agora PL 2633, anistia grileiros e desmatadores da Amazônia. Permite que criminosos que roubaram terras públicas até 2018 regularizem seus ‘grilos’. O texto enviado para o Congresso em dezembro de 2019 estende uma anistia dada apenas dois anos antes por Michel Temer à grilagem.

Pelo projeto do então presidente, quem ocupou terra pública ilegalmente até 2011 poderia obter título da terra, ou de graça ou – a depender do tamanho do imóvel – pagando o valor da tabela do Incra, que é muito inferior ao valor de mercado. Bolsonaro estendeu a anistia gratuita até 2014, e a regularização pela tabela do Incra até 2018.

Além disso, o texto amplia de até 400 para 1.500 hectares o tamanho das áreas que podem ser tituladas sem vistoria. E estende para títulos emitidos até outubro de 2019 a possibilidade de renegociação por descumprimento de cláusulas obrigatórias para a manutenção da posse (como não desmatar e não usar trabalho escravo).

Esta semana, em carta aberta, 40 supermercados europeus ameaçaram boicotar os produtos brasileiros se o “PL da Grilagem” for aprovado. “Se esta ou outras medidas que prejudicam as proteções existentes se tornem lei, nós não teremos escolha a não ser reconsiderar nosso apoio e uso da commodity agrícola brasileira em nossas cadeias de mantimentos”, alertaram as empresas.

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Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real/Fotos Públicas

Um comentário em “Amazônia tem aumento de mais de 40% no desmatamento em abril

  • 8 de maio de 2021 em 7:56 AM
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    Quem, ingenuamente, ainda acredita “nele”, dança.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.