Alimento para a alma
O Brasil desperdiça cerca de 30% dos alimentos produzidos. São centenas de toneladas que vão para o lixo sem sequer terem a chance de ser reaproveitadas. É aquela folhagem decorativa que deixamos no prato ou aquelas colheradas de arroz e feijão que são deixadas de lado pra dar espaço pra sobremesa…
De grão em grão, tudo aquilo que dispensamos, desde a escolha do produto, passando pelo preparo e chegando ao consumo, compõe um dos números mais absurdos do planeta. Esse hábito reflete o quão frágil e superficial é a nossa relação com o alimento.
Observando isso, Regina Tchelly, paraibana que mora no Rio de Janeiro desde 2001 e trabalhava como empregada doméstica, percebeu que podia fazer algo para enfrentar esse problema. Circulando pelas feiras livres da cidade, ela se deu conta da quantidade de alimentos descartados e passou a recolhê-los para experimentos e receitas especiais.
Quiche de talo de brócolis, pão de mel de casca de banana e outras boas receitas que deram luz à Favela Orgânica, iniciativa inspiradora desenvolvida nos bairros da Babilônia e do Chapéu Mangueira, e que nasceu do lindo sonho de Regina: ressignificar nossa relação com os alimentos, evitar o desperdício e criar relações responsáveis com o ciclo alimentar.
A ideia genial foi tão bem aceita, que o impacto do Favela Orgânica saiu das comunidades para ganhar o mundo. Regina já palestrou em vários países da Europa e da América Latina, além de já ter sido premiada e reconhecida inúmeras vezes.
Hoje, o Favela oferece oficinas que abordam o ciclo do alimento, consumo consciente, compostagem caseira, horta urbana e ainda oferece capacitação profissional.
Para a Regina, tudo que se faz com amor e pra melhorar a vida das pessoas, sai de dentro da gente pra ganhar o mundo, assim como aconteceu com ela. Mais do que empreendedora social e mulher inspiradora, Regina carrega a alegria de viver e a fé de que o caminho pode até ser duro, mas é rico em aprendizados e celebrações.
A gente é o que a gente come e a Regina nos ensina que não basta só alimentar o corpo. Pra viver bem, temos que alimentar a alma também.
Fotos: Alan Miguel Gonçalves/Divulgação e Arquivo Pessoal
Sonhadora, feminista e apaixonada por pessoas e histórias. Trabalhou por dez anos como advogada e em 2014 deixou o escritório para empreender o Think Twice Brasil, cujo primeiro projeto – Experiência de Empatia – foi uma viagem de 400 dias por 40 países para se aprofundar no aprendizado e identificação de soluções para desigualdade social e de gênero. De volta ao Brasil, está à frente do Instituto Think Twice Brasil e de projetos ligados à justiça social e de gênero.